“Acaso não há bálsamo em Gileard, não há médicos? Por que, então, a saúde da filha de meu povo não foi curada?”. (Jer. 8:22)
1. Essa questão, como aqui proposta pelo Profeta, relaciona-se apenas a um povo particular – os filhos de Israel. Mas eu poderia aqui considerar isso em um sentido geral, com relação a toda a humanidade. Eu poderia seriamente inquirir: “Por que o Cristianismo tem feito tão pouco bem, no mundo? Ele não é o bálsamo, os meios exteriores, que os grandes médicos têm dado aos homens, para restaurar a saúde espiritual deles? Por que, então, ela não é restaurada?” Você diz: “Por causa da corrupção profunda e universal da natureza humana.” Uma grande verdade, mas aqui a mesma dificuldade. Não foi pretendido, por nosso Onisciente e Poderoso Criador ser ela o remédio para a corrupção? O remédio universal para o mal universal? Mas ela não respondeu a essa intenção nunca, e não responde a ela até hoje. O mal ainda permanece, em toda a sua força. Maldade de todo o tipo: vícios, tanto interiores quanto exteriores, em todas as suas formas, ainda se espalham na face da terra.
2. Ó, Senhor Deus, “justo és tu! Deixe-nos, ainda, pleitear contigo”. Como é isso? Tens tu esquecido-te do mundo que tu fizeste e que tu criaste apenas para tua própria glória? Podes tu desprezar o trabalho de tuas próprias mãos, a aquisição pelo sangue de teu Filho? Tu tens dado remédio para curar nossa doença, porém ainda assim nossa doença não é curada. Ainda a escuridão cobre a terra, e escuridão densa as pessoas; sim, escuridão tal como os demônios sentem e que escapam das profundezas do inferno.
3. Que mistério é esse, para que o Cristianismo possa ter feito tão pouco bem no mundo? Pode algum relato disso ser dado? Podem algumas razões ser afirmadas para isso? Parece que uma razão para que ele tenha feito tão pouco bem seja esta: porque ele é pouco conhecido. Certamente ele não poderia ter feito nenhum bem onde ele não é conhecido. Mas ele não é conhecido, até esse dia, pela maior parte dos habitantes da terra? No último século, nosso compatriota engenhoso e laborioso, Brerewood, viajou por grande parte do mundo conhecido, com o propósito de inquirir, tão longe quanto possível, em que proporção, os cristãos suportam os ateus e Maometanos. E, de acordo com seu cálculo (provavelmente, o mais acurado que tenha sido feito), eu suponho que a humanidade possa ser dividida em trinta partes. Dezenove partes dessas são ainda ateus fechados, não tendo mais conhecimento do Cristianismo do que as bestas que perecem. E nós podemos acrescentar, a essas, as numerosas nações, que têm sido descobertas no presente século. Acrescentar, a essas, tais como as que professam a religião Maometana e que rejeitam, extremamente, o Cristianismo. De modo que, cinco partes, da humanidade, fora das seis, são totalmente ignorantes do Cristianismo. É, entretanto, nenhuma surpresa que cinco sextos da humanidade (talvez, nove, em dez) têm nenhuma vantagem dele.
4. Mas por que tão pouca vantagem é derivada do mundo cristão? Não é algum cristão melhor do que os outros homens? Não é melhor do que os ateus e os Maometanos? Para dizer a verdade, ele é igual, se não pior. Pior do que os Maometanos tanto quanto do que os ateus. Em muitos casos é abundantemente pior. Mas então estes não são, propriamente, cristãos. A grande maioria destes, embora use o nome cristão, não sabe o que é o Cristianismo. Não mais entendem dele do que o grego ou hebreu. Dessa forma, não pode ser melhor por isso. O que os cristãos (assim chamados) – da igreja oriental – dispersos, através dos domínios turcos, conhecem do genuíno Cristianismo: Esses da Morea, do Cáucaso, Mongrelia, Geórgia? Não são essas pessoas as próprias escórias da humanidade? E nós não temos razão para pensar que esses da igreja do sul, esses habitantes da Abissínia têm alguma concepção a mais do que eles, da “adoração de Deus, em espírito e verdade”? Vamos olhar aqui perto de casa. Veja as igrejas do nordeste, aquelas que estão sob o patriarca de Moscou. Quão excessivamente pouco eles conhecem do Cristianismo externo ou interno. Quantos milhares, sim, miríades desses pobres selvagens sabem nada do Cristianismo, a não ser o nome! Quão pouco mais eles sabem do que os ateus Tártaros, de um lado, ou os ateus Chineses do outro!
5. Mas não é o Cristianismo, pelo menos, bem conhecido por todos os habitantes do mundo ocidental? A grande parte do qual é, eminentemente, denominada Cristandade ou a terra dos cristãos? Parte desses são ainda membros da igreja de Roma; outra parte é denominada Protestante. Como para os primeiros, Portugueses, Espanhóis, Italianos, Franceses, Germanos, o que grande massa deles conhecem das Escrituras Cristãs? Tendo tido oportunidade freqüente de conversar com muitos desses, em casa ou no exterior, eu tenho a audácia de afirmar que eles são, em geral, totalmente ignorantes, tanto para a teoria como para a prática do Cristianismo, de modo que eles perecem, aos milhares, por “falta de conhecimento” – pela necessidade de conhecerem os primeiros princípios do Cristianismo.
6. “Mas certamente esse não é o caso dos Protestantes na França, Suíça, Alemanha, e Holanda, muito menos na Dinamarca e Suécia”. Realmente, eu espero que nem todos juntos. Eu estou persuadido que existem, entre eles, muitos que conhecem o Cristianismo, mas temo que não devemos pensar que um em dez (ou mesmo um em cinqüenta) é desse número: certamente, não, se nós podemos formar um julgamento sobre eles, por aqueles que nós encontramos na Grã Bretanha e Irlanda. Vamos ver de que maneira situa-se em nossa própria porta. As pessoas na Inglaterra, em geral (não da classe mais alta ou mais baixa, porque esses usualmente conhecem nada do assunto, mas as pessoas de classe média), entendem o Cristianismo? Eles imaginam o que é isso? Eles podem dar um relato inteligente, tanto da parte especulativa, como prática dele? O que eles sabem dos primeiros princípios dele? — Dos atributos naturais e morais de Deus, da sua providência particular, da redenção do homem, dos ofícios divinos de Cristo, das operações do Espírito Santo, da justificação, do novo nascimento, da santificação interior e exterior? Experimente falar alguma dessas coisas às primeiras dez pessoas que estiverem em sua companhia e você não irá encontrar nove delas totalmente ignorante de toda a questão? E não é a maioria dos habitantes da Alta Escócia, inteiramente, tão ignorante, quanto essas (sim, e as pessoas comuns da Irlanda)? (eu digo, os protestantes, dos quais, tão somente, estamos agora falando). Faça uma inquisição justa, não apenas nas choupanas do interior, mas nas cidades de Cork, Waterford, Limerick, até mesmo em Dublin. Quão poucos conhecem o que o Cristianismo significa! Quão pequeno número você irá encontrar, que tem qualquer concepção da analogia da fé! Das algemas das verdades Bíblicas e a relação delas, umas com as outras, ou seja, a corrupção natural do homem, justificação pela fé, o novo nascimento, santidade interior e exterior. Isso deve ser conhecido por todos os juízes competentes, que conversem livremente com seu próximo, nesses reinos; e que uma vasta maioria deles sabe não mais dessas coisas do que eles conhecem de Hebraico ou Árabe. E que bem pode o Cristianismo fazer a esses, que são totalmente ignorantes dele?
7. Embora, em algumas partes, tanto na Inglaterra como na Irlanda, o Cristianismo Bíblico seja bem conhecido; especialmente, em Londres, Bristol, Dublin, e quase todas as mais populosas cidades e regiões de ambos os reinos. Nesses, cada ramo do Cristianismo é declarado, aberta e largamente; e milhares em milhares, continuamente, ouvem e recebem, “a verdade que está em Jesus”. Por que, então, mesmo nessas partes, o Cristianismo tem tido tão pouco efeito? Por que a maioria das pessoas, em todas essas partes, ainda é atéia? Não melhor do que os ateus da África ou América, tanto no seu temperamento quanto na sua vida? Agora, como é isso calculado? Eu concebo assim: Havia uma palavra comum, entre os cristãos, na igreja primitiva: “A alma e o corpo fazem um homem; o espírito e a disciplina fazem um cristão”, implicando que ninguém pode ser um cristão real, sem a ajuda da disciplina cristã. Mas, se for assim, é para se surpreender que nós encontremos tão poucos cristãos. Afinal, onde existe disciplina cristã? Qualquer que seja a doutrina pregada, onde não há disciplina, não pode haver efeito completo, nos ouvintes.
8. Para trazer a matéria mais para perto ainda: não é o Cristianismo Bíblico pregado e geralmente conhecido entre as pessoas comumente chamadas Metodistas? Pessoas imparciais permitem que seja. E elas não têm a disciplina cristã também em todos os ramos essenciais dele, regular e constantemente, exercitada? Deixe aqueles que pensam que alguma parte essencial dela é insuficiente chamarem a atenção para ela, e ela não deverá ser insuficiente por muito tempo. Por que, então, não são cristãos, os que têm tanto a doutrina como a disciplina cristã? Por que não é a saúde espiritual das pessoas, chamadas Metodistas, recuperada? Por que não está toda essa mente em nós, a qual também está em Jesus Cristo? Por que nós não temos aprendido dele nossa primeira lição para sermos mansos e humilde de coração? Para dizer com ele, em todas as circunstâncias da vida: Não como eu desejo, mas como tu desejas? Eu não vim para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade Dele que me enviou. Por que nós não estamos crucificados para o mundo, e o mundo crucificado para nós; mortos para o desejo da carne, o desejo dos olhos, e o orgulho da vida? Por que todos não vivemos a vida que está oculta com Cristo em Deus? Por que nós que temos todas as ajudas possíveis, não caminhamos como Cristo tem caminhado? Ele não nos deixou um exemplo de que nós devemos seguir as suas pisaduras? Mas nós não guardamos tanto seu exemplo, quanto a sua prescrição? Para exemplificar apenas um ponto: Quem considera essas palavras solenes: “Não deite você mesmo tesouros na terra”? Das três regras as quais estão colocadas no título do sermão sobre “O Espírito de Cobiça da Iniqüidade”, você pode encontrar muitos que observam a primeira regra, ou seja, “Ganhe tudo o que puder”. Você pode encontrar poucos que observam a segunda: “Economize tudo o que puder”. Mas quantos você tem encontrado que observam a terceira regra: “Dê tudo o que você puder”? Você tem alguma razão para acreditar que quinhentos desses podem ser encontrados, entre cinqüenta mil Metodistas? E nada, ainda, pode ser mais claro, do que todos aqueles que observam as duas primeiras regras, sem observar a terceira, serão duas vezes mais filhos do inferno do que eles haviam sido antes.
9. Ó, que Deus possa me capacitar, uma vez mais, antes que eu me vá daqui e não seja mais visto, para erguer minha voz como um trompete, para aqueles que ganham e economizam tudo que podem, mas não dão tudo que podem! Vocês são os homens, alguns dos principais homens que continuamente afligem o Espírito Santo e em grande medida interrompem sua influência graciosa de descer em nossas assembléias. Muitos de nossos irmãos, amados de Deus, não têm comida para comer: eles não têm vestimenta para colocar, eles não têm um lugar onde deitar a cabeça. E por que eles estão assim desamparados? Porque você, de maneira impiedosa, injusta e cruel, detém deles o que o seu Senhor hospeda em suas mãos, de propósito, para que você supra as necessidades deles? Veja os membros pobres de Cristo beliscando com fome, resfriando-se com frio, seminus! Enquanto isso, você tem muito dos bens materiais para comer, beber e vestir. Em nome de Deus, o que você está fazendo? Você nem teme a Deus, nem cuida do homem? Porque você não divide o seu pão com o faminto e cobre o nu? Você tem gasto em seu próprio vestuário caro, o que teria respondido ambas essas intenções? Deus mandou você fazer dessa maneira? Ele aprova você por fazer assim? Ele confiou a você os bens dele (não os seus) para essa finalidade? E ele diz agora, “Servo de Deus, bem feito!”. Você bem sabe que não! Essa ineficiente despesa não tem aprovação, tanto de Deus, quanto da sua própria consciência! Mas você diz que não pode dar-se ao luxo disso! Oh! Envergonhe-se de ter tão miserável contra-senso em sua boca! Nunca mais espalhe tal hipocrisia estúpida, tal absurdidade palpável! Pode algum mordomo dar-se ao luxo de ser um patife completo, para gastar os bens de seu Senhor? Pode algum servo dar-se ao luxo de gastar todo o dinheiro de seu Senhor de algum outro modo, do que seu Senhor designou para ele? Quem quer que assim proceda, deve ser excluído de uma sociedade cristã.
10. Mas é possível suprir todos os pobres em nossa Sociedade, com as coisas necessárias à vida? Foi possível, uma vez, fazer isso em uma Sociedade maior do que essa. Na primeira igreja de Jerusalém, não havia alguém, entre eles, que passava necessidade; mas a distribuição era feita para cada um, de acordo com o que precisava. E nós temos provas completas de que é possível se fazer dessa forma. É assim entre o povo chamado Quaker. Sim! Entre os Morávios, assim chamados. E por que não poderia ser conosco? Porque eles são dez vezes mais ricos do que nós? Talvez, cinqüenta vezes! E ainda assim, nós somos capazes, o suficiente, se nós temos, igualmente, boa-vontade para fazer isso! Um cavalheiro (um Metodista) disse-me alguns anos atrás: “Eu devo deixar quarenta mil libras entre meus filhos”. Agora, suponha que ele deixasse para eles vinte mil, e desse os outros vinte mil, para Deus e para o pobre, poderia Deus dizer a ele: “Tu, tolo?”. E isso colocaria toda a Sociedade acima das necessidades.
11. Mas eu não irei falar em dar para Deus ou deixar metade de sua fortuna. Você pensaria que é um preço muito alto para o céu. Eu virei para condições menores. Não existem alguns poucos, entre vocês, que podem dar cem libras, talvez alguns que podem dar mil, e ainda deixar para seus filhos, tanto quanto os auxiliaria trabalhar para a própria salvação deles? Com duas mil libras, ou até muito menos, podemos suprir as necessidades presentes de todos os nossos pobres e colocá-los em um caminho, para que possam suprir as próprias carências para o tempo vindouro. Agora, suponha que isso possa ser assim; nós somos transparentes, diante de Deus, enquanto isso não é feito? Não é a negligência disso uma das causas porque muitos ainda estão doentes e fracos, entre vocês, de alma e corpo? Que eles ainda afligem o Espírito Santo, por preferirem as modas do mundo aos mandamentos de Deus? E eu, muitas vezes, duvido, se não é uma espécie de inclinação. Eu duvido se não é um grande pecado mantê-los em nossa Sociedade. Não pode ferir a alma deles por encorajá-los a perseverar em um caminho, contrário à Bíblia? E não pode, em alguma medida, interceptar as influências salutares do Espírito bendito, em toda a comunidade?
12. Eu estou angustiado por não saber o que fazer. Eu vejo o que eu poderia ter feito uma vez. Eu devia ter dito, em caráter autoritário, e expressamente: “Aqui eu estou. Eu e minha Bíblia. Eu não irei, eu não ousarei mudar desse livro, coisa grande ou pequena. Eu não tenho poder para dispensar um jota ou um til do que esteja contido aqui. Eu estou determinado a ser um Cristão Bíblico; não quase, mas totalmente. Quem for me encontrar nesse terreno, junte-se a mim nisso, ou não se junte, afinal!”. Com respeito ao vestir, em particular, eu poderia ter sido tão firme (e eu agora vejo que eu poderia ter sido bem melhor), quanto qualquer uma das pessoas chamadas Quakers ou Irmãos Morávios. Eu deveria ter dito: “Essa é a nossa maneira de nos vestir, que nós sabemos é bíblica e racional. Se você se juntar a nós, você terá que se vestir como nós, mas você não precisa juntar-se a nós, a menos que isso o agrade”. Mas, ai de mim! O tempo passou, e o que eu poderia fazer agora. Eu não posso dizer!
13. Mas retornando à questão principal. Por que o Cristianismo tem feito tão pouco bem, mesmo entre nós? Entre os Metodistas? Entre eles que ouvem e recebem a completa doutrina cristã, e que têm a disciplina cristã acrescida para isso, nas partes mais essenciais dela? Principalmente, porque nós temos esquecido, ou, pelo menos, não devidamente, atendido àquelas palavras solenes de Nosso Senhor: “Se algum homem buscar a mim, que negue a si mesmo, tome sua cruz diariamente, e siga-me”. Esse foi o comentário de um homem santo, diversos anos atrás: “Nunca houve diante das pessoas, na igreja cristã, quem tivesse tanto do poder de Deus, entre eles, com tão pouca abnegação!”. De fato, o trabalho de Deus segue em frente, e de uma maneira surpreendente, não obstante esse defeito fundamental, mas ele não poderá seguir, da mesma forma, como ele, de outro modo poderia; nem pode a palavra de Deus ter um efeito completo, a menos que os ouvintes “neguem a si mesmos e carreguem a sua cruz diariamente”.
14. Seria fácil mostrar como, em muitos aspectos, os Metodistas em geral estão deploravelmente necessitados da prática da abnegação cristã, da qual, de fato, eles têm sido continuamente amedrontados pelos tolos gritos dos Antinomianos (doutrina de que, pela fé e a graça de Deus anunciadas no Evangelho, os cristãos são libertados não só da lei de Moisés, mas de todo o legalismo e padrões morais de qualquer cultura). Para citar apenas um exemplo: Enquanto nós estávamos em Oxford, a regra de todo Metodista era (a menos, no caso de doença), jejuar toda quarta e sexta-feira, no ano, imitando a igreja primitiva, pela qual eles tinham o maior respeito. Agora, essa prática da igreja primitiva é universalmente aceita. “Quem não sabe”, diz Epiphanius, um escritor antigo, “que os jejuns, no quarto e sexto dia da semana são observados pelos cristãos, através do mundo todo?”. Por isso, eles também eram observados, pelos Metodistas por diversos anos, por todos eles, sem exceção. Mas depois disso, alguns em Londres, levaram isso ao extremo, e jejuaram tanto que prejudicaram a própria saúde. Não muito tempo antes de outros terem feito disso um pretexto para não jejuarem, afinal. E eu temo que existem hoje milhares de Metodistas, assim chamados, na Inglaterra e Irlanda, que, seguindo o mesmo mau exemplo, têm deixado inteiramente de jejuar. Quem, longe de jejuar três vezes na semana (como todos os mais severos fariseus fazem), jejuam não mais do que duas vezes, no mês. Sim. E não há alguns, entre vocês, que não jejuam um dia sequer, do começo ao fim do ano? Mas qual desculpa pode existir para isso? Eu não digo para aqueles que se autodenominam membros da igreja da Inglaterra, mas para alguns que professam acreditar que a Escritura seja a Palavra de Deus. Mesmo porque, de acordo com isso, o homem que nunca jejua não está mais no caminho dos céus do que aquele que nunca ora.
15. Mas pode qualquer um negar que os membros da Igreja da Escócia jejuam, constantemente, particularmente, nas suas ocasiões sacramentais? Em algumas paróquias, eles repetem apenas uma vez ao ano, mas em outras, supõe-se, nas grandes cidades, elas ocorrem duas ou mesmo três vezes ao ano. Agora, é bem sabido que existe sempre um dia de jejum, na semana, precedendo a administração da Ceia do Senhor. Mas, ocasionalmente, verificando um livro de relatos, em uma de suas Assembléias Comunais, eu observei tantos se sentando para os jantares dos Ministros, no dia de jejum, e estou informado que há o mesmo artigo nelas todas. E existe alguma dúvida, a não ser que as pessoas jejuem justamente como seus Ministros fazem? Mas que farsa é esta! Que paródia desprezível em cima de uma evidente obrigação cristã! Ó, que a Assembléia Geral tenha a consideração de honrar a sua nação! Permita que eles rolem para fora dela, essa repreensão vergonhosa, impondo o dever, ou removendo aquele artigo de seus livros. Não permita que ele apareça lá, nunca mais. Deixe desaparecer, para sempre.
16. Mas por que essa abnegação, em geral, é tão pouco praticada, no momento, entre os Metodistas? Por que é tão pouco dela encontrada, mesmo nas Sociedades mais antigas e maiores? Quanto mais eu observo e considero coisas, mais claramente aparece qual é a causa disso, em Londres, em Bristol, em Birmingham, em Manchester, em Leeds, em Dublin, em Cork. Os Metodistas ficaram mais e mais comodistas, porque eles ficaram ricos. Embora muitos deles ainda estejam em miséria deplorável (“não diga isso em Gath, não publique isso nas ruas de Asquelom!”), ainda assim, muitos outros, num espaço de vinte, trinta, quarenta anos, estão vinte, trinta, sim, cem vezes mais ricos do que eles eram, quando eles primeiro entraram na Sociedade. E é uma observação, que admite poucas exceções, que nove em dez desses, decresceram na graça na mesma proporção que eles aumentaram em prosperidade. De fato, de acordo com a tendência natural dos ricos, nós não podíamos esperar que fosse de outro modo.
17. Mas que coisa tão espantosa é essa! Como podemos entender isso? Não parece (e ainda assim, isso não pode ser) que o Cristianismo, Cristianismo, verdadeiramente Bíblico, tem uma tendência, um processo de tempo para debilitar-se e destruir a si mesmo? Porque, onde quer que se espalhe o Cristianismo verdadeiro, isso causa diligência e frugalidade que, num curso natural das coisas, devem gerar ricos! E, ricos, naturalmente, geram orgulho, amor do mundo e todo o temperamento que é destrutivo do Cristianismo. Agora, se não existe um meio de coibir isso, o Cristianismo é inconsistente consigo mesmo, e, em conseqüência, não pode permanecer, não pode continuar muito tempo entre quaisquer pessoas, desde que, onde quer que ele prevaleça, ele mine sua própria fundação.
18. Mas existe um meio de prevenir isso – Para que o Cristianismo continue entre as pessoas? Permitindo que a diligência e a frugalidade produzam pessoas ricas? Existem meios de impedir os ricos de destruírem a religião desses que a têm? Eu vejo apenas uma maneira possível, desmascarar quem puder. Você ganha tudo que pode e economiza tudo que você pode: então você deve, pela natureza das coisas, tornar-se rico. E, se você tem algum desejo de escapar da condenação do inferno, dê tudo que puder; caso contrário, eu não tenho mais esperança na sua salvação, do que aquela de Judas Iscariote.
19. Eu clamo a Deus para registrar em minha alma que eu aconselhei não mais do que eu pratiquei. Abençoado seja Deus, porque eu ganho, economizo e dou tudo que posso. E assim, eu confio em Deus, eu faça, enquanto a respiração de Deus estiver em minhas narinas. Para o que então? Eu conto todas as coisas, mas perco para a excelência do conhecimento de Jesus, meu Senhor! Eu desisto de toda justificativa, comparada com isso — Senhor, eu estou condenado! Mas tu tens morrido!
Notas: Dublin, 02 de Julho de 1789