Ruídos que matam a comunicação

Cada vez mais o profissional precisa contar com a boa qualidade da comunicação para alcançar sucesso em sua carreira. Com frequência sempre maior ele participa de reuniões, de processos de negociação, apresenta projetos, concede entrevistas, abre e fecha seminários e os mais diferentes tipos de eventos.

Fica claro, por isso, que ao crescer na hierarquia da empresa o profissional mais dependerá do seu desempenho para falar em público e menos da sua qualificação técnica. Não estou dizendo que a qualificação técnica não seja importante, mas sim que nas posições mais elevadas o profissional dependerá mais da sua habilidade de se expressar verbalmente.

Entre os problemas graves apresentados na comunicação da maioria dos profissionais aparecem os vícios de toda ordem. Temos os conhecidos “né?”, “ta?”, “ok?”, “certo?” no final das frases; os não menos votados “ããããã”, “ééééé” nas pausas; os desagradáveis “bem, bom, ããããã” no início dos discursos e palestras; o “então” democrático, que não escolhe lugar e aparece em vários pontos das apresentações, do início à conclusão.

Mencionei essa relação só para citar os mais conhecidos. Não seria difícil acrescentar uma boa dezena de outros vícios que atrapalham a comunicação e podem se tornar entraves ao desempenho do profissional e ao desenvolvimento da sua carreira. Assim que surge um novo vício imediatamente se alastra como se fosse epidemia.

Certa vez participei de um evento denominado “Jornada de comunicação”, em Olinda, PE. Eu fiz palestra sobre comunicação oral, pela manhã. Meu amigo Pasquale Cipro Neto tratou da comunicação escrita, no período da tarde.

Durante o almoço Pasquale me chamou a atenção para um fato curioso: Polito, você percebeu que a turma dessa região não usa o gerundismo? Passei a prestar mais atenção nas conversas e fiquei impressionado, ele tinha razão, o gerundismo não havia chegado por aquelas bandas.

Oito meses depois, a AESO, a mesma instituição que havia promovido aquela jornada, me convidou para dar duas aulas inaugurais na Faculdade de Comunicação. Nos dois dias em que perambulei por aquela cidade de sonho pude conviver e conversar um pouco mais com os alunos, não só da faculdade de comunicação, como também de direito e de outras áreas.

Tristeza. A praga do gerundismo já havia contaminado a garotada. O tempo todo eu ouvia: vou estar mandando, vou estar fazendo. Parecia um processo de imitação, como se falar dessa maneira creditava aos estudantes uma espécie de status de “modernidade”.

Embora sinta ser uma luta inglória, não desisto. Durante minhas aulas tenho corrigido os alunos de maneira insistente. Mando bilhetinhos para que observem no teipe com a gravação de suas apresentações essa forma desagradável de comunicação.

Sei que há uma corrente que defende o uso do gerundismo como um processo natural da língua, que é viva e se transforma. Alguns até pedem que se apresente argumentação “científica” para condenar seu uso. E que não vale dizer apenas que é “feio” ou “deselegante”.

Outros acusam àqueles que criticam o gerundismo de preconceituosos. Particularmente não gosto do seu uso. Certo ou errado, fruto ou não de preconceito a chance de você sair prejudicado com seu uso é enorme. Há formas mais adequadas e elegantes de se expressar.

Nos últimos tempos surgiu um novo e irritante vício – o “na verdade”. Preste atenção e constate como muitas pessoas usam o “na verdade” com frequência. Algumas conseguem falar um “na verdade” a cada frase. Como tenho analisado com interesse a evolução desse vício fiquei impressionado com seu rápido crescimento. Uma praga!

Assim como o gerundismo o “na verdade” também poderá se constituir em um ruído e até prejudicar o resultado da comunicação de qualquer profissional e se transformar em obstáculo ao seu desenvolvimento.

Preste atenção em sua maneira de se expressar. Se estiver falando “na verdade” demais, comece a retirar o vício da sua comunicação. Deixe essa expressão apenas para reforçar e redirecionar o sentido da mensagem.

SUPERDICAS

– Elimine o gerundismo da sua comunicação

– Afaste o “né?”, “ta?”, “ok?” e outros vícios no final das frases

– Acabe com o “ããããã”, “ééééé” nas pausas

– Evite o excesso de “então”

Por: Reinaldo Polito

Fonte:UOL Economia

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