Vez que outra meus conhecimentos bíblicos e teológicos estremecem diante do que acontece no meio evangélico. Estremecem porque fico a pensar se estou atrasado no tempo e na revelação. Como sei que não estou atrasado no tempo, preocupo-me se não estou atrasado em termos de revelação. Deixe-me explicar. Nesses últimos 30 anos venho sonhando, almejando e trabalhando por uma nova reforma da igreja, que inclui também uma restauração de ministérios. Como prova desse anelo um de meus livros contribuiu grandemente para a reforma litúrgica de nossos cultos. Editado em 1986 O Ministério de Louvor da Igreja tornou-se um must a todos os dirigentes de culto. A partir de lá recuperamos muito do que havíamos perdido em nosso louvor e adoração!
Também sou um grande entusiasta da reforma ministerial que inclui uma nova visão e apreciação dos ministérios apostólicos para a igreja. Não tenho dúvidas de que os ministérios apostólicos citados em Efésios 4.11 – apóstolos e profetas – são também para os nossos dias e não apenas os de mestre, evangelistas e pastores. Por que aceitamos os ministérios de pastor, mestre e evangelistas e desprezamos os de apóstolos e profetas? No entanto, quando com maior profundidade estudo sobre os ministérios, fico a pensar se não seria melhor deixar esse assunto de lado. Sabe por que? Porque a pouca e difusa luz que temos sobre o assunto gerou um apostolocismo diferente do dos tempos bíblicos, pois, convenhamos, uma coisa era ser apóstolo ou profeta nos dias da igreja do Novo Testamento, outra bem diferente é ser apóstolo ou profeta nesses dias. A megalomania de muitos pastores corrompeu e chafurdou o verdadeiro sentido desses ministérios! E uso a palavra chafurdar no seu sentido mais real possível!
A começar que gostaria de ser um apóstolo como Paulo de Tarso e não como os de hoje! Paulo era apóstolo mesmo. Nunca esteve no governo da igreja. Ele estabelecia líderes, nomeava-os perante a igreja e botava o pé na estrada, ora para fortalecer os irmãos, ora para começar novas comunidades. Os de hoje botam o pé na estrada também – mas para fazer turismo. E quando estão na cidade encostam a espalda em confortáveis cadeiras, cercados por secretárias e assistentes que lhes cumprem as ordens! Posso afirmar que mesmo tendo o título de apóstolos e sendo consagrados ao apostolado, apóstolos que continuam governando a igreja não são apóstolos. O verdadeiro apóstolo não governa, nem fica plantado liderando uma igreja local nem nacional. Até porque o apóstolo foi dado à igreja e não para um determinado grupo apenas!
Paulo não era aceito como apóstolo nem mesmo pelas igrejas que fundou e jamais tentou impor-se como tal. Até pensou em se defender, mas foi sufocado por um espinho na carne que não lhe permitia orgulhar-se diante da grandeza das revelações! Vivia com o suficiente para si e distribuía o que ganhava com os membros de sua equipe; já os apóstolos de hoje…. Seu estilo de vida testifica contra eles!
Gostaria que Paulo deixasse bem claro que apóstolo é o mesmo que enviado.
Ele pelo menos poderia ter dito: “Irmãos, no idioma que falamos, o grego, a palavra para enviado é apóstolo; no latim a palavra é missionário.” Pelo menos Paulo ajudaria os líderes do século XXI a desvestir a pomposidade do nome; ajudaria essa geração a entender o verdadeiro sentido do ministério, eliminando a megalomania que a palavra assumiu nesses dias. Mas um missionário é termo humilde, não é? Missionário passa trabalho, tem que ir a outros países, viver entre as gentes…
Se Paulo soubesse o que iria acontecer no fim dos tempos teria deixado uma série de recomendações aos futuros apóstolos, mas não deixou nem mesmo um versículo bíblico que defina o verdadeiro apóstolo, a não ser por dedução teológica. Jesus foi Apóstolo. Olhe sua vida. Seus discípulos abraçaram o apostolado até as últimas conseqüências, todos eles morrendo pela causa do evangelho, exceto João – para que tivéssemos a última revelação! Paulo defendeu, como muitos hoje, seu apostolado, depois achou que era o menor dos apóstolos, mas pensando bem, descobriu que era pecador, e finalmente definiu-se como o principal dos pecadores!
Tentei enumerar as últimas idiossincrasias de nosso clero brasileiro e, pasmem, não consegui de tantas que são! Acho que nem é uma idiossincrasia porque não se trata aqui de um desvio ou de uma conduta peculiar de um indivíduo, mas de um problema que transcendeu a individualidade e se tornou uma praga clerical. Eu denominaria o que está acontecendo na igreja hoje como má formação espiritual congênita. Síndrome apostólica! Apareceram apóstolos não se sabe de onde! Não há dúvidas de que alguns – especialmente os que não usam o título – o sejam, mas outros…E pior, consagrados por mulheres! Eis a verdade que muitos não querem ouvir! Em vez dos homens líderes escolherem as mulheres que ajudarão no ministério, são elas que definem quem são os verdadeiros apóstolos! Em vez de homens conhecidos como homens de Deus serem vistos impondo as mãos, lá estão elas impondo as mãos sobre eles! É que elas também são apóstolas! Veja bem: nada de machismo aqui, apenas uma reflexão em busca de coerência espiritual!
Um desses apóstolos define a si mesmo como o enviado das nações. Mas cá para nós: esse negócio de apóstolo está ficando desgastado e, convenhamos, como o título apóstolo ficou pequeno diante de tanto apostolicismo, esses dias li a carta de um homem que defendia seu novo título: Patriarca! Não. Ele não estava brincando. Esse desconhecido que pastoreia em algum lugar do país se considera um patriarca da Igreja! E assinou a carta como Patriarca fulano de tal!
Que Deus tenha misericórdia de nós e que Jesus volte logo! Senão…