Irmãos, por diversas vezes lhes falei sobre a conquista de almas – o ofício mais nobre de todos. Oxalá vocês todos se tornem, neste sentido, poderosos caçadores diante do Senhor, levando muitos pecadores ao Salvador! Desta vez quero dizer-lhes algumas palavras sobre os obstáculos existentes em nosso caminho quando procuramos ganhar almas para Cristo.
São muitos. Não posso nem tentar classificá-los por completo, contudo o primeiro e o mais difícil deles é, sem dúvida, a indiferença e a inércia moral dos pecadores. Nem todos os homens são igualmente apáticos. Na verdade, existem pessoas que parecem ter uma espécie de instinto religioso que as influencia para o bem, muito tempo antes de terem algum amor para com as coisas espirituais. Mas há áreas, principalmente áreas rurais, onde prevalece a indiferença. E o mesmo estado de coisas existe em várias partes de Londres. Não se trata de incredulidade; é que o povo ali vive tão despreocupado da religião, que nem chega a opor-se a ela. Não se preocupa com o que pregamos, nem com o lugar onde pregamos, porquanto não tem o menor interesse pela questão. Não pensa em Deus nem se ocupa de nada concernente a Ele nem a Seu serviço. Usa o nome de Deus somente de modo profano. Já observei muitas vezes que todo lugar em que as pessoas têm pouco que fazer é ruim para o esforço reliogioso. Entre os nativos da Jamaica, sempre que escasseava o trabalho, havia pouca prosperidade nas igrejas. Posso indicar áreas que não ficam longe daqui, onde há estagnação na esfera do trabalho. E ali poderão verificar que pouco bem se faz. Ao longo do vale do Tâmisa há lugares em que um homem poderia pregar até pôr os bofes de fora, e até se matar, no entanto nessas regiões se faz pouco ou nenhum bem, posto que as atividades comerciais e industriais são quase inexistentes.
Agora, caro imão, toda vez que você deparar com a indiferença onde pregar – quer seja a indiferença afetando o seu rebanho, quer parecendo influir até nos líderes da sua igreja – que deverá fazer? Bem, a única esperança de sobrepujá-la é dobrar o seu próprio fervor. Seja o seu zelo sempre vívido, veemente, ardente, clamejante, consumidor! Desperte a igreja de algum modo. E se todo o seu empenho ardoroso parecer vão, continue a chamejar e a arder. E se isso não produzir efeito em seus ouvintes, parta para outro lugar, seguindo a direção do Senhor. É bem provável que essa indiferença ou apatia exerça má influência sobre a nossa pregação. Mas temos que reagir e pelejar contra ela, procurando despertar-nos, como também os ouvintes. Prefiro enfrentar um ardente e ativo adversário do evangelho a enfrentar alguém negligente ou apático. Não podemos fazer muito com a pessoa que não quer falar de religião, nem quer ouvir o que temos para dizer-lhe sobre as coisas de Deus. Seria melhor lidar com um incrédulo declarado, mesmo que fosse um verdadeiro leviatã recoberto de escamas de blasfêmia, do que com um simples verme da terra que se esquiva, fugindo do nosso alcance.
Outro enorme obstáculo à tarefa de ganhar almas é a incredulidade. Vocês sabem o que está escrito sobre o Senhor Jesus, que “chegando à sua terra…não fez ali muitas maravilhas, por causa da incredulidade deles”. Este mal existe no coração de todos os não-regenerados, mas em alguns assume forma por demais pronunciada. Eles pensam em religião, mas não crêem na verdade de Deus que lhes proclamamos. Consideram de maior peso e mais digna de crédito a sua própria opinião do que as declaração inspiradas de Deus. Não aceitam nada do que está revelado nas Escrituras. É difícil persuadir essas pessoas. Advirto-os, porém, a que não as combatam com as armas delas. Não creio que os incrédulos possam ser conquistados por meio de argumentos; ou, se acontece, isso é raro.
O argumento que convence os homens da veracidade da religião é aquele que eles deduzem da santidade e do fervor dos que se professam seguidores de Cristo. Geralmente levantam barricadas em sua mente contra os assaltos da razão. E se usarmos o púlpito para discutir com eles, freqüentemente estaremos fazendo mais mal do que bem. Com toda a probabilidade, uma diminuta parte do nosso auditório compreenderá aquilo de qeu estivermos falando. E conquanto estejamos tentando fazer-lhes bem, o mais provável é que estejamos ensinando incredulidade a outros que nada sabem dessas coisas, e o primeiro conhecimento que estes obtêm de certas heresias chega-lhes vindo dos nossos lábios. É possível que nossa refutação do erro não seja bem feita, e a mente de muitos jovens poderá ficar tingida de descrença mediante a nossa tentativa de denunciá-lo. Creio que vocês derrotarão a descrença com sua fé, antes que com a razão. Mediante sua fé e um procedimento coerente com a sua convicção da verdade, vocês conseguirão mais do que através de qualquer argumentação, por mais poderosa que seja.
Tenho um amigo que me vem ouvir praticamente todos os domingos. Um dia me disse: “Sabe de uma coisa? Você é o único que me liga às realidade superiores, mas o considero um homem terrível, pois não tem a menor simpatia por mim”. Respondi: “Não, de fato não tenho. Ou melhor, não tenho a menor simpatia por sua incredulidade”. “Isto me leva a apegar-me a você”, disse ele, “pois temo que continuarei sendo sempre o que sou. Mas quando vejo sua fé serena, e percebo como Deus o abençoa pelo exercício dessa fé, e sei quanto consegue realizar pelo poder dela, digo a mim mesmo: “João, você é tolo”. Disse-lhe: “Está bem certa essa sua opinião. E quanto mais depressa passe a pensar como eu, melhor. Porque não há maior tolo do que aquele que não crê em Deus”. Um dia destes espero vê-lo convertido. Há uma batalha contínua entre nós, mas nunca respondo aos seus argumentos. Uma vez lhe disse: “Se me acha mentiroso, tem liberdade de pensar assim, se quiser. Mas testifico o que conheço, e afirmo o que tenho visto, provado, apalpado e sentido. Você devia acreditar-me, pois enganá-lo não me dá lucro nenhum”. Eu teria sido derrotado por esse homem há muito tempo, se o tivesse alvejado com as bolinhas de papel da razão. Portanto, aconselho-os a combaterem a incredulidade com a fé, a falsidade com a verdade, jamais cortando e desbastando o evangelho na tentativa de encaixá-lo nas tolices e fantasias dos homens.
Fonte: Extraído de “O Conquistador de Almas“, de Charles H. Spurgeon, Editora PES.