Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Efésios 2:8)
A maioria dos homens tenta colocar Deus numa posição de débito com relação a sua salvação. Eles trabalham para serem salvos, ao invés de trabalharem por serem salvos. Eles vão “procurando estabelecer a sua própria justiça” (Rm. 10:3). Deste modo, pessoas mundanas procuram vida eterna – “Que faremos para realizar as obras de Deus?” (Jo. 6:28). Embora em palavras renunciem toda pretensão de quaisquer méritos neles mesmos ou em suas obras, eles acalentam uma esperança secreta de serem recomendados a Deus por sua decência, sobriedade e desempenho religioso. Deste modo, aqueles que têm uma pequena preocupação com suas almas, como o jovem rico, buscam a vida eterna – “Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna?” (Mt. 19:16). Seu maior desejo era parecer justo diante de Deus. Assim também, aqueles que experimentam uma inquietação mais profunda, freqüentemente vagueiam buscando perdão e paz. Talvez haja traços deste sentimento na pergunta ansiosa do pobre carcereiro – “Senhores, que devo fazer para que seja salvo?” (At. 16:30); e no grito lancinante do prostrado Saulo – “Senhor, que queres que eu faça?” (At.9:6). Certamente esta justiça própria é o pior e mais duradouro veneno do coração humano. A maioria dos homens, debaixo de convicção, se mostra relutante em abandonar a confiança que depositam em si mesmos. Eles não estão dispostos a tirar suas esperanças das suas “boas” obras. Eles se assustam com a idéia de estarem perdidos, a despeito de qualquer coisa que façam. Eles não gostam do perigo de jazer sem socorro e sem justificativa, aos pés da soberania de Deus. Quão solene estas palavras deveriam ser, para um pecador neste estado “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”.
1- SALVAÇÃO É PELA GRAÇA:
Quando um homem escolhe uma maçã de uma árvore, ele geralmente escolhe a mais madura, a que parece ser melhor. Não é assim que Deus age na escolha das almas que Ele salva. Ele não salva aqueles que menos pecaram ou aqueles que estão mais dispostos a serem salvos; Ele freqüentemente escolhe os mais vis dentre os homens “para o louvor e glória da Sua graça” (Ef. 1:6). Isto é provado pelos exemplos dados na Bíblia. Por que Deus escolheu Manassés, que “queimou a seus filhos”, “pôs imagem de escultura na casa de Deus” e encheu Jerusalém com o sangue de homens santos, enquanto muitos do seu povo iludido, que pecaram muito menos, pereceram? (2 Cr.33). Por que Deus salvou Zaqueu “maioral dos publicanos”? (Lc.19:110). Por que Jesus disse aos fariseus, “os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus.” (Mt. 21:31)? Por que Jesus entrou nos portões perolados do paraíso com um pobre ladrão, que nunca tinha feito nada a não ser pecar, até seu último momento? (Lc.23:43 e Mt. 27:44). Por que Ele deixou o outro ladrão, que não era pior do que seu companheiro (ambos merecedores do inferno), cair em perdição, estando ao alcance dos braços do Salvador Todo-Poderoso? Todas estas coisas aconteceram a eles como exemplos, para nos mostrar que Deus salva de acordo com a Sua boa vontade, não por nossas “boas” obras, mas para mostrar sua adorável e livre graça.
A mesma coisa se prova pela experiência de todo filho de Deus. Somente aqueles que “provaram que o Senhor é gracioso”, não sentem objeção no seu coração à declaração de um simples crente – “Se Deus não tivesse me escolhido antes de eu ter nascido, Ele nunca teria visto motivo para me escolher depois, pois não há nada em mim que atraia o amor de Deus”. “Eis que até a lua não resplandece, e as estrelas não são puras aos Seus olhos. E quanto menos o homem, que é um verme, e o filho do homem, que é um vermezinho!” (Jó 25:5-6). Ele ama o que é puro, santo e perfeito; “mas eu sou carnal, vendido sob o pecado” (Rm 7:14). Tudo o que há em mim contribui para afastar a Deus. “Um Deus que se ira todos os dias contra o mau.” (Sl 7:11). Ele estava irado comigo. A Sua natureza me causava aversão, pois eu estava debaixo do pecado de Adão. Fui formado em iniqüidade; cada membro do meu corpo, cada faculdade da minha alma, era servo do pecado. Apesar disto, Ele veio sobre todas estas montanhas para minha alma. Eu disse, “Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mt 8:29). Eu não desejava conhecer Seus caminhos, mas Ele me fez desejar o dia do Seu poder. Glória, glória, glória ao Pai que me escolheu, ao Filho que morreu por mim e ao Espírito que me vivificou! A salvação é do Senhor e é totalmente por Sua graça.
2- SALVAÇAO É POR MEIO DA FE:
Quando David Brainerd estava sob convicção de pecado, a corrupção, existente no seu coração foi terrivelmente incomodada pelo fato de que a única condição para a salvação era a fé.
Deste mesmo texto, ele costumava falar – “Este é um duro discurso, quem pode suportá-lo?” Outra coisa que o mantinha na miséria era que – “eu não descobria o que era fé, ou o que era crer e vir a Cristo. Eu lia os chamados de Cristo aos cansados e sobrecarregados, mas não podia achar o caminho pelo qual eles são dirigidos a Ele”. Esta é uma dificuldade que a maioria dos pecadores inquiridores, sente. É provável que satanás use isto, freqüentemente, como um dardo inflamado, para manter pobres pecadores longe de Cristo. O único modo de saber o que é a fé é experimentando-a. Em uma parte da Palavra, ela é descrita como “conhecimento”: “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” (Jo. 17:3). Um verdadeiro conhecimento de Deus e de Cristo como Seu enviado, é fé salvadora. Eu tenho este conhecimento, ó minha alma? Eu nasci como um potro selvagem. Deus não estava em meus pensamentos. Não queria retê-Lo no meu entendimento. Mas Deus se agradou em revelar Seu Filho em mim. Carne e sangue não podiam revelá-Lo para mim, a não ser meu Pai que está no céu. Ele me abriu o caminho para salvação, de maneira que eu vi sua sabedoria, excelência e libertação; eu nada podia fazer, a não ser crer, e esta humilde confiança, é aquela fé que é dom de Deus.
Em outra parte das Escrituras, a fé é descrita como descoberta da beleza e excelência de Cristo: “Naquele dia o renovo do SENHOR será cheio de beleza e de glória; e o fruto da terra excelente e formoso para os que escaparem de Israel.” (Is. 4:2). Uma descoberta real da glória do Senhor Jesus Cristo na alma, de forma correta e libertadora, é fé salvadora. O homem natural sabe o que é chegar a conhecer um semblante bonito, e o coração natural imediatamente arder em admiração. Ninguém, a não ser os crentes, sabem o que e descobrir a bonita face de Cristo que é “mais formoso do que os filhos dos homens” (Sl. 45:2), e ter o coração suprido com a alegria e a paz em crer. Já fiz esta descoberta? Eu posso dizer “Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso” (1Pe. 1:8)? Outrora não via nenhuma beleza em Jesus que me fizesse desejá-lo. Mas Ele saltou montanhas e montes. Ficou ao lado de nossa parede, olhou para dentro pela janela, se mostrou através da grade. Mostrou-me Suas mãos e Seus pés perfurados por pecadores. Mostrou-me que existe lugar sob Sua justiça. Mostrou Seu coração, que é o mesmo ontem, hoje e para sempre; e agora, eu só posso dizer que Ele é para mim belo e glorioso, excelente e gracioso. Se existisse dez mil maneiras diferentes de perdão, eu as ignoraria e correria para Ele. Ele é completamente gracioso. Isto, eu acredito, é fé salvadora, a qual é dom de Deus.
“Graça maravilhosa! (quão doce o som!)
Que salvou um miserável como eu.
Estava perdido, mas agora fui achado
Estava cego, mas agora vejo.
Foi graça que ensinou meu coração a temer,
E graça trouxe alívio aos meus medos;
Quão preciosa àquela graça pareceu
Na hora em que cri!
Através de muitos perigos, armadilhas e ciladas,
Eu finalmente vim;
Esta graça me trouxe em segurança até aqui
E me conduzirá ao lar”.