E começaram a rogar-lhe que saísse dos seus termos. E, entrando ele no barco, rogava-lhe o que fora endemoninhado que o deixasse estar com ele – Marcos 5:17-18.
Hoje quero chamar sua atenção para esses dois versículos porque eles parecem resumir em si a humanidade toda, e indicam as duas únicas categorias em que é possível dividir a raça humana. Todos nós pertencemos a um desses dois grupos. Ou queremos nos livrar de Cristo, ou então queremos estar com Ele, entregando-Lhe inteiramente a nossa vida. Não existe uma terceira alternativa. Ou somos a favor Dele, ou contra Ele. Mas a natureza humana é tão enganadora que estamos sempre tentando evitar essa divisão básica, e tentando persuadir-nos que há inúmeras outras categorias. Sentimos que essa separação distinta revelada nesta passagem entre a atitude dos gadarenos em geral e a deste homem em particular é muito extremada, e portanto não se ajusta à média. Lemos que essas pessoas “começaram a rogar-lhe que saísse dos seus termos” ou, como Lucas o expressa, “a multidão… rogou-lhe que se retirasse deles”, que partisse, e temos a tendência de nos proteger atrás desses termos extremados. Eles quase sugerem violência, e sentimos que, qualquer que seja a nossa atitude, nem nos piores momentos temos rogado que Cristo se retirasse. Todavia, todo o ensino do evangelho deixa claro que estamos em um desses dois grupos. Em última análise, o que importa não são os meios ou métodos que adotamos, nem se somos violentos ou não, mas a condição do nosso coração. Resistência sempre é resistência, quer seja passiva ou ativa. Recusar honra a uma pessoa é o mesmo que desonrá-la. Um homem ataca com veemência e vituperação, mas aquele que simplesmente escarnece e zomba com desdém muitas vezes é um inimigo muito mais perigoso. Não é a forma ou expressão que importa, mas a condição e os motivos do coração. E minha convicção é que, considerado tudo, existem apenas dois motivos, duas atitudes em relação a Cristo e à salvação. Ou suplicamos que Ele Se vá, ou então rogamos que nos permita ir com Ele.
É porque falhamos em reconhecer isso hoje em dia que temos toda a confusão atual dentro e fora da Igreja. Insistimos em julgar os outros e a nós mesmos na base de uma infinidade de padrões pecados, boas obras, palavras, etc. Essas são nossas categorias. Falamos de pessoas como sendo respeitáveis ou não, ou falamos delas em termos de certos pecados em particular e a maneira como são cometidos, e assim confundindo a questão e fazendo um julgamento superficial. Essa sempre foi a tendência da humanidade, e sempre foi o maior inimigo que o evangelho teve que enfrentar. A essência do ensino do evangelho é que, em última análise, nada importa além da nossa atitude para com Cristo e a salvação que Ele nos trouxe de Deus. É por isso que ele é realmente o evangelho da graça de Deus. E é por isso que todos que verdadeiramente crêem nele devem ser gratos por toda a eternidade. O que me salva é que eu sou julgado por esse padrão. Se eu fosse julgado por meus próprios padrões de moralidade e comportamento, seria inevitavelmente condenado sem qualquer esperança ou recurso. Se eu fosse julgado pelas vidas dos santos, minhas chances de salvação seriam praticamente nulas. Se eu fosse julgado pela vida perfeita, revelada e vivida por Jesus Cristo de Nazaré, então estaria perdido. Mas, pela eterna graça de Deus, esse não é mais o teste. A questão agora é: O que eu faço com Ele? Qual é minha atitude para com Ele? Qual é minha atitude para com a salvação que Ele me oferece? Pela graça de Deus eu já não tenho que responder a pergunta: “Você é perfeito?” para ser condenado de uma vez devido à minha imperfeição. Em Cristo, a pergunta agora é: “Você gostaria de ser perfeito? Anseia ser bom e puro e nobre?”
É aqui que muita gente boa se desvia, e é por isso que hoje quero chamar sua atenção para este conhecido incidente. Ele revela o novo teste de diferenciação introduzido pelo evangelho. O homem que foi liberto dos demônios não se tornou perfeito imediatamente. Na verdade, lemos que Cristo precisou corrigi-lo de certa forma, quanto a isso, e mostrar o que era certo. Oh, não! Ele não era perfeito! Não era isso que o diferenciava dos seus companheiros. O que era, então? Apenas isto: ele desejava estar com Cristo, ao passo que os demais queriam se livrar Dele! Em nenhum lugar do Novo Testamento o cristão é apresentado como alguém absolutamente perfeito e sem pecado. Cristão perfeito essa é uma acusação falsa, levantada contra nós pelo mundo. O cristão é alguém que anseia ser perfeito e sem pecado, e se esforça para isso. Ainda que muitas vezes ele falhe e caia, e se sinta desanimado e abatido, ainda assim ele continua esperando, lutando e se esforçando em direção ao alvo. Como eu disse, pela graça de Deus não somos julgados na base do que somos, mas na base do que esperamos ser daquilo que gostaríamos de ser! É tudo uma questão de motivação, de disposição fundamental. E, nesse nível, como eu já disse várias vezes, há somente duas posições possíveis. E é preciso que isso fique perfeitamente claro. Respeitabilidade, ou falta dela, não faz qualquer diferença aqui, cultura ou falta dela não tem influência neste ponto, pecados, evidentes ou secretos, são idênticos nesse nível, indiferença ou hostilidade ativa surgem como gêmeas, filhas dos mesmos pais aqui. Meu amigo, a questão é: qual é sua ambição? Você anseia ser santo? Quer conhecer a Deus e ser reconciliado com Ele? Nada mais que você faça tem qualquer importância. A única coisa que importa é: o que você sente a respeito de Cristo? Quer se livrar Dele, ou deseja estar com Ele? Porque, tão certo como você e eu estamos aqui, não há outra alternativa! Qual é sua posição? Seja sincero! Examine-se a si mesmo! Certifique-se quanto à sua posição nesta hora, com o auxilio do Espírito Santo, que está aqui para nos ajudar. Seu destino eterno pode depender disso.
Gostaria de ajudar a todos, indicando alguns dos meios pelos quais os homens mostram claramente que seu desejo é que Cristo Se retire que eles realmente querem se livrar Dele. As promessas de Cristo durante Sua vida e ministério terreno provam conclusivamente que Ele está aqui conosco hoje, neste prédio como sempre está presente em tais ocasiões. Mais do que isso com que freqüência elas tem sido comprovadas na história subseqüente da Igreja cristã! Não preciso me prolongar nisso todos estamos conscientes desse fato. Sua presença também em ocasiões de doença, aflição e provações, todos temos que reconhecer. Ninguém pode sustentar, por um momento sequer, a declaração de que nunca teve a oportunidade de aceitá-Lo ou rejeitá-Lo. Não podemos vê-Lo com os olhos da carne, como aquelas pessoas há dois mil anos atrás; mas “ainda que invisível, Ele está sempre presente”. Ele nos apresenta Suas propostas, uma a uma. O convite é para “quem quiser”. Oh, sim! Todos já sentimos a Sua presença! Mas que fizemos com Ele? Receio que muitos tenham feito o possível para se livrarem Dele, como as pessoas deste texto, rogando que Ele Se retirasse. Como fizeram isso? Aqui estão algumas das formas.
Talvez tenham deliberadamente se retraído, apagando o Espírito, durante um culto ou uma reunião. Um certo domingo, talvez sentados numa igreja, ouvindo o sermão, ou talvez em algum outro ponto do culto, eles se sentiram perturbados e comovidos. Algo os estava guiando e tocando. Sentiram “uma presença” e sabiam que Deus estava tratando com eles. Compreenderam que estavam sendo sensibilizados e enternecidos, que estavam ao ponto de perder o controle sobre si mesmos e fazer uma entrega. Já sentiam uma sensação parcial de liberdade e regozijo, mas, temendo que acabariam fazendo um escândalo ou se tornando objetos de zombaria, deliberadamente resistiram e tentaram se livrar daquela influência. E foram bem sucedidos. Em quê? Em afastarem Cristo!
Ou talvez sua experiência não tenha chegado a esse ponto, mas tiveram uma experiência, e souberam que Deus estava tratando com eles. Todavia, em vez de ansiarem e esperarem pelo próximo domingo, para correrem à casa de Deus, eles deliberadamente se mantiveram longe, ficando em casa. “Ah”! Disseram, “se eu voltar lá, certamente me converterei.” E permaneceram longe. Por quê? Porque não queriam ser convertidos. Em outras palavras, fizeram o possível para se livrarem de Cristo.
Outro modo de fazer a mesma coisa é ignorar a voz da consciência e continuar deliberadamente fazendo as coisas contra as quais a voz de Deus em seu espírito os está advertindo. Pode ser um tipo de entretenimento ou prazer, ou pode ser um livro que tem o propósito específico de tentar ridicularizar a Bíblia e abalar a sua influência; ou pode ser feito através de sua contínua associação com pessoas cuja influência você sabe ser prejudicial e maléfica. Qualquer que seja a forma pela qual estamos desobedecendo a voz da nossa consciência, estamos simplesmente tentando nos livrar de Cristo.
Outra forma preferida é a de nos ocuparmos de tal maneira com outras coisas que não temos tempo para meditação ou reflexão. Tentamos excluir Cristo da nossa vida, ocupando-a com outras coisas trabalho, negócios, família, amigos qualquer coisa exceto Cristo. Mas não preciso entrar em detalhes. Todos estamos familiarizados com isso. Os pobres gadarenos o fizeram com Cristo nos dias da Sua humilhação. Nós o fazemos com Cristo em Sua exaltação! Eles rogaram que Jesus de Nazaré Se retirasse; nós excluímos da nossa vida o Senhor da glória! O que pode ser responsável por tal loucura? Considerando o que foi responsável por isso no caso deles, descobriremos as causas de nosso próprio caso. E depois de tratar disso, passaremos à tarefa mais agradável de mostrar o que, exatamente, levou esse endemoninhado que havia sido liberto a querer ir com Jesus.
Qual era o problema desses gadarenos?
A primeira coisa que é revelada com muita clareza nos relatos deste incidente é que eles estavam possuídos de um espírito de temor . Parece que esse milagre os alarmou, quase ao ponto do terror. E foi por causa desse alarme e temor que eles rogaram que Cristo Se retirasse. Quais são as causas desse temor? Quais são os elementos que, combinados, produzem esse estado de ansiedade na presença de Cristo? Vamos examinar alguns deles.
Não há dúvida que parte desse temor foi devido ao milagre em si, e aos extraordinários resultados que ele provocou. Não devemos ser muito críticos com esses gadarenos. Há um elemento na própria natureza de eventos miraculosos que inspira assombro e temor. No final do capítulo anterior lemos um relato do milagre que Jesus realizou no mar, acalmando a tempestade. E lemos que os discípulos “sentiram grande temor”. Na verdade, essa foi a sua reação mais comum e freqüente a todas as expressões de poder miraculoso da parte do Senhor Jesus. Vemos isso novamente no Monte da Transfiguração. Os discípulos “tiveram grande medo”. E todos nós, até certo ponto, experimentamos isso. Acaso não há um elemento de assombro e temor no nascimento e especialmente na morte? Os corações mais destemidos tremem na presença da morte. Aqui está um mistério um senso de poder que não podemos compreender ou captar. E esses gadarenos sentiram isso a respeito de Cristo e do milagre que Ele tinha acabado de realizar. De certo modo era o temor do eterno e do onipotente o temor do poder de Cristo. É essencialmente supersticioso; todavia, há nele um elemento que pertence à verdadeira religião. Mas estou me referindo a isso hoje porque sei que às vezes pode ser um fator muito importante na questão de conversão. Deus está tratando com um homem; o processo está em andamento. Mas ele hesita por causa dessa sensação de temor. Não sabe exatamente o que é, mas há uma vaga sensação de temor do infinito e do desconhecido. E o diabo está consciente disso, e o encoraja, e tenta persuadir a sua vítima inocente de que esse poder é prejudicial, que ele está perdendo o controle da sua vida, e pode vir a perder o juízo, a perder a razão. Então ele aconselha o convertido em potencial a esperar e a resistir, e a não se submeter dessa forma a um outro poder. E, em puro terror e medo, sem saber ou entender exatamente o que estão fazendo, muitos resistem. É uma experiência nova, e não conseguem entendê-la muito bem. O que tenho a dizer a respeito? Apenas isto: não prestem atenção ao diabo! O poder, ainda que seja grande, eterno e além da nossa compreensão, é não obstante o poder de Deus, a manifestação do amor eterno. Poder inescrutável! Sim! Mas o poder que acalma a tempestade, e restaura ordem ao caos. É onipotente. Mas também é bom. Não permitam que o poder os amedronte. É o poder de Deus!
Mas isso, por si só, não explica o temor desses gadarenos. Não há dúvida de que o que mais os amedrontou foi seu próprio senso de culpa. E a presença de Jesus Cristo sempre produz isso! Lembram-se do que Pedro sentiu quando inicialmente reconheceu o Senhor? “Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador” (Lucas 5:8). No caso de Pedro, era um sentimento nobre de indignidade, além da sensação de culpa, mas o ponto principal, contudo, é o mesmo. A beleza sempre realça a feiúra, perfeição imaculada sempre desmascara a falsidade; nada revela com mais clareza o nosso vazio e nosso infortúnio do que as vidas dos santos e acima de tudo a vida do nosso bendito Senhor. Parados na presença dessa Pessoa impressionante, que acabou de realizar um feito tão assombroso, observando Sua mansidão e Sua calma, Suas maneiras sem afetação e Sua serena confiança, captando talvez um vislumbre de algo sobre-humano em Seus olhos, eles sentiram que eram vis e desprezíveis. Parecia que Ele estava abrindo os recessos dos seus corações, e lendo-os como um livro aberto. Assim como tinha expulsado os demônios daquele homem, mandando-os para os porcos, assim Ele parecia capaz de ver através deles e perscrutar seus pensamentos mais íntimos. O que Ele não seria capaz de fazer? Eles se sentiram definhar em Sua presença. Se Ele não se retirasse logo, talvez eles fossem desmascarados na presença de todo mundo, tendo seus pecados revelados. E eles estavam com medo disso. Medo de si mesmos, medo de sua própria culpa, e medo do juízo que estava por vir! Era intolerável, por isso eles imploraram que Cristo Se retirasse. Ele os convenceu dos seus pecados e fez com que se vissem a si mesmos como realmente eram.
Homens e mulheres, hoje em dia, ainda estão tentando se livrar de Cristo, através dos vários métodos que mencionamos, por esta mesma razão. Ouvindo um sermão, começam a perceber que o evangelho está certo, e que eles estão errados. Seus pecados lhes são revelados, um a um. Sentem-se envergonhados e horrorizados. E ao ouvirem que há somente um destino para uma vida assim, sentem-se tomados de pânico e terror. Sabem que o evangelho está certo, e têm um vislumbre de sua própria condição sem esperança. Por isso não é de surpreender que se sintam apavorados e aterrorizados. De certa forma também não é de surpreender que imitem esses gadarenos, e tentem se livrar de Cristo. Estar sob convicção não só é muito incômodo, mas é alarmante e até mesmo aterrador. As pessoas se sentem desprezíveis e miseráveis. E os seres humanos têm a tendência de evitar algo que é tão perturbador. “Fiquem longe da igreja, parem de ler a Bíblia e de cantar hinos. Parem de fazer todas essas coisas que tendem a lembrá-los de sua pecaminosidade e da retribuição que está por vir.” É o que uma voz sussurra dentro de nós. “Fiquem longe disso tudo!” Não gostamos de nada que nos faça infelizes ou miseráveis, e a princípio esse é exatamente o efeito produzido pela presença de Cristo. Ele nos desmascara e esquadrinha o nosso interior até as maiores profundezas. Sim! A convicção de pecado é algo desagradável e alarmante, e a natureza humana faz o possível para escapar dela e evitá-la e se livrar dela. Mas, oh, que erro, que tragédia! Se tão somente compreendêssemos que Cristo faz isso para o nosso bem! Se compreendêssemos que este é o primeiro estágio essencial no processo de endireitar a nossa vida! Se compreendêssemos que é o prelúdio da conversão que Aquele que nos dá a consciência de culpa também pode removê-la, se apenas permitirmos que Ele o faça. Em vez de fugirem ou se manterem longe porque a convicção é muito dolorosa, agradeçam a Deus por ela e peçam que Ele complete a obra!
Mas devo chamar sua atenção para o outro elemento deste temor. Era, tenho certeza, um sentimento de que Aquele que fizera tudo aquilo pelo endemoninhado, e que tinha feito aquilo aos porcos, não só tinha poder suficiente para fazer o mesmo a eles, mas provavelmente insistiria em usar esse poder! Ele parecia ser capaz de fazer qualquer coisa, e ninguém poderia impedi-Lo. Há os que sugerem que foi a perda dos porcos que causou aquele sentimento. Talvez tenha sido assim, em parte, mas uma perda maior estava envolvida. Ele mudaria suas vidas completamente. Ele os controlaria e governaria. E isso significaria um fim a tudo o que eles gostavam e em que se deleitavam. Teriam que renunciar a todos os seus pecados. Seria o fim de todos os seus prazeres, e eles perderiam a sua “liberdade” seriam Seus escravos! Era uma derradeira e desesperada luta por sua “liberdade”. Não experimentamos, todos nós, esse sentimento, uma vez ou outra? Esse medo, esse terror? Visualizamos a transformação que ocorreria em nossa vida renúncia a certas coisas para sempre; uma revolução total em nosso estilo de vida; separação de velhos amigos; tudo de que gostamos sendo removido, para ser substituído por muitas coisas de que não gostamos. Ah, provavelmente há muitas pessoas aqui, hoje, que estão preparadas para aceitar o evangelho de forma geral, mas que se retraem e resistem quando percebem que ele significa e envolve certas coisas. Entrega absoluta a Cristo! Aí está estão quase ao ponto de se decidirem. Mas dizer “adeus” a certas coisas para sempre! Não! Não podem fazê-lo. Sim! Seguir a Cristo pode significar perdas financeiras, perda do emprego, amigos e muitas outras coisas, pelo menos por um tempo. Os gadarenos viram isso e ficaram alarmados. Mas eles apenas viram metade do evangelho!
Essa é a explicação da loucura desses gadarenos. Estavam cegos ao fato de que Cristo podia fazer por eles o que já tinha feito por esse endemoninhado. Eles viram apenas a primeira obra, a primeira metade do evangelho. E antes que o Senhor Jesus tivesse a oportunidade de lhes mostrar a outra metade, eles pediram que Se retirasse. Como muitos hoje em dia, eles compreenderam que havia um poder no evangelho, mas não compreenderam que era “o poder de Deus para a salvação”. Isso explica porque essas pessoas pediram a Cristo que Se retirasse e porque muitos, hoje, tentam se livrar Dele.
Mas vamos examinar o outro quadro, e tentar descobrir o que exatamente motivou esse homem que havia sido curado a desejar seguir o Senhor. O que explica o contraste? E é um contraste marcante! Existem pessoas hoje em dia que, imaginando serem muito inteligentes, acham que esse desejo é sempre um sinal de loucura e de fanatismo religioso. Mas isso, obviamente, está errado, porque esse homem tinha acabado de recuperar o juízo! Enquanto estava louco, ele odiou a Jesus e quis se livrar Dele; foi somente após o milagre que ele desejou estar com o Senhor. Ah, é sempre a loucura que rejeita a Cristo. Por que esse homem roga, pedindo permissão para acompanhar Jesus? Por que está pronto a abandonar tudo para segui-lo? E por que é este, sempre, o verdadeiro teste, o grande indicador de uma sólida obra da graça no coração humano? As razões são óbvias e evidentes, mas são tão gloriosas que não posso abrir mão do privilégio de apresentá-las outra vez.
A primeira coisa era, obviamente, seu senso de gratidão a Cristo , e seu desejo e anseio de expressá-lo. O que poderia ser mais natural? Leiam novamente a descrição que nos é dada da vida deste homem antes que ele conhecesse a Cristo. Um endemoninhado selvagem e perigoso; vivendo entre os túmulos; mutilando-se e lacerando a sua carne; sem descanso e sem paz; rejeitado, temido e odiado por todos, e, na verdade, temendo a si mesmo. Sua miséria devia ser imensa e terrível! Esforços tinham sido feitos no sentido de controlá-lo, restaurá-lo e curá-lo (versículos 3, 4). Cadeias e correntes, os esforços da família e de amigos, tudo tinha sido tentado, vez após vez, sem qualquer sucesso. O homem não conseguia encontrar paz e nem a conseguiam todos que estavam ao seu redor. Mas aqui vem Jesus de Nazaré, e, em apenas alguns minutos, realiza aquilo que ninguém mais tinha conseguido, e o homem se acha “assentado, vestido e em perfeito juízo”. Preciso dizer mais? Cristo fez por ele o que ninguém, nem os seus familiares e amigos mais chegados, conseguiu fazer. Oh, bendita libertação! Oh, a felicidade, o regozijo! “Que posso dar a Ti?” “Que posso fazer?” Nada é demais para um tão grande benfeitor. Ele merece tudo, merece todo o nosso ser. Vocês se lembram daquele outro louco que tinha partido a caminho de Damasco, “respirando ameaças e morte” subitamente, clamando com o coração cheio de gratidão e louvor, depois de ter visto a Jesus por apenas alguns momentos “Senhor, que queres que eu faça?” Ele O tinha odiado e insultado, mas quando Paulo O viu e compreendeu quem Ele era e o que tinha feito por ele e pelo mundo todo, ele de fato clamou: “Oh, Senhor, que posso fazer por Ti? Torna-me Teu escravo. Não importa quão humilde seja a tarefa, desde que eu esteja perto de Ti.” E assim tem sido sempre. Ninguém jamais veio a compreender o que Cristo fez sem amá-Lo e adorá-Lo e sentir o anseio constante de estar perto Dele. Que posso sentir além de gratidão e amor por Ele e Seu evangelho? Ele comprou minha liberdade, removeu dos meus ombros o fardo do meu passado pecaminoso, removeu a terrível sensação de culpa, tirou para sempre o temor da morte e da sepultura, e assegurou-me que sou aceito por Deus. Como posso me cansar de ouvir a respeito Dele? Como posso me cansar de tal Pessoa? Pode haver sensação mais maravilhosa e mais gloriosa do que sentir a proximidade da Sua presença? Ansioso por me livrar Dele? Pelo contrário, minha única preocupação e tristeza é que minha infidelidade O afasta. Posso ter medo Dele, e odiá-Lo, e querer me livra Dele? Não!
Odeio os pecados que Te causaram pesar,
E Te afastaram do meu coração.
E agora eu oro:
Mais de Ti, oh, concede-me, cada momento.
Vocês já se sentiram assim? Permitam-me lembrar que Ele morreu por vocês, entregou Sua vida por vocês, e, se crerem nisso, Ele fará por vocês o que fez pelos santos através dos séculos. Aquilo que nem conhecimento, nem cultura, nem negócios, nem prazeres, nem família ou amigos conseguiram fazer, Cristo fará hoje se vocês permitirem. Entreguem-se a Ele! Permitam que Ele o faça! Então vocês entenderão o desejo daquele gadareno de estar com Jesus.
Mas isso não era tudo. Aquele homem queria que sua condição abençoado continuasse e fosse permanente. Tudo era tão maravilhoso, tão glorioso! E aqui neste ponto havia um elemento de temor. Aqui estava esse maravilhoso Jesus, que acabara de realizar esse milagre, trazendo tanta felicidade à sua vida, e agora Ele ia partir! Somente Cristo tinha sido capaz de curá-lo e conquistar os demônios. Ele mesmo tinha falhado, e assim também todos os outros — somente Cristo tinha conseguido libertá-lo. E agora Ele ia Se retirar! “Ah”, ele roga a Cristo, “deixa que eu vá contigo Tenho medo de confiar em mim mesmo, em minha capacidade. Temo que esses demônios voltem e me escravizem outra vez. Não posso depender de mim mesmo, e eu os temo. Sei que estou bem agora — mas, e amanhã Oh, deixa-me ir contigo!” Todo crente sabe exatamente o que isso significa. Um homem não é um cristão até que tenha consciência de sua fraqueza e da força do inimigo. O cristão não confia em si mesmo, não depende de sua própria força. É a consciência da sua própria fraqueza e da força do inimigo que o leva a Cristo continuamente. É por isso que eu subo ao púlpito domingo após domingo, convidando-os a vir a Cristo, entregando suas vidas a Ele. A batalha contra o diabo é desigual. Homens maiores do que nós foram conquistados. Vocês caem, dia após dia, hora após hora. Que esperança podemos ter de conquistar “principados e potestades… os príncipes das trevas deste século… as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais?” (Efésios 6:12) Não é possível. Compreendam que a derrota é certa. Confessem suas falhas. Reconheçam seu pecado. Sim, o poder do inimigo e nossa própria fraqueza são sempre boas razões para permanecermos com Cristo.
Mas não devo terminar desta forma negativa. O homem queria estar com Cristo, não só porque estava consciente de sua própria fraqueza e do poder do inimigo, mas também porque compreendeu que o poder de Cristo, que o libertara, também podia mantê-lo livre. E se os demônios retornassem? Com Cristo ele estaria seguro, pois Cristo já os tinha subjugado e conquistado. O que quer que acontecesse, com Cristo ele estaria sempre seguro, pois Ele é poderoso, não só para salvar, mas também para guardar até o fim. Sim! Esse homem queria ir com Cristo para que Ele o mantivesse livre e seguro.
Mas ele cometeu um engano: pensou que a presença física de Cristo era essencial. Nosso Senhor, ao enviá-lo para casa, para a sua família, provou que não era. “Um novo convertido, enviado de volta as suas velhas guaridas, sozinho?” Sim, e estaria seguro! Era Cristo que o estava enviando. E quando Cristo envia, Ele acompanha! Foi assim nos dias da Sua encarnação, e é ainda mais seguro hoje em dia, desde que Ele enviou o Espírito Santo. Confiem Nele! Obedeçam-No! Façam tudo que Ele disser! Ele estará com vocês, e nunca os deixará, nem os desamparará. Vocês ainda serão tentados e provados, intensamente às vezes, mas, como todos os santos, poderão dizer:
A tentação perde o seu poder
Quando Tu está comigo.
Vocês podem cair, mas nunca ficarão prostrados (Salmo 37:24). Haverá provações e tribulações, mas Ele prometeu que seríamos “mais que vencedores”. Creiam Nele hoje, e entreguem-se a Ele. Por amor do Seu nome. Amém