Efraim foi pai de mais dois filhos além de Sutela; eles se chamavam Ézer e Eleade e foram mortos quando tentavam roubar o gado dos moradores de Gate. Efraim, o seu pai, chorou por eles muitos dias, e os irmãos dele foram consolá-lo (1 Cr 7.21-22).
Efraim, segundo filho de José, nasceu no Egito quando seu pai era o segundo homem na hierarquia do governo. José havia salvo o povo egípcio da tragédia da fome, e salvou a família de seus irmãos cuidando deles no Egito. Efraim quer dizer “prosperidade” ou bênção dupla.
No entanto, o nome significativo não o livrou de uma tragédia familiar: Seus dois filhos eram abigeatários, isto é, ladrões de gado. E numa dessas tentativas de roubar o gado dos campos dos filisteus, os homens de Gate os mataram.
Efraim chorou a morte de seus dois filhos durante meses, afinal, um homem como ele não merecia tal afronta.
Este texto veio-me à mente depois que fiquei sabendo de vários casos de filhos e filhas de pastores que se envolveram com o tráfico de drogas, com roubos e assaltos e também foram mortos pela polícia. Mas, o que acontece que filhos de pastores, criados na igreja se envolvam com roubos e com o tráfico e acabam sendo mortos? Conheço pastores, homens de Deus que geraram filhos que para nada serviram!
É o que tentaremos responder neste sucinto artigo.
Deixe-me afirmar que tragédias familiares acontecem com as melhores famílias. Nas Escrituras temos muitos casos que seriam verdadeiros escândalos se acontecessem hoje. Abraão era chamado de amigo de Deus, mas seria processado pelas leis atuais ao mandar embora a escrava sem qualquer indenização e sem lhe dar uma pensão alimentícia. E várias vezes mentiu. Isaque e Jacó seguiram a tendência de enganar e de mentir; aliás, a família de Jacó mentia e enganava descaradamente. Acredito que mentir e enganar fazia parte da cultura Oriental daqueles dias. Jacó enganou e foi enganado. Seus filhos o enganaram durante treze anos afirmando peremptoriamente que José havia sido devorado por bestas-feras do campo.
Mas, José havia quebrado este estigma familiar da mentira e do engano, decidiu formar uma família diferente. Jacó abençoou a Efraim duplamente (Gn 48.11-20). E José anulou e interrompeu a síndrome da mentira e do engano que havia em sua família desde a época de seu bisavô Abraão. No entanto, anos depois seus descendentes se envolveram num roubo de gado e foram mortos.
Nenhuma família da Bíblia é perfeita. Noé, Davi e famílias de reis e sacerdotes não deixaram exemplos aceitáveis para os padrões morais do cristianismo.
Efraim, decepcionado com os rumos que sua família tomou, lamentou a morte de seus dois filhos. Depois do luto, sua mulher engravidou e ele teve outro filho homem a quem chamou Berias: “Porque as coisas iam mal em sua casa” (1 Cr 7.23).
E aqui começa outro problema: Os pais costumam descarregar suas frustrações e desânimos na vida dos filhos. Em vez de colocar um nome positivo, que enchesse seu lar de esperança, Efraim incorreu no erro comum aos pais, descarregou no filho sua ira, seu descontentamento e sua falta de esperança, fazendo que o filho carregasse no seu nome a frustração familiar. Berias: As coisas não estão bem aqui em casa!
Mas, Efraim não está só nessa síndrome maldita de descarregar no filho os traumas da vida pessoal e da sua família. Ao que parece esse era um costume dos povos antigos.
Raquel, ao morrer, deu à luz um menino e o chamou de Benoni (Gn 35.18) “filho do meu sofrimento”, um nome negativo, que uma criança carregaria com amargura por toda vida ao saber que foi culpado pela morte da mãe, mas Jacó interferiu e mudou o destino do rapaz, chamando-o de Benjamim, fruto da valentia; do braço forte. Como se dissesse: Você não trouxe sofrimento, meu filho, você é fruto da Raquel corajosa e valente! E Benjamim cresceu como homem valente!
A mãe de Jabez colocou no filho um nome negativo: Dor, pesar (1 Cr 4.9) e Jabez mudou o quadro negativo de sua vida, orando a Deus que mudou seu destino de dor, para um destino de prosperidade e bênçãos.
A nora do sumo sacerdote Eli também teve um filho no meio de uma tragédia. Num mesmo dia a arca do Senhor foi roubada pelos filisteus, seu marido Finéias morreu, seu cunhado e seu sogro morreram também. Ao saber da tragédia ela entrou em dores de parto e deu à luz um menino a quem chamou de Icabô, “Foi-se a glória de Israel” (1 Sm 4.21). Acredito que enquanto Icabô ou Icabode viveu a arca esteve ausente de seu lugar, e isto demorou cerca de 60 a 70 anos.
Por que investir negativamente na vida dos filhos, quando é possível investir positivamente? Por que descarregar as frustrações e desânimos nos filhos quando a missão de pai é de abençoar e não de amaldiçoar? Não decida o futuro de seus filhos, quer dando-lhes nomes negativos ou pondo sobre eles sua amargura e dissabor!
Afinal, Deus deu um nome positivo ao seu filho: Jesus (Mt 1.21), “porque ele salvará o seu povo dos seus pecados”! Davi chamou seu filho de Salomão, mas Natã mudou o nome dele para Jedidias (2 Sm 12.25), por amor do Senhor.
Quando tudo vai mal, não se consegue ver o que vai bem.
Normalmente as coisas ruins encobrem a visão das coisas boas, e Efraim que teve dois filhos ladrões sequer percebeu que tinha uma filha, Seerá, que valia para ele mais que os dois filhos mortos, mas ele não enxergava isso (v 24). Ela foi uma mulher inovadora para sua época, pois construiu três cidades. “Efraim foi pai de uma filha chamada Seerá. Ela construiu as cidades de Bete-Horom-de-Baixo, Bete-Horom-de-Cima e Uzém-Seerá” (v 24).
Mas, o que pesou na vida de Efraim? O destino de dois filhos imprestáveis que eram ladrões de gado e não uma filha corajosa e determinada. Seerá recebe apenas uma linha das Escrituras, mas deixou como herança três cidades edificadas. Isto é, Seerá foi uma mulher de fibra e acima da mediocridade em que viviam as mulheres daqueles dias.
O que Efraim não conseguia divisar é que da sua descendência, lá no futuro, nasceria um homem que haveria de ser o salvador de Israel, Josué, cujo pai, Num, procede de Efraim. Sim, Josué, o homem que fez o povo entrar e possuir a Terra Prometida era descendente de uma família que viveu tragédias no passado.
Os pais devem sempre pensar positivamente a respeito do futuro de seus filhos. Houve tragédias? Sim! Mas os olhos dos pais devem mirar o futuro, e imaginar que um dia, um de seus descendentes haverá de ser uma pessoa que mudará a história de seu povo.
A Escritura afirma que Abraão viu os dias futuros; viu os dias de Jesus, os dias da Igreja e até mesmo a eternidade, porque Abraão “aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11.10).
Olhando adiante, sendo fiel hoje, certamente Deus honrará sua vida dando um herdeiro que mudará o destino da humanidade!
Creia!
Você apenas aponta o rumo certo; se seu filho seguir por outro caminho a culpa não é sua!
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Excelente e edificante mensagem! É um fato incontestável a atribuição de fracassos aos outros, além de um certa transmissão de responsabilidades e até mesmo de desgraças e maldições. Não me refiro a “maldições hereditárias”, como se isso pudesse ser transmitido geneticamente, mas, sim, a um legado, a uma herança maldita, que se transfere por meio de procedimentos e ensinamentos contrários à Palavra de Deus, contaminando a família e toda a descendência. Certo é que cada um de nós é responsável único por suas ações e decisões, as quais podem trazer bênçãos ou maldições. Mas o exemplo negativo de uma vida que não se consagra ao Senhor, ou a conduta errada de alguém que se desviou do centro da vontade de Deus, certamente acarretará marcas e cicatrizes em todos os que conviverem com ela, especialmente seus filhos e demais familiares.
Irretocável ! Como a Bíblia contém detalhes que desconhecemos ! Poucos são os Pastores que saem da mesmice (sempre os mesmos capítulos) e inovam com sabedoria. Muito bom !!!