Apesar de toda confusão e dificuldade quanto aos detalhes dos períodos da história do cristianismo, os historiadores concordam entre si que estes podem ser divididos em três partes principais: Antiga, medieval e moderna. Ainda que não haja acordos sobre quando termina uma era e começa a outra.
Na realidade os períodos da história não são estanques, como se em 311 terminasse um período e começasse outro; os acontecimentos e eras se interpõem e uma era entra na outra imperceptivelmente.
I. História da igreja, do nascimento de Cristo até Gregório, o Grande, que vai do ano 1 ao ano 590 d.C.
Esta é a era da igreja Greco-latina ou a era da patrística, dos pais cristãos. Seu território cobre os países que beiram o Mediterrâneo – Oriente Médio, norte da África e Europa Oriental – simplesmente uma área do império romano e do domínio pagão. Nesta era foi lançado o fundamento, a doutrina, governo e adoração que se perpetuaria por toda a história. É a era de onde surgiram as várias confissões de fé.
A vida de Cristo e a vida da igreja apostólica são, de longe, a parte mais importante e requerem um tratamento em separado. Eles formam o terreno divino-humano da igreja, e inspiram, regulam e corrigem todos os demais períodos.
Então, o começo do quarto século com a ascensão de Constantino, o primeiro imperador cristão marca um período decisivo. É o cristianismo erguendo-se da acusação de ser uma seita até se tornar a religião prevalecente do império Greco-romano. Na história das doutrinas, o primeiro concílio ecumênico de Nicéia que aconteceu no meio do reinado de Constantino, no ano 325 d. C., é o ponto alto da época.
Dentro desse período existem outros três períodos da era patrística, que podemos designar como o período dos apóstolos, o período dos mártires e o período dos imperadores cristãos e dos patriarcas.
II. Cristianismo medieval, de Gregório I à época da Reforma, período que vai de 590 a 1517.
Geralmente a idade média é reconhecida como o período que vai de Constantino (306 ou 311); da queda do império romano no Oriente, no ano 476; de Gregório, o Grande, no ano 590, passando por Carlos Magno, ano 800. No entanto, este período, para alguns vai até a época da Reforma em 1517. Gregório, o Grande parece ser o ponto do clímax dessa divisão. Com Gregório, o Grande, o autor das missões anglo-saxônicas encerra-se o período dos pais da igreja, e o começo da era dos papas. Neste tempo ocorre a conversão das tribos bárbaras e, ao mesmo tempo o desenvolvimento do papado absoluto com a alienação ou divisão das igrejas do Oriente.
Vê-se aqui o caráter distinto da idade média: A transição da igreja a partir da Ásia e África para a Europa central e Oriental; deixando de ser uma igreja Greco-romana para se tornar mais abrangente entre os germânicos, os celtas e raças eslovênias; e assimilou a nova cultura da civilização moderna deixando para trás a cultura ancestral.
Neste período, o grande trabalho da igreja foi a conversão e educação dos pagãos bárbaros, que conquistaram e puseram por terra o império romano, mas que também foram conquistados e transformados pelo cristianismo. Essa tarefa foi realizada principalmente pela igreja latina, sob um governo constitucional firme que culminou com a eleição do bispo de Roma. A igreja grega, ainda que conquistasse as tribos eslávicas da Europa Oriental, especialmente durante o império russo, mesmo com um bom crescimento, sofreu pressões e foi reduzida pelo islamismo na Ásia e na África que foram berços do cristianismo (norte da África) e Constantinopla (atual Istambul na Turquia). Na Idade Media o desenvolvimento da hierarquia da igreja romana se tornou a igreja dos Papas, diferentemente da primitiva igreja de nossos pais e a igreja moderna dos reformadores.
No crescimento e queda da hierarquia romana três papas se destacaram como representantes de várias épocas: Gregório I ou Gregório o Grande (590 d. C.), que marca o surgimento da supremacia papal. Gregório VII ou Hildebrando (1049 d. C.) é o apogeu. Bonifácio VIII (1294) marca o declínio. Temos assim três períodos da igreja da era medieval. Poderiam ser chamados pela ordem de período missionário, período papal e período pré ou ante-reformatório do catolicismo.
III. Cristianismo moderno, da Reforma do século XVI até hoje (1517-1880).
A história moderna se move principalmente entre as nações da Europa e, a partir do século XVII se espalha pela America do Norte. O cristianismo Ocidental se divide agora em duas partes: Uma parte do cristianismo permaneceu no sistema antigo; a outra buscou um novo caminho, enquanto a igreja oriental se afastava cada vez mais do palco da história e parecia imperturbável, com exceção da Rússia moderna e da Grécia. A história da igreja moderna na época do protestantismo conflita com o romanismo, porque oferece liberdade e independência e se liberta da autoridade e tutela romana oferecendo um cristianismo mais pessoal em contraste com o sistema religioso de Roma.
Novamente aqui surgem três novos períodos que tomam o nome de Reforma, Revolução e Avivamento. O século XVI ao lado da era apostólica tornou-se o período mais frutífero da história da igreja, por ser o século da renovação da Igreja e da contra-reforma papal. É o berço de todas as denominações e seitas protestantes e também do moderno romanismo.
O século XVII é o período da ortodoxia escolástica, do confessionalismo polêmico e da estagnação comparativa. O movimento reformatório cessa no continente, mas move-se poderosamente através do puritanismo na Inglaterra e se estende até mesmo nas florestas das colônias americanas. O século XVII se tornou o mais frutífero da história da Inglaterra dando espaço para o surgimento das denominações dissidentes que foram levadas para a América do Norte e que cresceram mais que as igrejas históricas. Então, no século dezoito surgiram os movimentos pietistas e o avivamento metodista cuja prática entrava em conflito com a ortodoxia morta e o formalismo religioso da época. Enquanto isso, na igreja romana prevaleceu o movimento dos jesuítas que enfrentaram oposição do Jansenismo e do galicanismo. [1]
Na segunda metade do século dezoito tem início uma virada das ideias tradicionais que revolucionou o Estado trazendo infidelidade na igreja, especialmente na igreja católica da França e no protestantismo alemão. O deismo na Inglaterra, ateísmo na França, racionalismo na Alemanha, representam os vários graus da apostasia da era moderna que se distanciou do credo ortodoxo. O século dezenove apresenta, em parte, um desenvolvimento ainda maior dessas ideias e tendências destrutivas e negativas, mas com ela veio também o avivamento da fé e da vida cristã, e o começo de uma nova criação pela pregação do evangelho. O avivamento pode ser datado a partir do terceiro centenário da Reforma em 1817. Neste mesmo tempo, na América do Norte, ingleses e protestantes serviram de abrigo para todas as nações, igrejas e seitas do velho mundo com uma pacífica separação do poder temporal e do espiritual que veio sobre a igreja como um gigante cheio de vigor e promessas.
Temos, assim a soma de nove períodos da história da igreja como se vê a seguir:
Primeiro período:
A vinda de Cristo e o surgimento da igreja apostólica. Este período começa com o nascimento de Cristo, a encarnação até a morte de São João (1-100 d.C.).
Segundo período:
Cristianismo sob intensa perseguição pelo império romano. Este período vai da morte de São João a Constantino, o primeiro imperador cristão (100-311 d. C.).
Terceiro período:
O cristianismo em união com o império Greco-romano e no meio das tormentas do fluxo migratório das nações. Este período vai de Constantino o Grande até o Papa Gregório I (311-590 d.C.).
Quarto período:
O cristianismo é implantado entre os teutões, entre os celtas e nações eslovacas. Vai de Gregório I a Hildebrando ou Gregório VII (590-1049 d. C.).
Quinto período:
A hierarquia papal domina a igreja ao lado da teologia escolástica. Este período vai de Gregório VII a Bonifácio VIII (1049-1294 d. C.).
Sexto período:
O declínio do catolicismo medieval e a preparação para os movimentos da Reforma. Vai de Bonifácio VIII a Lutero (1294-1517 d. C.).
Sétimo período:
A Reforma evangélica e a contra reação da igreja de Roma. Vai de Lutero ao tratado de Westfália (1517-1648 d. C.).
Oitavo período:
Esta foi a era do polemismo da ortodoxia e do confessionalismo exclusivo que veio acompanhado dos movimentos diversos. Do tratado de Wesfália até a revolução francesa (1648-1790 d. C.).
Nono período:
O aumento da infidelidade e os reavivamentos na Europa e na América com esforços missionários que cobriram todo o mundo. Vai da revolução francesa até o presente (1790-1880). Nota: O livro de Philip Schaff foi concluído em 1880!
Assim, o cristianismo atravessou várias etapas de sua vida terreal e a duras penas cresceu na maturidade em Cristo Jesus. Durante os séculos a igreja sobreviveu a destruição de Jerusalém, a dissolução do império romano, as perseguições que vinham de fora e as que vinham de dentro; as invasões dos bárbaros, as confusões de eras das trevas, a tirania papal, a infidelidade, a selvageria das revoluções, os ataques dos inimigos e os erros de seus líderes; o surgimento e queda de orgulhos reinos, impérios, das repúblicas, dos sistemas filosóficos e das organizações sociais sem fim.
E, pasmem! A igreja ainda vive com mais força que antes; com alcance maior ainda. A igreja está por trás do progresso das civilizações e dos destinos da humanidade. Ela marcha sobre as ruínas da sabedoria humana seguindo sempre em frente. Espalha silenciosamente as bênçãos celestiais de geração em geração, de país em país até os confins da terra. A igreja nunca morrerá. Nunca será decrépita, como são os homens, mas, semelhante ao seu divino fundador viverá no frescor da renovação de sua juventude e como um homem musculoso será inquebrantável sobrevivendo através dos tempos.
Denominações e seitas, doutrinas e formas humanas, governos e sistemas de cultos, depois de alcançarem seu propósito desaparecerão como a carne envelhecida, mas a Igreja Universal de Cristo em sua vida e substância divinal é muito forte para ser vencida pelas forças do inferno. Apenas mudará suas vestimentas terreais pelas vestes celestiais levantando-se da extrema humilhação para a exaltação e glória. Então, na vinda de Cristo ela ceifará a colheita final da história, e, como igreja triunfante celebrará no céu seu descanso de santidade e paz.
[1] (Nota do Tradutor: O jansenismo foi uma doutrina religiosa inspirada nas ideias de um bispo de Ypres, Cornelius Jansen. Como movimento teve caráter dogmático, moral e disciplinar, que assumiu também contornos políticos, e se desenvolveu principalmente na França e na Bélgica, nos séculos XVII e XVIII, no seio da Igreja Católica, e cujas teorias acabaram por ser consideradas heréticas pela mesma, desde 16 de Outubro 1656, através da bula Ad Sacram subscrita pelo Papa Alexandre VII. Defendia uma interpretação das teorias de Santo Agostinho sobre a predestinação contra as teses tomistas do racionalismo aristotélico e do livre arbítrio. (Já o galicanismo foi um movimento que se originou na França e defendia uma administração da igreja de cada nação independente do controle papal- fonte Wikipedia).
(Extraído de Church History, by Philip Schaff, Vol. 1 – Introdução geral).
Fonte: https://querigmavirtual.blogspot.com.br/2015/09/periodosda-historia-da-igreja.html