Quando Jesus interrogou dois discípulos desiludidos depois da sua morte, deu-lhes a entender que o sofrimento fazia parte integral da sua experiência. Não era necessário que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória (Lc 24:26)? Eles não podiam compreender como tal morte ignominiosa pudesse ser compatível com a glória de Cristo. Jesus então mostrou-lhes através de todas as Escrituras como era necessário que ele sofresse antes de entrar na sua glória. Getsêmani, Gábata, e Gólgota (Jo 18:1; 19:13,17) eram passos necessários para chegar à glória. Getsêmani era o jardim em que Jesus agonizava em oração, e onde no fim encurvou-se à vontade do seu Pai, apesar de quase morrer naquele local. Gábata era o pavimento onde ele foi injustamente julgado por Pilatos, e açoitado ao mesmo tempo que era rejeitado pela multidão. Gólgota era o lugar onde suportou a cruz, dando a sua vida e morrendo como espetáculo diante do céu e da terra. Jesus chamou os discípulos desiludidos de néscios por serem tardos para crer no que os profetas disseram, e prosseguiu explicando-lhes a necessidade do seu sofrimento.
O escritor aos Hebreus nos afirma que Jesus aprendeu a obediência através do sofrimento; e tendo sido aperfeiçoado, tornou-se a fonte de eterna salvação a todos aqueles que são obedientes (Hb 5:8,9). Ele foi tentado nos seus sofrimentos e por causa destas experiências é capaz de socorrer todos aqueles que são tentados (Hb 2:18). Um resultado prático do sofrimento na vida de Jesus foi fazer dele um fiel sumo sacerdote que acabou por vencer toda tentação.
Pedro falou mais sobre o sofrimento do que qualquer outro autor na Bíblia e referiu-se também à necessidade do sofrimento e aos resultados que o acompanham. Em alguma época da nossa vida, o sofrimento será necessário para que o Senhor alcance os objetivos que deseja para nós. Não há nada que ofenda mais ao “velho homem” do que sofrimento injusto. Traz à tona qualquer resquício de auto-preservação e egocentrismo que ainda permanece em nós. O sofrimento revela atitudes e reações erradas. Se nos arrependermos da velha natureza e expressarmos a nova, cresceremos e seremos abençoadas. Se mantivermos a atitude correta durante o sofrimento, estaremos declarando nossa união com Jesus e o espírito da glória de Deus repousará sobre nós (1 Pe 4:14).
Evidentemente é melhor sofrer por fazer o que é certo do que sofrer por fazer o errado (1 Pe 4:15,16). À vontade e o propósito de Deus incluem o sofrimento por causa dos resultados que este produz em nós. Não vem apenas como resultado das nossas más ações, mas como um meio de aperfeiçoar-nos, mesmo quando estamos fazendo o que é certo. As experiências do cume da montanha são sempre bem-vindas, mas no cume da montanha não podemos semear nem colher. É um lugar onde só se pode contemplar a vista que é muito agradável, refrescante e necessário.
Mas é no vale que se produz o fruto. Frequentemente o cume da montanha está acima das nuvens, mas os vales debaixo das nuvens recebem a chuva que traz a vida. Os rios correm pelos vales e lá vicejam os pastos verdejantes. Assim também as experiências nos vales são para nós períodos em que desenvolvemos nossa salvação. O crescimento da nossa fé está ligado diretamente aos nossas momentos de sofrimento, apuro e perseverança. Nossa paciência é aperfeiçoada. Acumulamos experiência que é medida da nossa maturidade. O sofrimento frequentemente é o instrumento que nos lança totalmente na dependência de Deus. Quando a situação exige algo além dos nossos recursos naturais, nossa única saída é a provisão sobrenatural do Senhor. Nossos impasses pessoais podem ser o meio que o Senhor usa para abrir um caminho diante de nós.
Jó é o exemplo mais destacado de paciência e confiança adquiridas através da adversidade. Quando anunciaram-lhe a perda desastrosa da dos seus filhos e possessões, ele prostrou-se e adorou a Deus. “O Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1:21), foi a sua resposta. Quando a si mesmo, ele disse que mesmo que Deus o matasse, ainda confiaria nele (Jó 13:15). Sem que Jó soubesse, Deus estava usando o seu testemunho contra Satanás. Quando o sofrimento ocorre nas nossas vidas, podemos confiar que o Senhor o está usando para destruir o mal.
É somente quando apreciamos o fato que nosso amoroso Pai celestial está no controle do nosso sofrimento que podemos corresponder com confiança e até mesmo com regozijo. Tiago nos exorta a considerar as diversas provações que encontramos como motivo de alegria por causa daquilo que produzem (Tg 1:2-4). Finalmente, se perseverarmos, receberemos a coroa da vida (Tg 1:12). Paulo nos encoraja ao comparar nossos sofrimentos atuais com a glória que será revelada em nós, e conclui que o sofrimento não é digno de ser comparado com a glória (Rm 8:17,18). Ele afirma que uma condição para reinar com Cristo é sofrer com ele.
A comunhão dos sofrimentos de Cristo (Fp 3:10) significa que realmente compartilhamos das suas aflições, e de alguma forma misteriosa preenchemos o que resta das aflições de Cristo a favor do seu corpo, a igreja (Cl 1:24). Por causa dos resultados dos nossos relacionamentos podemos abraçar nossas diversas, e até numerosas provações com um profundo senso de gozo. Este gozo pode ser uma profunda consciência de triunfo final mesmo quando o efeito imediato sobre nós é de tristeza e pesar.
Outro efeito desenvolvido através do sofrimento é uma mudança de valores. Aquilo que é temporal perde sua influência dominante para o que é eterno (2 Co 4:17,18). Através do sofrimento o anseio para estar ausente do corpo e presente com o Senhor se intensifica. Promove a obra da cruz em nossas vidas e aprofunda o desejo de ser crucificado para o mundo. Tornamo-nos desiludidos com as coisas deste mundo e aproximamo-nos mais da nossa esperança em Jesus. Encontramos uma consolação que satisfaz o profundo do nosso ser e que nos torna mais conscientes das coisas eternas do que das temporais. Atendemos mais prontamente às coisas espirituais do que às coisas carnais, e através de tudo isto descobrimos a expressão de Cristo sendo formada em nossa personalidade. No sofrimento, extraímos da sua vida em nós a fim de dominar e substituir as velhas reações naturais e descobrimos que o Cristo que estava em nós apenas potencialmente agora tornou-se o Cristo em nós em realidade.
Sabemos que nunca seremos tentados além daquilo que podemos suportar (1 Co 10:13). Nossa dificuldade surge quando somos empurrados para novas áreas. Nessas ocasiões pensamos que estamos sendo levados para além daquilo que suportamos, mas na verdade é apenas além daquilo que já conhecemos, para uma nova área de experiência. A suficiente graça de Deus sempre estava lá para ser abundante para conosco. Por estas razoes podemos conhecer a realidade do regozijo na tribulação, e podemos considerar motivo de toda alegria quando tivermos de enfrentar diversas provações.
Se deixarmos de julgar e ajustar devidamente as nossas vidas, seremos castigados pelo Senhor, para não sermos julgados com o mundo (1 Co 11:31,32). Mesmo que venha na forma de fraqueza, doença ou morte, é melhor receber disciplina nesta vida do que na vindoura. O salmista escreve que antes de ser afligido, ele se extraviava; e foi bom para ele ter passado pela aflição, pois sabia que pela fidelidade do Senhor é que ele foi afligido (Sl 119:67,71).
Este tipo de sofrimento é causado por nós mesmos, pois de alguma forma temos nos desviado de andar em união com Cristo. Deus nos ama demais para deixar de nos castigar, pois ele não nos quer perder eternamente. Embora talvez possamos evitar um pouco de disciplina, não podemos passar totalmente sem castigo a não ser que já sejamos perfeitos e sempre façamos tudo com perfeição. Deus trata conosco como a filhos (Hb 12:7). Ele açoita a cada filho que recebe, mas com infinito amor e cuidado. Se Jesus aprendeu obediência pelo que sofreu, você acha que nós, que tantas vezes somos desobedientes, poderemos aprendê-lo sem sofrimento?