Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom (Mt 6.24; RC).
Esta palavra proferida por Jesus Cristo, aproximadamente dois mil anos atrás, tem sido fonte de culpa, controvérsias e contendas para muitos crentes em Jesus por séculos. Onde Jesus quis chegar ao dizer: “Vocês não podem servir a Deus e a Mamom”? Quem ou o que é Mamom? Em várias versões bíblicas e comentários, esse termo tem sido usado apenas como sinônimo de dinheiro. Estaria correto? Se quero servir a Deus de verdade, será que preciso evitar todo contato ou posse de dinheiro?
Primeiramente, é importante ver que, o que quer que seja Mamom, Jesus o coloca em uma posição totalmente oposta a Deus; concorre com ele para ser servido. Quando disse que não se podia servir a ambos ao mesmo tempo, Jesus não se referia a uma proibição, mas antes a uma impossibilidade de fazer tal coisa. Eles são opostos; portanto, servir a um exclui categoricamente o outro.
Agora, se Mamom fosse sinônimo de dinheiro, então a conclusão óbvia é que o crente deveria renunciar totalmente ao dinheiro. Há vários séculos, e até hoje, algumas pessoas têm crido nisso e feito um voto de pobreza, evitando todo o contato com dinheiro na tentativa de ser completamente devoto a Deus. Contudo, mesmo fazendo isso, não se está livre da cobiça ou do medo de falta de provisão. Portanto, a referência de Jesus a Mamom não seria simplesmente ao dinheiro.
Jesus usou essa palavra do aramaico antigo para denotar uma entidade que existe no domínio celestial, à qual as pessoas têm adorado como o deus das finanças. É um dos principados e potestades aos quais Paulo se referiu quando declarou, em Efésios 6.12, que não lutamos contra carne e sangue. Mamom coloca-se na categoria de poder nesse domínio que influencia o coração dos seres humanos a amar e servir o dinheiro no domínio físico.
Frequentemente, através de sua história, os israelitas quiseram adorar aos deuses das nações da terra em que moravam tanto quanto a Deus Jeová. Os falsos deuses dos cananeus não eram apenas ídolos criados por humanos. Pelo contrário, cada um era um príncipe do reino de Satanás, capaz de enganar pessoas para que o adorassem. Assim Baal, Astarote, Camos, Moloque, Dagom, Mamom e outros não eram apenas ídolos criados pela imaginação humana, mas espíritos demoníacos, que ainda estão vivos e operando hoje. Assim sendo, o espírito demoníaco por trás de Mamom ainda está operando e buscando adoração, influência e o controle da vida das pessoas para que amem e confiem no dinheiro, exatamente como fazia nos dias de Jesus.
Quando Jesus declarou que não podemos servir a ambos, a Deus e a Mamom, aparentemente ele estava destacando duas entidades espirituais contrárias. A expressão não pode não significa ilegal, mas impossível! Na realidade, o dinheiro é impotente. Deus tem poder, e o espírito de Mamom tem poder, mas o dinheiro, não. O poder real por trás da provisão financeira em nossa vida ou será de Deus ou do espírito de Mamom, dependendo de qual deles escolhemos servir. A maioria das pessoas, incluindo cristãos, crê que o poder real está no dinheiro. Portanto, até perceber a impotência do dinheiro, nunca ficarão livres dessa busca nem da influência e do domínio do espírito por trás dele.
Quem é a minha verdadeira fonte?
Vamos considerar o propósito desta entidade demoníaca chamada Mamom. Primeiramente, sabemos que qualquer espírito em operação no reino de Satanás deseja conduzir o coração das pessoas para longe de Deus. O propósito principal do espírito de Mamom é obter adoração, amor, afeto, lealdade e servidão. Ele opera por meio do medo. Seu propósito é fazer com que você seja leal a ele, amando-o e servindo-o; assim, inevitavelmente, você odiará, desprezará e deixará de servir a Deus. Como Josué convocou o povo de Israel: “Escolhei hoje a quem sirvais” (Js 24.15), hoje o Senhor nos faz a mesma pergunta.
Como toda entidade demoníaca, o ataque principal não é direto, mas encoberto, pelo engano. Se Mamom aparecesse diretamente para algum cristão ou mesmo não cristão, revelando sua identidade e exigindo lealdade, amor e servidão, poucos se submeteriam voluntariamente a ele. Assim, a principal tática de Mamom é atrair as pessoas para servi-lo sem que percebam o que estão fazendo. Ele faz isso pela propagação de mentiras, as quais, a maioria das pessoas acredita ser verdade. A principal mentira disseminada pelo espírito de Mamom é que o dinheiro contém poderes inerentes. Somos induzidos a atribuir-lhe poder sagrado. Uma pessoa que tem muito dinheiro é vista como muito poderosa, enquanto aquela que tem pouco é desprezada. Quando as pessoas creem que o dinheiro tem poder, elas são tentadas a amá-lo, e esse amor ocasiona muitas outras formas de fraquezas.
Pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos (1 Tm 6.10, NVI).
Cristãos que creem na mentira de que o dinheiro tem poder permitem que ele, ao invés de Deus, determine suas decisões em relação a viagens e aquisições. Com medo da falta de dinheiro, consultam seus talões de cheque (e não o Senhor) quando ofertam e se ocupam com toda sorte de esquemas supostamente rentáveis. A verdade é que o dinheiro não tem poder. É simplesmente amoral, um objeto impotente, ao qual o espírito de Mamom atribui grande poder, a fim de, por meio dele, controlar a vida das pessoas.
Outra mentira em que muitos acreditam é que a fonte de sua provisão é o emprego, o cônjuge, os investimentos ou outro canal pelo qual o dinheiro vem. Na verdade, o poder está em Deus, e não no dinheiro, e ele é a fonte da provisão. Assim, para o crente, existe um conflito de serviço e amor. Se alguém ama o dinheiro, então automaticamente não ama o Senhor. Se alguém autoriza o dinheiro a governar as escolhas de sua vida, sem perceber autoriza o espírito de Mamom a dominá-la. Deus pode falar a ele para ir a certo lugar, ofertar a certo ministério ou fazer certa coisa, e ele dirá: “Não posso, porque não tenho dinheiro suficiente”. Nesse momento, Deus não é a fonte; é o dinheiro.
Se você simplesmente perguntar à maioria das pessoas: “Qual o propósito de você trabalhar?”, elas responderão: “Estou trabalhando por dinheiro”. O dinheiro então é o objetivo ou a fonte real de poder. O dinheiro não foi feito para ser meu senhor, mas para ser meu servo.
A chave da questão aqui é: “Quem é minha fonte?” O espírito de Mamom tentará continuamente nos convencer de que o poder real da vida está no dinheiro, e de que o canal através do qual ele vem é minha fonte. Assim, se estou aceitando em meu coração que meu emprego, ou meu marido, ou meus investimentos ou a economia, é minha fonte, sem perceber, estou me tornando um escravo do espírito de Mamom.
A relação servo-senhor é distorcida. Quando Deus é minha fonte, o dinheiro torna-se meu servo para ser investido no Reino de Deus. Contudo, quando o dinheiro é minha fonte, eu me torno servo de Mamom, fazendo qualquer tipo de coisa para ganhar mais. Em outras palavras, os fins e os meios são invertidos. O dinheiro deveria ser justamente um meio de servir a Deus, que é o nosso verdadeiro objetivo. Quando permitimos que o dinheiro seja nossa fonte, então Deus se torna apenas o meio pelo qual esperamos obtê-lo. Essa diferença é, às vezes, muito sutil.
Tenho observado nas igrejas, muitas vezes, o momento em que o povo é convidado a ofertar, e tenho sentido meu espírito reagir negativamente em relação à forma como isso é feito. Durante anos, não conseguia identificar o problema, apenas sentia dentro de mim que algo estava errado. Finalmente, nos últimos anos, identifiquei o problema. É que a oferta estava sendo motivada pelo espírito de Mamom, em vez de o ser pelo Espírito de Deus. Os fins e os meios foram invertidos. Ao invés de utilizar o dinheiro para servir a Deus, as pessoas estavam sendo encorajadas a usar Deus para obter dinheiro.
O raciocínio segue a seguinte linha: a falta de dinheiro é identificada como a maior necessidade de muitas pessoas. De acordo com as Escrituras, pobreza (falta de dinheiro) não é vontade de Deus. O princípio bíblico da semeadura e colheita é apresentado (em Marcos 4 ou passagens semelhantes). A melhor forma de ter as necessidades supridas seria espalhar a semente (dinheiro) e, então, Deus a multiplicaria por 30, 60 ou 100.
Agora, o que há de errado nisso?
A verdade é que a pobreza e a necessidade não são a vontade de Deus para seu povo. Ele realmente quer supri-lo e abençoá-lo. O princípio de semeadura e colheita, de fato, aplica-se ao dinheiro. Então, qual é o problema? O problema, é claro, está na inversão da relação senhor-escravo e fins-meios. Isso enfoca o dinheiro como objetivo. “Se não temos dinheiro suficiente, usamos Deus e seus princípios para obtê-lo. Quando o tivermos, estaremos bem”. NÃO! Deus não é nosso servo para conseguir dinheiro para nós. O dinheiro é nosso servo para expandir o Reino. Deus é nosso Mestre. Nós somos seus mordomos chamados para administrar o dinheiro sob sua direção.
Se o Senhor é minha fonte, então meu emprego, ou meus investimentos, ou minha conta bancária, ou meu marido são meramente o canal que ele usa, no momento, para trazer minha provisão. Assim, se eu recebo a notícia de que vou perder meu emprego ou de que a economia vai quebrar, não fico atemorizado pela falta de provisão, pois a minha fonte (Deus) não mudou. O amor de Deus por mim não mudou. Minha provisão está segura. Ele simplesmente está mudando o canal de suprimento. Se Deus é minha fonte, então o dinheiro torna-se meu servo com o qual sirvo ao Reino. Se o dinheiro é minha fonte, Deus não será meu servo para que eu o obtenha.
Portanto, Deus e Mamom têm poder, mas o dinheiro não tem. O dinheiro será meu servo ou meu senhor, dependendo de quem eu esteja servindo: a Deus ou ao espírito de Mamom.
Craig Hill e Earl Pitts
Extraído e adaptado do livro Bens, Riquezas e Dinheiro, de Craig Hill e Earl Pitts, Bless Gráfica e Editora Ltda, Pompeia, SP (Universidade da Família).