Uma das condições para estudar a Bíblia com o máximo de proveito é estudá-la como a Palavra de Deus. O apóstolo Paulo, ao escrever ao tessalonicenses, dava graças incessantes a Deus por eles terem recebido a palavra anunciada “não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus” (1 Ts 2.13).
Aquele que não crê que a Bíblia é a Palavra de Deus deve ser encorajado a estudá-la. Anteriormente eu também duvidava que fosse a Palavra de Deus, mas hoje a firme confiança que tenho veio mais do estudo da própria Bíblia do que de qualquer outra fonte. Aqueles que duvidam são geralmente os que estudam sobre a Bíblia e não os que investigam e buscam dentro dos próprios ensinamentos da Bíblia.
Estudar a Bíblia como Palavra de Deus envolve quatro coisas:
1. Envolve a aceitação incondicional dos seus ensinamentos, assim que forem claramente descobertos, mesmo que pareçam ser irrazoáveis ou impossíveis. A razão exige que submetamos nosso juízo e raciocínio às declarações da sabedoria infinita. Nada é mais irracional que o racionalismo que faz da sabedoria finita o teste para avaliar a sabedoria infinita; e que submete os ensinamentos da onisciência de Deus à aprovação do juízo humano. A mente presunçosa diz: “Isto não pode ser verdade, mesmo que Deus o tenha dito, pois não é aprovado por minha razão”. “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?!” (Rm 9.20).
A verdadeira sabedoria humana, ao encontrar-se com a sabedoria infinita, curva-se diante dela e diz: “Fale o que quiser e acreditarei”. Uma vez formos convencidos de que a Bíblia é a Palavra de Deus, seus ensinamentos terão de ser o fim de toda controvérsia e discussão. Um “Assim diz o Senhor” resolve toda questão. Entretanto, muitos que afirmam acreditar que a Bíblia é a Palavra de Deus balançam a cabeça e dizem: “Sim, mas eu acho assim e assim”; ou “Doutor fulano, ou Professor beltrano, ou nossa igreja ensina de outra maneira”. Nesta base, há pouco proveito para o estudo da Bíblia.
2. Estudar a Bíblia como Palavra de Deus envolve total confiança em todas suas promessas, em toda sua extensão e abrangência. A pessoa que estuda a Bíblia como Palavra de Deus não descontará uma vírgula de qualquer uma de suas promessas. Ele dirá: “O Deus que não pode mentir prometeu”, e não tentará fazer Deus de mentiroso, fazendo com que sua palavra signifique menos do que de fato está dizendo. Aquele que estuda a Bíblia como a Palavra de Deus estará sempre à procura das suas promessas. Ao encontrar uma, procurará verificar seu verdadeiro significado, e então colocará sua confiança total no que ela diz.
Este é um dos segredos do estudo proveitoso da Bíblia. Procure por promessas, e aproprie-se delas o mais rápido que puder, preenchendo as condições e arriscando tudo por elas. É assim que se toma posse de toda a plenitude da bênção de Deus. Esta é a chave a todos os tesouros da graça de Deus. Feliz é o homem que aprendeu a estudar a Bíblia de tal forma que está pronto para apropriar para sua vida cada promessa que encontra, e a arriscar tudo para confiar nela.
3. Estudar a Bíblia como Palavra de Deus envolve obediência imediata a todos os seus princípios. Obediência pode parecer algo duro e impossível; mas Deus a ordenou, e nada temos a fazer, senão obedecer e deixar os resultados com ele. Para ter proveito no seu estudo da Bíblia, decida que de hoje em diante se apropriará de cada promessa que lhe for revelada, e que obedecerá a cada ordem clara. Se o significado da promessa ou da ordem não for claro, procure esclarecimento e luz para entender.
4. Estudar a Bíblia como Palavra de Deus envolve estudá-la como se estivesse na presença de Deus. Quando lê um versículo da Escritura, ouça a voz do Deus vivo falando diretamente a você naquelas palavras escritas. Há um novo poder e uma nova atração na Bíblia quando se aprende a ouvir uma pessoa viva e presente Deus, nosso Pai conversando diretamente consigo naquelas palavras.
Uma das afirmações mais fascinantes e inspiradoras na Bíblia é: “Andou Enoque com Deus…” (Gn 5.24). Podemos ter a gloriosa companhia de Deus a qualquer momento, simplesmente abrindo sua Palavra, e deixando o Deus vivo e sempre presente falar conosco através dela. Que reverência santa, que alegria estranha e inexprimível, se sentirá quando se estuda a Bíblia desta maneira! É o céu descendo para a terra.
A Chave do Entendimento
Outra condição para o estudo bíblico proveitoso é uma atitude de oração. O salmista orou: “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei” (Sl 119.18). Todo aquele que desejar um estudo proveitoso deve oferecer uma oração semelhante cada vez que começar a estudar a Palavra. Poucas chaves poderão abrir muitos “cofres” trancados cheios de tesouros. Poucas pistas poderão levar à solução de muitos enigmas. Poucos microscópios desvendem muitas maravilhas escondidas dos olhos do observador comum. Quanta luz nova brilha a partir de um texto conhecido quando se dobra o joelho colocando o texto diante dele em oração!
Eu acredito que se deve estudar a Bíblia freqüentemente de joelhos. Quando se lê um livro inteiro de joelhos o que pode ser feito sem dificuldade alguma aquele livro assume um novo significado e se torna um novo livro. Nunca se deve abrir a Bíblia sem pelo menos elevar seu coração em oração silenciosa, pedindo que a interprete e que ilumine suas páginas com a luz do seu Espírito. É um raro privilégio estudar qualquer livro sob a orientação imediata e a instrução do seu autor; no entanto este privilégio é de todos nós quando estudamos a Bíblia.
Quando chegar a uma passagem de difícil compreensão, ou difícil interpretação, ao invés de desistir, ou de correr para algum conhecido erudito, ou para algum comentário, coloque a passagem diante de Deus e peça-lhe para explicá-la. Clame baseado na promessa: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando…” (Tg 1.5-6).
Harry Morehouse, um destacado estudioso da Bíblia, dizia que quando encontrava uma passagem da Bíblia que não conseguia compreender, buscava por uma outra passagem que pudesse iluminá-la, e colocava-a diante de Deus em oração. Afirmou que nunca encontrou uma passagem que resistisse a este tratamento.
Alguns anos atrás, viajei pela Suíça com um amigo, e visitamos algumas das famosas cavernas zoolíticas que existem ali. Um dia fomos convidados para ver uma caverna de rara beleza e interesse, longe das trilhas turísticas mais conhecidas. O guia nos conduziu através de matas e arbustos à entrada da caverna.
Quando entramos, tudo estava escuro e escabroso. O guia fez uma longa exposição sobre a beleza da caverna, contando sobre os altares e formações fantásticas; no entanto, não podíamos ver absolutamente nada. De vez em quando, dava uma advertência para tomarmos cuidado, pois próximo aos nossos pés estava um abismo cujo fundo nunca fora alcançado. Começamos a temer que fôssemos os primeiros a descobrir aquele fundo.
Não havia nada de agradável em tudo isso. Mas logo acendeu-se um lume de magnésio, e tudo se transformou. Estalagmites subiam do solo para se encontrar com as estalactites que desciam do teto. O grande altar da natureza que a imaginação primitiva atribuía à habilidade dos religiosos da antigüidade, e as belas e fantásticas formações minerais por todos os lados, reluziam juntos com beleza mágica sob o reflexo da luz.
Comparei muitas vezes esta experiência a uma passagem das Escrituras. Os outros podem descrever sua beleza, mas você não a enxerga. Parece-lhe até escura, intricada, ameaçadora e perigosa; entretanto, quando a própria luz de Deus é acesa ali pela oração, tudo se transforma num instante. Vê-se uma beleza que linguagem não pode expressar. Somente aqueles que puderam estar ali naquela mesma luz podem apreciá-la.
Quem quiser compreender e amar sua Bíblia precisa estar em muita oração. Oração conseguirá mais do que uma formação universitária para fazer da Bíblia um livro aberto e glorioso.
Extraído de How to Study the Bible (Como Estudar a Bíblia) por R. A. Torrey.
Traduzido por: Felipe Neto