“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do Seu poder”.
Fortalecidos pela Palavra de Deus
Alguma vez vocês já fizeram a si mesmos a pergunta: porque Deus nos deu a Bíblia? Esta é a resposta. Foi-nos dada para fortalecer-nos, para edificar-nos em nossa fé santíssima. Obviamente, pois, quanto mais partilharmos dela, mais fortes seremos. Se quisermos fortalecer-nos “no Senhor e na força do seu poder”, uma das primeira coisas que temos de fazer é ler, mastigar e assimilar completamente este Livro.
Ora, isso não significa apenas ler apressadamente a sua porção diária e sair correndo para apanhar o seu trem. Isso não é realmente tomar a Bíblia como alimento. Creio firmemente na leitura sistemática da Bíblia. Há os que desperdiçam muito tempo abrindo a Bíblia ao acaso ou lendo passagens favoritas. Não há nada melhor do que ser um leitor sistemático da Bíblia e assegurar-se de passar pela Bíblia toda ao menos uma vez por ano. Contudo o diabo pode fazer disso uma armadilha. Você pode ter a sua porção diária impressa nem cartão, e o perigo está em você preocupar-se mais com a leitura da sua porção diária do que com o que você está lendo. E isso não lhe servirá de ajuda. Você pode ler por alto os versículos e deslizar sobre eles de tal maneira que bem poderia estar lendo um romance. Você pode ter lido a sua porção diária, mas captou a verdade? Realmente a assimilou? Todavia você não pode engolir sem mastigar este alimento. Você tem que mascá-lo e mastigá-lo, de modo que seja digerido completamente e venha a fazer parte da sua constituição e edificá-lo. A Bíblia nos dá conhecimento, e o conhecimento nos edifica. O verdadeiro entendimento, o verdadeiro conhecimento, é algo que nos fortalece, nos edifica e nos firma na fé.
As Escrituras se nos recomendam da seguinte maneira: vejam o Antigo Testamento, por exemplo. Há muitos que insensatamente dizem que não vale a pena ler o Antigo Testamento. “Ah”, dizem eles, “isso está terminado para nós, estamos no Novo Testamento. A história judaica do antigo Testamento é muito interessante a seu modo, mas não tem nada para oferecer-nos a nós, cristãos”. Não é o que o Novo Testamento diz a respeito do Antigo. O Apóstolo Paulo, por exemplo, em 1 Co 10:6, refere-se a uma parte da história do Antigo Testamento. Ele nos lembra que os filhos de Israel foram tirados do Egito sob a liderança de Moisés, e que eles passaram pelo Mar Vermelho. “E”, diz ele, “estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram”. Noutras palavras, vocês podem aprender muito dos filhos de Israel no Antigo Testamento. O versículo 11 acrescenta: “ora tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos”. Colocado diferente, aí está um homem do tempo do Novo Testamento confrontado pelo diabo e suas artimanhas, e pelos principados e potestades. Como se deve fortalecer? Um modo muito bom, diz o Novo Testamento, é ler o Antigo Testamento. Não exclusivamente, é claro. Leiam o Novo Testamento também, porém, certamente, leiam o Antigo Testamento, porque ali vocês verão algumas admoestações maravilhosas. Os filhos de Israel eram o povo de Deus; mas vejam a história deles. Vejam o seu comportamento vergonhoso e as derrotas a que foram submetidos. A vergonha lhes sobreveio porque eles não se lembravam de que eram filhos de Deus. Começaram a por a sua confiança em si mesmos, em seus exércitos, em seu poder. Fizeram aliança com o Egito e com a Assíria, e foram derrotados; simplesmente porque foram tolos; não se aperceberam de quem eles eram e não confiaram na força do poder do Senhor. Leiam a história deles, diz o Novo Testamento; foi escrita para nossa aprendizagem. Não cometam os mesmos erros que eles cometeram; olhem para eles, e estejam advertidos.
Portanto, quando você lê o antigo Testamento, é advertido desta maneira justamente contra este perigo. Quando você vê outros que se extraviaram, você é fortalecido. É um argumento óbvio, não é? O homem sábio sempre aprende com os erros dos outros que estão no mesmo ramo, seja este qual for. Ele vê um homem marchando para a desgraça, e pergunta: “Bem, que foi que esse homem fez que não devia ter feito? Onde errou? Que engano cometeu? Ah”, diz ele, “foi neste ou naquele ponto. Muito bem, vou estar vigilante naquele ponto”. Pois bem, isso é sabedoria. Esse é precisamente o argumento utilizado aqui: “Estas coisas são exemplos para nós”.
Ou, veja ainda romanos 15:4 “porque tudo o que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança”. Foi por isso que a Igreja Primitiva decidiu incorporar o antigo Testamento em seus novos documentos. O mesmo Deus, falando em ambos os Testamentos; o mesmo povo de Deus é o assunto do registro de ambos. Podemos aprender do Antigo Testamento, e aprender tremendamente. Portanto, façamos uso dele, tratemos de lê-lo, de assimilá-lo; ele nos fará fortes. À medida que vemos as admoestações e os perigos, nós nos fortalecemos, pômo-nos em guarda, ficamos prontos a bancar homens. Trabalhemos as suas lições aplicando-as a nós mesmos.
Chegando ao Novo Testamento, as lições são ainda mais óbvias. Por que foram escritas estas Epístolas do Novo Testamento? Foram escritas para alimentar os crentes que estavam sujeitos a errar apesar de crerem em Cristo. Muitos estavam errando na doutrina, e porque erravam na doutrina, erravam em suas vidas. “As más conversações, corrompem os bons costumes” (1 Co 15:33). No momento em que um homem começa a brincar com a doutrina e andar no erro, é certo que toda a sua vida irá na mesma direção. É isso que estamos testemunhando na Igreja e no mundo hoje. Primeiro a Igreja erra na doutrina; depois erra no seu viver. Sempre acontece dessa maneira.
No Igreja Primitiva havia muitos crentes que se afligiam e se alarmavam, pelo que os homens de Deus foram movidos pelo Espírito de Deus para escreverem cartas a eles a fim de fortalecê-los, alimentá-los, dar-lhes entendimento. É só quando temos entendimento que podemos combater. Se você entra na vida cristã pensando que tudo o que tem que fazer é tomar uma decisão e dizer que vai ser cristão; se você supõe que nunca mais vai Ter problemas e dificuldades, que estará sempre reclinado no leito da serenidade, e que será levado para o céu sem fazer nada – se você adere à fé com essas idéias e pensa que isso é cristianismo, não demorará a tornar-se desditoso e infeliz. Ver-se-á fracassando, verá todas as coisas irem mal com você; terá todo tipo de dificuldade e começará a perguntar se há mesmo algo no cristianismo. Muitos entraram nessa experiência.
A resposta é conhecer o Novo Testamento, conhecer a verdade acerca da vida cristã, compreender que “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições”. Paulo teve que dizer essa verdade a Timóteo repetidas vezes. Timóteo queixava-se porque era perseguido e havia gente que não estava sendo bondosa com ele e que lhe estava fazendo coisas desagradáveis. Ele temia e tremia, indagando o que o futuro teria reservado para ele. E Paulo teve que dizer-lhe: “Todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições”. É inevitável. Foi o que coube ao Mestre, e Ele exortava os Seus seguidores a esperarem o mesmo tratamento. “Se chamaram Belzebu ao pai da família, quanto mais aos seus domésticos?” (Mt 10:25).
Também nós precisamos ouvir essas coisas. Sendo preparado dessa maneira pelo ensino, quando me chegar a provação eu não tremerei nem me porei a correr; ficarei firme e direi: “Resisto como homem de Deus. Esta é uma prova da minha vocação. Estou sofrendo perseguição porque sou filho de Deus. Muito bem, estou pronto a resistir”. Igualmente com todos os outros astutos ataques que nos sobrevenham em conseqüência das artimanhas do diabo.
Cada Epístola do Novo Testamento foi escrita para que sejamos fortalecidos para o combate. Quanto mais conhecermos, mais capazes e mais fortes seremos. Por outro lado, o ensino que lhe diz que você não tem de fazer nada, senão deixar tudo com o Senhor, está realmente dizendo que todas estas Epístolas são totalmente desnecessárias. Mas o Novo Testamento afirma que elas são essenciais. Afirma também que são necessários diferentes tipos de ensino em diferentes estágios da experiência. “Com leite vos criei”, diz Paulo aos coríntios, “e não com manjar, porque ainda não podíeis, nem tão pouco ainda agora podeis” (1 Co 3:2). Sejam quais forem as suas condições e o seu estado neste momento, há o alimento e a bebida apropriada para você na Palavra. Se você é um bebê recém-nascido em Cristo, há o “leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo” (1 Pe 2:2). Esse é o propósito de todas as Escrituras. Há leite para bebê; porém há alimento forte, ao “sólido mantimento” (Hb 5:12). Sejam quais forem as suas condições espirituais, você precisa do alimento adequado. Você vive de leite enquanto é bebê, mas não vai passar o resto da vida vivendo de leite. Você passa a Ter “sólido mantimento”. Na esfera física há diferentes tipos e graus de alimento. E é exatamente a mesma coisa na vida cristã. Temos que ir adiante e ficar cada vez mais fortes, até chegarmos à vida adulta. Por isso João divide a Igreja em “filhinhos”, “jovens” e “pais” (1 Jo 2:13-14) – diferentes graus, de acordo com a maneira pela qual eles cresceram e se desenvolveram.
Fortalecidos pela Oração
Também devemos considerar a oração. A oração não é senão outro modo de receber sustento, força, vigor e poder. A oração não é só feita de petições; a oração é, primariamente, amizade e comunhão com Deus. Cristo diz: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Ap 3:20). Não é uma declaração evangelística, é dirigida à Igreja, aos cristãos autênticos. Ele se dispõe a entrar e cear conosco. É esse o significado da oração. Não é apenas elevar as nossas petições e fazer os nossos pedidos a Deus. Significa abrir a porta, Cristo entra, toma assento no outro lado da mesa e fala com você durante a refeição. Amizade e comunhão! E quando você conversa com Ele e com Ele ceia, você recebe Dele força e poder. Você Lhe faz pedidos, e Ele fala com você sobre Ele e sobre o Seus interessa por você e sobre como Ele cuida de você. Oração é comunhão, é Ter comunhão, é manter uma conversação com Deus o Pai, Deus os Filho e Deus o Espírito Santo. É assim que a gente se fortalece.
Os mais santos sempre foram homens de oração, e passavam muito tempo em oração. Os crentes do Novo Testamento, quando em dificuldade, sempre buscavam a Deus em oração. E quando oravam não começavam falando da sua dificuldade; começavam adorando, prestando culto e louvando a Deus. Sempre começavam apercebendo-se da Sua presença e tomando consciência da Sua presença. Um dos maiores homens de oração do século passado foi o piedoso George Muller, de Bristol. Era experimentado na oração; e ele ensinava que a primeira coisa que se deve fazer na oração é dar-se conta da presença de Deus. Você não deve começar falando imediatamente. Você pode proferir muitas frases, mas será melhor não fazê-lo se não tiver se apercebido da presença de Deus. É preciso haver amizade, esta comunhão, esta conversação. E a percepção de que você está em Sua presença é infinitamente mais importante do que qualquer coisa que você possa dizer. Quando a temos, enchemo-nos de energia e poder.
Outra vez é óbvia a analogia humana. Quando você está na presença de uma pessoa piedosa, sempre você se sente melhor, você se sente mais forte. Multiplique isso pelo infinito e verá que a percepção da presença do Deus Triúno é a maior fonte possível de poder, vigor e energia.
Fortalecidos pelos Sacramentos
Por último, lembremos-nos das ordenanças – o Batismo e a Ceia do Senhor – em particular a Segunda. O objetivo da Ceia do Senhor é fortalecer-nos, dar-nos vigor, energia e vida. “Tomamos de Cristo”. De novo precisamos lembrar-nos de evitar o erro no qual caíram os judeus que se ofenderam com as palavras do nosso Senhor e que as interpretaram carnalmente, e não espiritualmente. Não cremos na transubstanciação, não acreditamos em nenhuma mágica desse tipo. Não, na Ceia há um “tomar” espiritual do Senhor. Ele escolheu esta analogia simples, e ela nos ajuda muito. Os homens comem pão e vinho, e isso é uma figura da maneira pela qual “tomamos Dele”. Não somente recordamos Sua morte. Começamos com isso; mas também nos lembramos de que Ele ressuscitou e de que Ele é a Cabeça da Igreja, que nos dá vida e poder. “Tomamos Dele”. “Tomamos de Ti, Pão vivo”. Alimentamo-nos de Cristo, participamos Dele, e nos lembramos de que Ele é a nossa vida, o nosso vigor, a nossa energia, tudo para nós. Ele nos fortalecerá, nos habilitará a voltarmos à peleja e a lutarmos como homens. Aqui vemos a razão para participarmos da Ceia do Senhor. Não há nada nela que, num sentido, você não receba da Palavra pregada, entretanto é um outro meio para recebê-la. Ele designou a pregação da Palavra, ele designou também esta ordenança – o partir do pão e o beber do vinho. E deste modo participamos Dele. Alimentamo-nos com o Pão da vida. Ele é o maná celestial, é o alimento de Deus para a alma, e tomamos Dele. E saímos da participação da Ceia com novo poder, novo vigor, fortalecidos “no Senhor e na força do Seu poder”. Deus faz abundante provisão para nós, e é nosso dever participar abundantemente daquilo que Ele providenciou. É desse modo que nos fortalecemos “no Senhor e na força do Seu poder”.