“Deus vem de Temã, e do monte Parã vem o Santo. A sua glória cobre os céus, e a terra se enche do seu louvor” (Hc 3.3).
Catástrofes climáticas: inundações, incêndios florestais, terremotos, tufões, ciclones, nevascas. A natureza pirou! Um tornado arrasou a pequena cidade de Muitos Capões, no RS ao mesmo tempo em que um ciclone tropical devastava várias cidades dos Estados Unidos, entre elas Nova Orleans. E ainda nos lembramos do tsunami que varreu várias cidades litorâneas da Ásia.
Será que Deus ainda usa a natureza para manifestar sua presença como fazia no passado? Alguns dizem que não; que ele agora fala pela palavra escrita e revelada, a Bíblia; e que tudo o que quer nos dizer é dito através de Jesus Cristo e da Pessoa do Espírito Santo. Outros acham que só os pagãos viam nos desastres da natureza a manifestação da ira dos deuses. Os que assim afirmam, desconhecem que os não pagãos também viam a ação da natureza como manifestação divina. Se Deus não mais fala através dos elementos da natureza, que mensagem ela está querendo comunicar? São perguntas que devem ser respondidas com reflexão séria e estudo da Bíblia.
Concordo plenamente que Deus hoje fala pela palavra e por Jesus Cristo, mas não posso ignorar a relação entre Deus e natureza, do contrário estarei desprezando a mesma palavra revelada deixada nas escrituras sagradas. A questão se Deus ainda fala pelos elementos naturais depende da interpretação que as pessoas dão conforme seu conhecimento, estudo e religião.
No Antigo Testamento Deus usou os elementos da natureza para levar adiante seu propósito, como no caso da seca nos dias de Jacó, usando-a como meio de levar a família patriarcal para o Egito, onde deveria ficar por quatrocentos anos. Usou a natureza para chamar a atenção do povo de Israel nos dias de Davi. Três anos de seca e sem boa safra levaram Davi a perguntar a Deus a razão de tanta desgraça; e Deus lhe respondeu que Saul não cumprira sua parte no tratado com os gibeonitas feito nos dias de Moisés (2 Sm 21). Nos dias de Elias a seca serviu de sinal de Deus para o povo de Israel. Ora, se usamos um texto do Antigo Testamento para defender a prática dos dízimos, por que desprezar o versículo seguinte? “Por vossa causa, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra…”. Se o leitor se dispuser a pesquisar, encontrará farto material nas páginas da Bíblia Sagrada.
Quem melhor trata deste assunto é o profeta Habacuque. Três dos versículos mais usados por nós pregadores como manifestação da glória e do conhecimento de Deus citados pelo profeta, dizem respeito a Deus e sua manifestação na Natureza. É neste contexto que Habacuque fala que a “terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar”; “O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra” e, “aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a conhecida” (Hc 2.14, 20 e 3.2).
Em nenhum momento o profeta está espiritualizando o texto como costumamos fazer. Quando pregamos sobre eles, falamos da glória de Deus, como sendo a manifestação shequiná de sua presença; da santidade de Deus dentro do “templo” de alvenaria onde vamos cultuar, e do avivamento do Espírito Santo na igreja, versículo este que serviu de inspiração para um dos mais lindos cânticos da hinódia cristã. No entanto, todos estes textos falam da glória de Deus que deverá ser vista na manifestação de sua presença através da ação da natureza. E quando diz, “aviva a tua obra, ó Senhor”, não está falando de avivamento na igreja, da salvação de almas e de avivamento entre os crentes – e não está errado usar o texto neste sentido – mas de Deus “avivar” pela manifestação da sua obra, que é a sua criação.
Por isso, depois de ouvir o que Deus lhe diz enquanto está no seu lugar de sentinela na torre, o profeta faz a oração cujo registro está no capítulo três. E a oração em forma de cântico do profeta fala de um Deus que se manifesta usando as obras de suas mãos, a natureza. “Deus vem de Temã”, exclama o profeta, exemplificando o que aconteceu nos dias do povo de Israel no deserto quando os montes fumegavam, a terra tremia e, anuncia que este tipo de ação da natureza era “a glória de Deus”. “A sua glória cobre os céus, e a terra se enche do seu louvor” (3.3). Em nenhum momento estes versículos que tratam de glória, conhecimento, avivamento e de templo referem-se ao poder do Espírito Santo, como conhecemos, mas da terra, que é anunciada pelo profeta como o templo de Deus ficar cheia da sua glória, isto é, das manifestações da natureza.
“Saindo tu, ó Senhor, de Seir, marchando desde o campo de Edom, a terra estremeceu; os céus gotejaram, sim, até as nuvens gotejaram águas. Os montes vacilaram diante do Senhor, e até o Sinai, diante do Senhor, Deus de Israel” (Jz 5.4-5). Costumo dizer que sempre que Deus se manifestou criou problemas para o homem, e sempre que alguém teve um encontro com Deus passou mal! A presença de Deus causa estragos, porque coloca em ordem e ajusta o que está errado na vida do homem e da terra.
No passado, este tipo de manifestação da Natureza levava as pessoas a fazerem sacrifícios para aplacar a ira dos deuses, originando-se daí deidades adoradas por todos os povos. Algumas práticas de adoração ainda podem ser vistas nas religiões animistas do Brasil. No entanto, os que conheciam o Deus verdadeiro tinham sua atenção chamada para o Criador, o Senhor de todas as coisas. Se puder, por favor, leia todo o capítulo três de Habacuque e terá uma idéia de como o profeta via a ação de Deus. Ele exclama: “Acaso é contra os rios, Senhor, que estás irado?”, e depois descreve a ação da natureza como a passagem de Deus pela terra, dizendo: “Na tua indignação marchas pela terra, na tua ira, calcas aos pés as nações” (3.12).
E mesmo os que tinham noção de um Deus invisível que não era adorado em forma de imagens, como os judeus, sabiam que Deus se manifestava através dos elementos da natureza, como fogo, água, vento e terremotos. Os profetas de Deus usavam os elementos da natureza para mostrar ao povo a força de Deus. Moisés, Samuel e Elias demonstraram isto muito bem.
Assim, se pudermos olhar pelo ângulo de visão do Antigo Testamento entenderemos que a natureza não está descontrolada; é Deus querendo falar à humanidade. Quando o povo, mesmo os cristãos comprometidos ou nominais desprezam a palavra de Deus, não resta outro recurso para Deus que lançar uns raios e um pé-de-vento para dizer: “Hei! Estou aqui!”.
Será que as pessoas que recusam ouvir a pregação do evangelho de Cristo estão ouvindo Deus falar pela Natureza? Terá a população do Mississipi ouvido a voz de Deus? Ou ele terá que falar mais alto?
“Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar”.
Nota do Webmaster: Transcrevo abaixo um artigo publicado pela Agência Reuters:
16/10/2005 – 16h38
Cristãos dos EUA acreditam que Katrina foi “castigo de Deus”
Por Paul Simao
NOVA ORLEANS (Reuters) – Quando o furacão Katrina devastou a cidade de Nova Orleans, inundando bairros inteiros durante semanas, alguns disseram que o desastre não foi simplesmente um ato da natureza, mas uma mensagem de um Deus furioso.
Esta é a crença de alguns cristãos nos Estados Unidos, que vêm alertando aos moradores de Nova Orleans, cidade conhecida por seu jeito hedonístico e por sediar o Mardi Gras, espécie de Carnaval local, de que a cidade poderia receber uma boa dose de “retribuição” divina.
“Existe uma nuvem espiritual negra sobre Nova Orleans há muitos anos”, disse o reverendo Franklin Graham, filho do influente pregador norte-americano Billy Graham.
Afirmando que Nova Orleans era uma cidade conhecida pela veneração ao satã, orgias e consumo disseminado de bebidas e drogas, o reverendo falou que algumas pessoas acreditam que Deus estava usando o furacão para causar um despertar religioso no local.
“Talvez Deus irá nos purificar”, disse após o furacão Olive Thomas, presidente do Conselho de Nova Orleans.
Para alguns cristãos, uma boa purificação começaria nos salões, bares gays e clubes de danças eróticas da famosa rua Bourbon, no Bairro Francês, que ironicamente ficou quase ilesa em meio à passagem do Katrina.
É lá que turistas e moradores locais se juntam, especialmente durante as celebrações anuais do Mardi Gras, quando a nudez pública e a folia dos bêbados se tornam quase uma regra.