Divórcio e Novo Casamento

Notas:  Amados, este material aborda de maneira excelente a questão do divórcio e novo casamento. O material foi agrupado neste documento para facilitar a leitura e distribuição aos irmãos.

Introdução

Este é um dos temas mais controvertidos e polêmicos da atualidade. Não é fácil abordar este assunto por causa das muitas implicações e conseqüências para o homem e a mulher, para a família, para a sociedade e principalmente para a Igreja.

Infelizmente são poucos os que ousam estudar a respeito e muitos que fogem de uma confrontação, quer por motivos pessoais ou religiosos. Mas é um tema urgente, não só por sua importância, mas principalmente porque pode fazer diferença eterna na vida das pessoas.

Sem falsa modéstia quero deixar claro que não pretendo levantar uma polêmica além do que já existe, nem defender tese em cima deste assunto. As declarações que aquí farei, fazem parte do que eu creio e do que pratico. Espero, sirva para aguçar a mente dos leitores ao questionamento.

Por outro lado, não posso deixar de reconhecer as minhas limitações. Muitas das conclusões são frutos de pesquisas pessoais de homens comprometidos com o Reino de Deus e cuja vida respalda suas palavras. Evitarei citar quaisquer nomes para não me valer de pedaços de argumentos ou citações aleatórias extraídas de livros ou pregações que, muitas vezes, teriam conclusões completamente diferentes às minhas.

Este não é um material de pesquisa ou de estudo. É sim, um alerta e uma chamada ao questionamento.

Desafio aos leitores caminharem comigo nas trilhas sinuosas do humanismo e da falsa religião em direção ao único e seguro caminho da verdade: Jesus!

Ele disse: “Eu Sou o CAMINHO, a VERDADE e a VIDA. Ninguém vem ao Pai senão por mim”.

Se você não concorda com esta declaração, pare agora! Será pura perda de tempo continuar lendo. A base de toda minha argumentação está em Jesus. Tudo vai até Ele e parte Dele. Tudo é sustentado por Ele e esclarecido Nele.

Portanto, qualquer interpretação da Lei de Moisés, dos profetas e dos apóstolos terá que finalizar em Jesus. E por que digo isto? Porque Ele é a autoridade máxima. Ele é o criador de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é o princípio e o fim. Ele é antes de todas as coisas. Nada está fora do Seu controle. Ele tem o mundo em suas mãos. O governo está em suas mãos. É Ele quem manda. Ele é a sabedoria e a expressão exata de Deus.

Ele É! Assim, tratar este assunto fora de Jesus seria pura especulação.

Não temos que estudar sobre divórcio. Temos que estudar sobre casamento, amor e fidelidade dos compromissos entre a mulher e o homem. Temos que estudar formas de: como manter a família unida, os filhos em sujeição e obediência, as esposas amadas e bem protegidas, os homens firmes e amáveis.

Temos também que viabilizar meios para amparar aqueles que foram violentados pela teologia do egoísmo e da justiça própria. Violentados na sua fé pelos argumentos do engano.

O número de casais separados, famílias destruídas, filhos abandonados, esposas traídas e maridos insatisfeitos mostra a realidade da raça humana sem Deus. Fruto de corações duros como pedra, inflexíveis como o aço e enganosos como o pai da mentira. São, todavia, uma massa humana levada pelas correntezas do humanismo que excluem a necessidade de Deus.

As palavras de Jesus ainda soam forte 2000 anos depois de serem proferidas: “Eu, porém vos digo…”.  E o que Ele diz é o que importa!

Jesus e a Lei

É fantástica a maneira como Jesus trata a questão da Lei de Moisés. Aliás, é fantástica a forma como Jesus aborda qualquer questão relativa à lei e aos profetas. Jesus não desfaz nada do que eles disseram nem desconsidera a importância dos mesmos no contexto do povo de Israel ou da humanidade como um todo. Porém, nós que somos chamados de “cristãos” devemos centralizar nossa atenção apenas em Jesus. Isto não significa que desprezemos os ensinos do velho testamento. Eles servem como pano de fundo no cenário histórico onde todos os detalhes apontam para Jesus.

É simples para os de mente simples poder entender o contexto em que Jesus ensinou a respeito de muitos assuntos ao mesmo tempo.

O famoso “sermão do monte”, título que os estudiosos deram a uma conversa de Jesus com Seus discípulos diante de uma multidão. É impressionante como os teólogos gostam de dar títulos e emoldurar conceitos em tornos de assuntos domésticos.

O texto de Mateus capítulo 5 começa dizendo que Jesus viu as multidões e subiu a um monte e assentou-se. Aproximaram-se dele os Seus discípulos, e Ele começou a ensiná-los.

Ele ensinava quem? A multidão ou os discípulos? É óbvio que, ao ler todo texto vemos que não se trata de um sermão evangelístico ou genérico dirigido à multidão. Eram instruções simples para um pequeno grupo de homens comprometidos com Ele.

Aqueles homens haviam recebido uma instrução religiosa e familiar baseada na Lei de Moisés. Como judeus que eram, tinham sido instruídos nas sinagogas e nas escolas rabínicas. Tinham decorado o Pentateuco e seguiam cumprindo à risca as doutrinas familiares. Agora, porém, eles estavam diante de quem a própria Lei e os Profetas deveriam sujeitar-se. A Lei e os Profetas tiveram o seu papel e função que era conduzir os homens até Jesus. Nunca nos esqueçamos desse importante e fundamental detalhe. A Lei e os Profetas eram sombras do que havia de vir.

“Disseram aos antigos…”

Ao ler cuidadosamente o texto de Mateus, vamos encontrar uma série de declarações do tipo: “Disseram aos antigos…” e aí Ele cita partes da Lei de Moisés. Era uma forma de dizer que eles haviam sido ensinados pelos pais, mestres e sacerdotes. Todos os ensinamentos estavam baseados na Lei de Moisés. Agora, ali estava aquele que disse juntamente com o Pai, “façamos o homem à nossa imagem conforme a nossa semelhança”. Ali estava aquele que era antes da Lei.

“Eu, porém vos digo…”

Então Ele afirmava: “Eu, porém vos digo…”. Esse “porém” vai além do que os mestres haviam ensinado. A questão não estava no que a Lei dizia, mas na aplicação da Lei. A lei, por si só é isenta de sentimentos e vontade. É apenas um instrumento que guiava a humanidade para um propósito maior, Jesus!

Jesus sempre questionou os “mestres”. Sobretudo aqueles que usavam da Lei para fazerem valer seus próprios interesses. Chamou-os de hipócritas e mentirosos. Chamou-os de cisternas rotas e poços sem água. Considerou seus ensinos, ainda que baseados na lei de Moisés, como fermento velho. E foi muito enfático ao dizer: “Não façam o que eles fazem…”.

Ele, todavia, estava ali contestando com sua vida e obra toda frieza dos ensinos judaicos e estabelecendo a base do discipulado: “Eu, porém vos digo…”.

Todas as vezes que Ele usou essa expressão, ““Eu, porém vos digo…”, foi muito mais radical, severo e prático.

Radical porque não dá margem para interpretações. Eram palavras que exigiam uma tomada de posição. Era uma confrontação radical do Reino de Deus com a independência do homem.

Severo porque não deixava brecha para a hipocrisia ou para a permissividade. Quem o ouvia sabia que teria que optar em ser como Ele era e fazer o que Ele fazia, ou virar as costas e ir embora.

Prático porque apontava o caminho a seguir. A aplicação dos Seus ensinos era o que tornaria os homens sábios. Ele sabia que um ensino só se tornaria eficaz se fosse colocado em prática.

Na questão relativa ao divórcio, não foi diferente. Ele disse: “Disseram aos antigos, aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio”. “Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de pornéia, faz que ela cometa adultério, e aquele que casar com a repudiada, comete adultério”.

Pornéia é uma palavra grega que abrange qualquer relação sexual ilícita – fornicação, homossexualismo, lesbianismo, bestialidade, etc., porém, ao citar a Lei, Jesus não está se referindo a relações sexuais no casamento, mas sim no ato do casamento, ou seja, ao casar-se, o homem poderia repudiar sua mulher, caso descobrisse que ela não fosse virgem. Trataremos deste assunto em outra ocasião.

Jesus não está explicando a Lei ou tratando do assunto de divórcio. Ele está pondo a base do Seu Governo: “Eu, porém vos digo…”. Em outras ocasiões essa questão ficará mais clara porque os fariseus vão questioná-lo com respeito à Lei e às divergências religiosas da época. Mas fica claro aqui que toda centralidade do ensino era na Sua própria pessoa. Ele não era um mestre da Lei. Ele era a própria Lei. Ele não ensinava como os escribas e fariseus, Ele era ao mesmo tempo o professor e a matéria. Era o sábio e a sabedoria. O fator mais importante do Seu ensino era: “EU, PORÉM VOS DIGO”.

Jesus e os Fariseus

Falar contra o divórcio e o recasamento sem antes mostrar o cenário onde se baseiam os maiores argumentos a favor, seria como desferir murro no ar. A maioria dos sofismas evangélicos se baseia em Mateus 19 e, além das traduções bíblicas tendenciosas a favor do divórcio e recasamento, a maioria dos defensores deixam de contextualizar o episódio com as pessoas envolvidas.

Nesse caso em particular, temos algumas observações que podem ajudar-nos a entender um pouco mais essa questão. O cenário de Mateus 19 é montado com diversos personagens diretos: Jesus, os discípulos, os fariseus e a multidão, e personagens indiretos: O Criador, Moisés, a lei, os pais, o homem e a mulher, os adúlteros, os fornicários, os eunucos.

O episódio não é centrado no divórcio e recasamento, como querem a maioria dos defensores. Na verdade o centro da questão de Mateus 19 é a oposição dos fariseus a Jesus. Nesse caso, tomaram como motivo uma questão polêmica entre eles mesmos. Obviamente não buscavam conselho ou uma opinião que aclarasse a briga entre as duas escolas da época. O objetivo era pegar Jesus nalguma falha.

Se não entendermos essa realidade, vamos cair na “trama” dos fariseus e fazer o “joguinho” deles.

Antes de analisar o texto de Mateus 19, o que faremos em outra ocasião, vamos ver como era a situação entre Jesus e os fariseus, fora desse contexto de divórcio e recasamento.

Nenhum outro grupo representa melhor a religiosidade fria e hipócrita do que a seita dos fariseus. O contraste que havia entre o estilo de vida arrogante e superficial dos fariseus com o estilo de vida simples e profunda de Jesus era tão gritante que não havia como evitar os choques entre eles quando se encontravam.

Algumas advertências de Jesus aos seus discípulos a respeito dos fariseus:

Mateus 5:20; 15:12-14; 16:6, 11-12; 16:11-12; 23:2-4; Marcos 8:15; Lucas 12:1

Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.

Então, acercando-se dele os seus discípulos, disseram-lhe: Sabes que os fariseus, ouvindo essas palavras, se escandalizaram? Respondeu-lhes ele: Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada. Deixe-os; são guias cegos; ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão no barranco.

E Jesus disse-lhes: Adverti, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus.

Como não compreendestes que não vos falei a respeito do pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus?

Então compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus.

Dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai, mas não façais conforme as suas obras; porque dizem e não praticam. Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens, mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.

E ordenou-lhes, dizendo: Olhai, guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes.
Ajuntando-se entretanto muitos milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros, começou a dizer aos seus discípulos: Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.

Declarações fortes de Jesus aos fariseus

Mateus 23:14-15,23,25,27,29; Lucas 11:39, 42 – 44

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos.

E o Senhor lhe disse: Agora vós, fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade.

Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras.

Ai de vós, fariseus, que amais os primeiros assentos nas sinagogas, e as saudações nas praças.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! que sois como as sepulturas que não aparecem, e os homens que sobre elas andam não o sabem.

O posicionamento dos fariseus em relação a Jesus

Mateus 12:14, 24; 16:1; 19.3; 22:15; 27:41-42; Marcos 3:6; 10:2; 12:13; Lucas 5:21; 5:30

E os fariseus, tendo saído, formaram conselho contra ele, para o matarem.

Mas os fariseus, ouvindo isto, diziam: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios

E, chegando-se os fariseus e os saduceus, para o tentarem, pediram-lhe que lhes mostrasse algum sinal do céu.

Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?

E, tendo saído os fariseus, tomaram logo conselho com os herodianos contra ele, procurando ver como o matariam.

Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam nalguma palavra.

Da mesma maneira também os príncipes dos sacerdotes, com os escribas, e anciãos, e fariseus, escarnecendo, diziam: “Salvou os outros, e a si mesmo não pode salvar-se. Se for o Rei de Israel, desça agora da cruz, e crê-lo-emos”.

E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o: É lícito ao homem repudiar sua mulher?

E enviaram-lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem nalguma palavra.

E os escribas e os fariseus começaram a arrazoar, dizendo: Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecado, senão só Deus?

E os escribas deles, e os fariseus, murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?

Jesus ou os fariseus

Quando lemos a respeito de qualquer assunto, sempre ficamos do lado de Jesus. Para a maioria de nós, questionar a Jesus seria uma ofensa. Mas, quando se fala sobre divórcio e recasamento, a maioria prefere ficar do lado dos fariseus.

Não podemos cair na armadilha dos fariseus. Eles advogavam uma causa própria, uma artimanha para pegar Jesus em alguma falha. Portanto, considerar esse fator na análise do texto de Mateus 19, é fundamental para ver que o assunto é muito mais simples do que a polêmica que alguns procuram fazer. A simplicidade era tão grande que os discípulos não tiveram nenhuma dúvida a respeito e nem mesmo questionamentos contra. A única observação que eles fizeram sobre o tema foi com respeito a possibilidade de não casarem, fugindo assim da responsabilidade de manterem-se fiéis à mulher com quem casassem.

No episódio narrado em Mateus 5, 6 e 7 vemos que Jesus foi muito mais enfático e amplo na interpretação da lei de Moisés e acrescenta a frase; “EU PORÉM VOS DIGO”. Essa frase não é para fariseus, mas sim para discípulos. Da mesma forma quando ele fala: “Um novo mandamento vos dou.” não o faz para fariseus, mas para discípulos.

Portanto, se quisermos ser fiéis a alguém, temos que ser fiéis a Jesus e não aos fariseus. E, cuidemos, para não sermos nós mesmos “fariseus”.

Jesus e Suas Respostas

Alguns me perguntam porque estou seguindo esta linha de argumentação e eu respondo que o melhor seria começar analisando os textos mais claros, que não necessitam de interpretação, que definem com poucas palavras o final disso tudo. Todavia, resolvi fazer o caminho oposto porque, salvo os que buscam com sinceridade conhecer a verdade, a maioria tem na mente muitos sofismas, inverdades e argumentações tendenciosas. Portanto, resolvi usar o método do leão quando sai à caça: Os leões nunca vão a favor do vento. Para um bom entendedor…

O capitulo nevrálgico de Mateus 19.1 tem sido a grande plataforma dos defensores do divórcio e do recasamento. Vejamos cuidadosamente esse texto observando os mínimos detalhes:

Esse texto não pode ser analisado isoladamente. Ele precisa do contexto de Marcos 10.1-12. Jesus nesse episódio está com seus discípulos na Judéia. Como sempre ocorria, uma grande multidão O seguia. Uns para ouvir seus ensinos, outros por causa dos milagres, outros por que haviam sido chamados e eram seus amigos, mas havia também aqueles que tentavam pegá-lo nalguma falha. Entre esses estavam os fariseus.

Vemos a intenção dos fariseus no versículo três: “Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o”. Eles sempre buscavam uma forma para pegar Jesus nalguma falha. E, nessa ocasião não foi diferente.

É preciso entender a atitude daqueles homens para não sermos engodados nem cair nas suas armadilhas. A intenção maléfica pode usar de argumentos verdadeiros para induzir alguém a cometer um erro. Qualquer motivo é motiva para quem quer ter motivo. E, os fariseus queriam um motivo para atacar a Jesus.

O objetivo deles não era a verdade a respeito de Divórcio e recasamento, nem mesmo resolver casos pendentes. A verdadeira intenção dos fariseus era atacar a Jesus.

Embora houvesse uma discordância entre eles a respeito desse assunto, porque havia duas correntes de pensamento e prática entre eles, a verdadeira intenção não era resolver a questão dessa divergência. A intenção era colocar Jesus numa posição inconfortável diante da lei, dos discípulos e da multidão. Eles precisavam de algo para acusar a Jesus. Assim, seguindo uma estratégia astuta, eles fazem duas perguntas a Jesus.

1) Primeira pergunta: “É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?”.

Aparentemente é uma pergunta simples e objetiva. Mas ela vem carregada de malícia e um sofisma perigoso.

Como já disse, havia duas correntes de pensamento. Havia duas escolas que divergiam quanto ao assunto relativo à mulher e ao divórcio. Os mais liberais, que eram seguidores das idéias do rabino Hillel, sustentavam que o homem podia repudiar a sua mulher por qualquer motivo. Os mais conservadores e ortodoxos, esses seguidores do rabino Sammai, afirmavam que o homem só poderia deixar a mulher se encontrasse “alguma coisa indecente” nela.

A pergunta dos fariseus, embora tenha a intenção de colocar Jesus entre as duas opiniões, o que levaria Jesus a se por do lado de uma ou de outra, também dá a chave para uma resposta radical de Jesus. Para Jesus, a primeira parta da pergunta é a mais importante e deve ser respondida: “É lícito ao homem repudiar a sua mulher?”.

Não é estranho que eu faça essa distinção porque, ao lermos outros evangelhos vamos observar exatamente esse detalhe. Vejamos!

Marcos 10:2 E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o: “É lícito ao homem repudiar sua mulher?”.

Como podemos ver, a pergunta a ser respondida é a que está isenta de sofisma e malícia. E foi essa a pergunta que Jesus respondeu.

2) Resposta de Jesus à primeira pergunta

A resposta de Jesus poderia ser dita de uma forma direta e isso bastaria. Poderia dizer simplesmente, Não! Não é lícito o homem repudiar a sua mulher! E, assim estaria encerrada a discussão.

Todavia, Jesus dá uma resposta mais ampla voltando ao princípio de tudo. Ele busca nas Escrituras a base para o casamento e o conceito da indissolubilidade do mesmo. Ele diz: “Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne” – Mt 19.4-6ª e Mc 10.6-8.

Aqui temos três importantes detalhes a serem considerados:

“a) Deixará o homem pai e mãe” Não é preciso ser um grande exegeta para admitir que somente uma pessoa “solteira” estaria ainda debaixo da guarda e da autoridade de um pai e mãe. Assim, estabelecesse que para que haja um casamento, os envolvidos devem deixar esse estado civil, solteiros, e sair da casa dos pais. Esse é um detalhe que vai contra o que normalmente acontece nos casos de divórcio que é: “deixará a mulher ou o homem com quem está casado”.

b) “Se unirá a sua mulher” Aqui temos um detalhe simples a considerar. A mulher não pode ser de nenhum outro homem. Não se pode casar com uma mulher casada, que tenha sido de outro homem. Isso vai contra o que normalmente ocorre nos casos de divórcio e recasamento que é: “se unirá à mulher que foi de outro homem”.

c) “E serão dois numa só carne” Aqui está a liberação para a relação sexual como um selo para o casamento. Não existe casamento sem que haja essa união sexual. Entretanto, é preciso considerar que qualquer relação sexual torna os dois envolvidos sexualmente em “uma só carne”. Mas, o fato de se unirem sexualmente não significa que já estejam casados. A união sexual define a situação moral das pessoas envolvidas no conjunto de outros fatores. Por exemplo, Paulo diz que “aquele que se une a uma prostituta se torna uma só carne com ela” – 1 Co 6.15-16. Nem por isso está casado com ela.

Em síntese, o casamento ocorre entre duas pessoas solteiras, que deixaram a casa de seus pais, se uniram num pacto mútuo selado com a relação sexual. Obviamente essa seqüência de fatos deve estar respaldada pelos pais e pela sociedade.

Bem, esse detalhe preliminar da resposta de Jesus à primeira pergunta dos fariseus ainda não responde completamente o questionamento: “É lícito ao homem repudiar a sua mulher?”. Os três aspectos expostos acima mostram o que é e como se processa um casamento. A resposta de Jesus vem de uma declaração única nas escrituras, descrita tanto por Mateus como por Marcos.

É a declaração que responde a primeira pergunta dos fariseus, ele disse: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” Mt 19.6b e Mc 10.9. Essa declaração de Jesus faz parte do “EU, PORÉM VOS DIGO”.

Quando um homem solteiro e uma mulher solteira deixa pai e mãe, se unem num pacto mútuo e selam esse pacto numa relação sexual, Deus, que os fez “macho e fêmea”, também os considera casados e, o que Deus ajuntou, não o separe o homem. Assim, a resposta de Jesus aos fariseus é: Não é lícito ao homem repudiar a sua mulher! Não é permitido! Não pode! Não deve! Seja qual for o motivo, não é lícito ao homem repudiar a sua mulher! Ponto Final!

A seguir vamos analisar a Segunda pergunta dos Fariseus e a sábia resposta de Jesus:

Quando separamos as duas perguntas que os fariseus fizeram a Jesus, eliminamos por parte os sofismas embutidos nas argumentações a favor do divórcio e recasamento. É preciso considerar que Jesus respondeu a primeira pergunta dos fariseus e concluiu dizendo: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”. Em outras palavras Ele está impondo a Sua definição como sempre fizera: “EU, porém vos digo, o que Deus ajuntou, não o separe o homem”.

Essa expressão de Jesus foi dita uma única vez respondendo a uma única pergunta dos fariseus que queria saber se era lícito o homem repudiar a sua mulher. A conclusão de Jesus foi: NÃO! Não é lícito o homem repudiar a sua mulher.

Mas, os fariseus tinham uma “carta marcada” escondida na manga. Vamos então para a segunda pergunta dos fariseus:

1) Segunda pergunta: “Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la?”.

Essa pergunta também vem carregada de armadilhas. Essa pergunta tem uma trama, uma distorção da verdade e uma indução ao erro. Obviamente eles evocam a lei e trazem à tona o assunto que sempre foi motivo de discussão entre as escolas de Hillel e Sammai. Não fujamos dos motivos dos fariseus. Eles queriam pegar Jesus numa falha. Era como se agora eles tivessem encurralado Jesus num canto e dissessem: “Como é que você diz que não é lícito ao homem repudiar a sua mulher, quando Moisés afirmou que sim?”. Dá pra perceber a intenção dos fariseus?

Se eles citam Moisés, é óbvio que Jesus teria que dar uma resposta a isso. Mas Jesus não caiu na armadilha e novamente impõe a Sua autoridade nessa questão. Ele responde a essa pergunta revelando a intenção do coração dos fariseus e corrigindo a pergunta.

2) Resposta de Jesus: “Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim”.

Há uma sabedoria em Jesus ao responder a essa pergunta maliciosa dos fariseus. Ele insiste em frisar o desejo de Deus ao criar o homem e a mulher. O desejo de Deus ao constituir a família não estava sujeito à força do pecado ou da dureza de coração do homem. Deus não mudaria Seu propósito e o adequaria ao estilo humano. Embora muito achem que Deus foi forçado pelas circunstâncias a mudar as regras do Seu Eterno propósito.

Jesus revela a intenção do coração dos fariseus quando disse: “Por causa da dureza dos vossos corações”. Ele ataca a motivação dos fariseus. Ele não atacou a Moisés, nem desfez da lei, nem foi a favor de Hillel ou de Sammai. Ele estava diante de acusadores e de homens cujo coração era duro com pedra. Insensíveis e incapazes de perdoar.

Jesus também corrige a pergunta dos fariseus, dizendo: “Moisés permitiu repudiar as vossas mulheres”. Não era um mandamento! Era uma permissão e isso por causa da dureza de coração dos homens. E reafirma a realidade do casamento afirmando: “Mas ao princípio não foi assim”.

A tendência do coração endurecido pelo pecado é valer-se das brechas da lei para estabelecer um motivo para seus próprios desejos e ambições. Para os fariseus a “suposta exceção” descrita em Deuteronômio 22 e 24, (analisaremos esses textos depois) deixou de ser uma exceção e passou a ser quase como uma regra geral para o casamento, exatamente como acontece em nossos dias. Hoje se divorcia por qualquer motivo!

Ao vir a este mundo, Jesus não veio colocar ordem na confusão que havia se instalado entre os homens. A humanidade como um todo havia se desviado completamente do propósito de Deus. Jesus não veio melhorar este mundo. Não veio reformá-lo ou dar um “jeitinho” nas coisas. Jesus veio trazer “de volta” o governo de Deus sobre a vida dos homens. Jesus veio trazendo o Reino de Deus. E, esse Reino não passou por uma adaptação para ser coerente com este mundo. O Reino de Deus continua sendo o que sempre foi, um Reino de justiça, amor e santidade. Portanto, quando Jesus vem a este mundo vem restaurar o Propósito Eterno do Pai. Isso implica em fazer valer todos os princípios do Reino de Deus para o homem, para a família e para a humanidade.

Quando Ele começou Seu ministério, começou dizendo: “Arrependei-vos, porque chegou o reino de Deus”. Esse arrependimento (metanóia – no grego) é mais do que um remorso ou tristeza por haver cometido uma coisa errada. Arrependimento é uma mudança de governo. É uma decisão voluntária em submeter, a vida e tudo o que esteja relacionada a ela, ao governo de Deus.

Mas, como fica a seqüência do texto de Mateus 19? Isso é o que veremos em seguida.

Jesus e a Exceção

A resposta de Jesus à segunda pergunta dos fariseus estava respondida. Tanto a primeira pergunta como a segunda, estavam respondidas e o assunto estava encerrado. Os fariseus conheciam bem a lei e sabiam exatamente do que Jesus estava dizendo. Não lhes cabia mais argumentos ou outras perguntas.

Mas, e a seqüência do texto? Como é que fica a próxima declaração de Jesus?

Se analisarmos somente o texto de Mateus 19, vamos concluir que Jesus disse o que disse, somente aos fariseus. Não é mesmo? Parece que a seqüência sugere isso. Todavia, não podemos tratar esse texto isoladamente. Conhecemos bem aquela frase: “Texto sem contexto é pretexto”. É preciso juntar Mateus 5.31-32, Mateus 19.9 e Marcos 10.10.

Em primeiro lugar temos que contextualizar onde é que essas coisas acontecem, o momento em que elas acontecem, a quem a palavra foi dirigida e o que estava sendo dito.

1) Mateus 5.1-7.29

Nesse episódio Jesus estava assentado sobre um monte e ensinava a seus discípulos diante de uma multidão. Entre outras exortações e ensinos, citou:

“Também foi dito: Qualquer que repudiar sua mulher dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de relação sexual ilícita, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério”.

Jesus está citando uma série de ensinos baseados na lei de Moisés. Ao tratar do assunto adultério, que começa no verso 27, Jesus mostra que o adultério começa na intenção. Diz que o simples olhar para uma mulher com cobiça, já é um adultério cometido no coração. Ele mostra como evitar que isso aconteça. Fala de arrancar um olho, ou uma perna. Ele radicaliza em torno de se fazer o que for preciso para que não haja adultério.

Mas ao lermos o verso 31, nos parece que ele muda de assunto. Todavia, a meu ver, a conclusão do texto 32 encerra a questão que começou no verso 27. O homem que repudiar a sua mulher pode expô-la ao adultério.

Antes de entrar no aspecto da exceção, temos que receber a mensagem que está sendo transmitida. Jesus não está falando de exceção, nem de divórcio, nem de recasamento. O assunto em questão é o adultério.

A frase, “a não ser…” é uma declaração de Jesus, não dita por nenhuma outra pessoa. Não fazia parte da lei, nem dos profetas. Novamente ele impõe a Sua autoridade, “Eu, porém vos digo”.

Temos, então, uma seqüência contextual:

1 – O local era um ambiente público, o monte.

2 – O momento era quando falava a respeito do ensino baseado na lei.

3 – Ele falava aos discípulos diante da multidão.

4 – E Ele ensinava a respeito de como tratar a questão do adultério.

2) Mateus 19.1-8 e Marcos 10.1-8

Esses textos já foram analisados nos capítulos anteriores. Vamos ver agora a seqüência de fatos contextualizados.

1 – O local é na Judéia, muito provavelmente em Peréia. De qualquer forma, a informação original é de Marcos servindo de base para o evangelho de Mateus. Não há nenhuma evidência de que fossem lugares diferentes.

2 – Havia ali também uma grande multidão. O momento é semelhante a muitos outros em que Jesus atende à multidão curando seus enfermos.

3 – São os fariseus que interpelam a Jesus e fazem suas perguntas.

4 – Todas as respostas e declarações de Jesus são dirigidas aos fariseus.

3) Marcos 10.10-12 e Mateus 19.9-12.

Chegamos a um fato novo e cheio de detalhes. Inverti a ordem dos textos propositalmente para facilitar o entendimento. Marcos serve de base para o texto de Mateus. Portanto, vamos começar analisando o texto de Marcos, juntando com o texto de Mateus.

Assim temos:

“E em casa tornaram os discípulos a interrogá-lo acerca disto mesmo” (Mc 10.10)

“Eu, porém vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério”. “Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar. Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas somente aqueles a quem foram concedidos. Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram feitos assim pelos homens; e há outros que se fazem eunucos a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o” (Mt 19.9).

Contextualizando temos então outro cenário, outro momento, outras pessoas e outra mensagem. Vejamos

1- O local é a casa de alguém, provavelmente a casa de um dos discípulos.

2- O momento é de intimidade de Jesus e Seus discípulos.

3- Ele responde a um questionamento dos discípulos a respeito do assunto.

4- Ele reafirma o princípio do casamento e a questão da exceção.

É bom repetir que toda vez que Jesus usou a expressão “EU, PORÉM VOS DIGO…” Ele o disse aos discípulos. Essa declaração é para discípulos e faz parte do resgate da autoridade do Reino de Deus na vida dos homens regenerados. Não haveria razão para Jesus disse isso aos fariseus, mesmo porque eles não a receberiam, nem as cumpririam.

O Grande Mandamento da Lei e o Novo Mandamento

O maior exemplo dessa distinção entre os discípulos de Jesus e os demais, se dá no mandamento da lei e no Mandamento de Jesus.

“E os fariseus, ouvindo que ele fizera emudecer os saduceus, reuniram-se no mesmo lugar. E um deles, doutor da lei, interrogou-o para o experimentar, dizendo: Mestre, qual é o grande mandamento na lei? E Jesus disse-lhe: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” – Mt 22.34-40.

É muito interessante como esses dois mandamentos exercem um poder sobre a humanidade. Tudo depende dele e ninguém os obedecem. O homem natural é julgado por esses dois mandamentos e ele é exigido de toda humanidade. Dele dependem toda a lei e os profetas. Todavia, aos discípulos de Jesus há um novo mandamento. Fica implícito o dizer de Jesus: “Eu, porém vos digo”. Sem invalidar o primeiro e grande mandamento, Ele estabelece a distinção do segundo mandamento com base no Seu próprio amor. Disse Ele:

“Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.34-35).

Com base nessa premissa, podemos analisar a tão polêmica frase “não sendo por causa de fornicação”. Esse é o nosso próximo assunto.

Podemos analisar o texto de Mateus 19.9 e Marcos 10.10 isentos da presença dos fariseus e de qualquer influência tendenciosa. Jesus está em casa sozinho com seus discípulos e eles trazem de volta o assunto discutido com os fariseus. Vejamos os textos agrupados:

“E em casa tornaram os discípulos a interrogá-lo acerca disto mesmo” (Mc 10.10) “Eu, porém vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério”. “Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar. Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas somente aqueles a quem foram concedidos. Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram feitos assim pelos homens; e há outros que se fazem eunucos a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o” (Mt 19.9-12).

A exceção que não existe

Repetindo o que já disse anteriormente, toda vez que Jesus usava essa expressão, “eu, porém vos digo..” sempre o fizera aos discípulos, impondo sempre um nível mais alto do comprometimento deles com o Reino de Deus. Portando, não vamos perder tempo tentando achar uma “exceção” que não existe. Todavia, precisamos explicar termos e conceitos.

A questão da expressão “a não ser no caso de…” ou “não sendo por causa…” é uma alusão à pergunta dos fariseus: “Por que Moisés mandou dar carta de divórcio e repudiar?”. A resposta de Jesus aos fariseus foi sobre o “por quê?” e não sobre a permissão de Moisés. Tão pouco Jesus discute a lei com os discípulos ou faz qualquer menção a respeito. Mas, como Ele cita a palavra “PORNÉIA”, precisamos então dar algumas explicações que, para os discípulos, não houve necessidade. Muito pelo contrário, eles a entenderam muita bem e o assunto ficou encerrado com a observação a respeito da condição do homem relativamente à mulher.

Embora a palavra “pornéia” seja um termo abrangente, ou seja, pode significar muitas coisas, não podemos dar a ele essa amplitude nesse texto de Mateus. Dizer que o termo pode significar muitas coisas está certo, mas dizer que ele nesse texto é abrangente, faz uma grande confusão.

Há outros exemplos na bíblia de palavras que, a depender do contexto, podem ter significados diferentes. Vejamos:

A palavra traduzida como “mundo”, que no grego é “cosmos” e em hebraico é “tebel” tem significados distintos nos vários livros da Bíblia. Em Efésios 1.4, ela significa “universo”. Nos Salmos 24.1, significa “planeta, Terra”. Em João 3.16, “humanidade”. Em 1 João 2.15, “sistema humano”. Seria um erro absurdo de interpretação querer fazer uma síntese de todos os significados e aplicá-la a cada versículo onde aparece a palavra “mundo” nas escrituras.

O mesmo ocorre com a palavra “carne”, no grego, “sarx”, Algumas vezes significa a “carne física”, outras vezes “o corpo”, “a humanidade”, “fragilidade humana” e muitas vezes significa a nossa “natureza pecaminosa”.

Explicação do termo fornicação

Da mesma forma a palavra traduzida como “fornicação”, no grego “pornéia” e no hebraico “Zanah” têm muitos significados na bíblia. Vejamos pelo menos cincos significados diferentes:

1. Fornicação – Relação sexual entre solteiros (1 Co 7.2; Dt 22.21; Lv 19.29; 1 Ts 4.3-4).

2. Fornicação – União ilícita, proibidas pela lei de Deus (1 Co 5.1; Dt 22.30; Lv 18.8; Dt 27.20).

3. Fornicação – Todo tipo de pecado sexual, incluindo o adultério (1 Co 6.13-18; Nm 25.1).

4. Fornicação – Todo pecado de prostituição e comércio de prostitutas. A palavra “prostituta” no grego é “porne”, tem a mesma raiz. (Lc 15.30; 1 Co 6.16).

5. Fornicação – Infidelidade espiritual, idolatria. (Je 3.6; Ez 23; Ap 17.12).

Portanto, não podemos fazer uma síntese de todos estes significados e aplicá-la à palavra “fornicação”.

No texto específico a que estamos tratando, o que determina qual dos significados deve ser aplicado é o contexto onde ela está inserida e com o resto das escrituras que tratam do mesmo assunto.

Contexto com Lucas 16.18

A narrativa de Mateus e Marcos tem que ser contextualizada com Lucas. Não poderíamos aplicar o item número 3 (Fornicação – Todo tipo de pecado sexual, incluindo o adultério) Vejamos o que Lucas registrou: “Todo aquele que repudia a sua mulher e se casa com outra, adultera; e o que casa com a que foi repudiada pelo marido, adultera” – (Lc 16:18).

Portanto, não podemos interpretar a palavra “fornicação” (pornéia) usada por Jesus nesse episódio, dizendo que ela significa adultério” como sendo o único motivo para haver divórcio e recasamento porque contrariaria todo contexto. Ainda que o homem tenha adulterado e divorciado de sua mulher e casado com outra, a mulher não está livre para ser de outro homem.

Só existem duas possibilidades para a aplicação do significado da palavra “fornicação” nessa frase de Jesus: O que está no item número 1 – relação sexual entre solteiros ou no item 2 – União sexual ilícita (Ex. Um homem que vive maritalmente com uma mulher casada; relação homossexual, Etc.)

Se um casal estiver vivendo em uma dessas duas situações, o caminho é a separação. No primeiro caso, estarão livres para se casarem um com o outro, ou com outros parceiros também solteiros. No segundo caso, ou ficam sozinhos ou se reconciliem com os cônjuges antigos, se for possível. (Vamos tratar disso mais a frente).

É muito importante observar que Jesus nunca usou a expressão; “A não ser no caso de adultério…” – no grego, “moichéia”. (As traduções que usam essa expressão são tendenciosas e estão equivocadas). Ele sempre usou a expressão “fornicação” – “pornéia”. Também não afirmou que se uma pessoa repudia sua mulher e casa com outra comete fornicação. O texto corretamente traduzido é: “Aquele que repudia a sua mulher, a não ser no caso de fornicação (pornéia) e casar com outra comete adultério” (moichéia). Tanto em Mt 5:32 como em Mt 19.9 fica impedido dar a interpretação de adultério à palavra “pornéia”, mas sim o de fornicação.

Isto explicaria o que Moisés disse: “Quando um homem tomar um a mulher e casar-se com ela, se não lhe agradar por ter encontrado nela alguma coisa indecente, lhe escreverá uma carta de divórcio…”

Ao casar, o que um homem poderia encontrar numa mulher que lhe fosse indecente? O mais provável é que descobrisse que a mulher não era mais virgem. Nesse caso, havia um de dois procedimentos a serem seguidos.

Segundo a lei, se houvesse litígio (demanda, desacordo e necessidade de juízo), o marido podia recorrer ao juízo público. Mas, se a situação não tivesse litígio, e o marido não quisesse a mulher como esposa, deveria redigir uma CARTA DE REPÚDIO e despedi-la definitivamente.

O Contexto de Dt 22.13 -21 e 24.1-4

No caso de litígio:

O procedimento a ser seguido no caso de litígio entre o marido e a mulher que requeresse uma intervenção de juízo público, é explicado em Deuteronômio 22.13-21. Se, ficasse comprovado que a mulher era inocente e que ela era virgem ao casar-se, ele deveria pagar uma multa ao pai da mulher “e ela lhe seria por esposa e não poderia despedi-la pelo resto da vida” (Vs 19). Mas, se ela fosse considerada culpada e que de fato não era virgem ao casar-se, ela deveria ser apedrejada até a morte – (vs 20-21).

No caso de não haver litígio:

Aqui temos o segundo procedimento, neste caso em que não há litígio. Deuteronômio 24.1-4 assinala o que deveria ocorrer. Se o marido quisesse anular o recente casamento “por haver achado nela algo indecente”, o que ela não negava, então ele redigiria uma carta de divórcio, entregaria a ela e ambos estariam livres para casar-se com outros.

Aqui temos então a alusão de Jesus dita aos discípulos sobre o caso: “A não ser por causa de fornicação”. Seria o mesmo que dizer: “Somente nessas circunstâncias, se um homem divorciar-se de sua esposa e casar de novo não comete adultério, e se a mulher repudiada se casa com outro, não comete adultério. Tão pouco o que casar com ela comete adultério também”.

Portanto, o que Jesus diz e o que Moisés disse está plenamente alinhado e acordado. Jesus não disse nada contrário ao que Moisés havia dito. Jesus não contradisse, mas sim retificou e esclareceu.

A Lei de Moisés tinha um objetivo prático que era fazer justiça à mulher. Ela sempre era a prejudicada nos caprichos do homem. Assim, podemos ver claramente que essas medidas protegiam a mulher, mas estabelecia um procedimento de vida para elas.

Em palavras simples o que Jesus dissera foi:

“Eu, porém vos digo que qualquer homem que repudiar a sua mulher, a não ser que descubra que ela não era mais virgem no dia do casamento, e casar com outra, comete adultério e, quem casar com ela depois, também cometerá adultério”.

Deixando de lado essa questão da virgindade, pois somente nessa circunstância poderia haver repúdio, qualquer outro “casamento” seria adultério. Assim, não há nenhuma exceção para, uma vez casados, divorciar-se e casar de novo.

Jesus e Paulo

O apóstolo Paulo, mais do que qualquer outro, tornou evidente o padrão do Reino de Deus para o homem e a mulher. Quer fosse com respeito à vida pessoal, quer fosse para o casamento. Paulo tornou-se um dos maiores defensores do Reino de Deus. Assim como Jesus é o perfeito modelo do caráter de filho de Deus, Paulo tornou-se um modelo incomparável de caráter de discípulo de Jesus. Ele, a si mesmo trouxe essa responsabilidade quando disse: “Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo” – I Co 11.1.

Se a personalidade forte e original de Paulo é reconhecida como a de um dos mais importantes homens de toda história cristã, maior foi o poder do evangelho que o transformou. Toda sua opulência, sabedoria e conhecimento, aliados ao seu temperamento forte e seu zelo para com a Lei de Deus, não resistiram ao poder daquele que tem todas as coisas debaixo de Seu domínio: Jesus! Desde o seu contato com Jesus na estrada de Damasco ele tem sido o reflexo de Cristo no mundo.

Embora seja o suficiente ouvir de Jesus, “Eu, porém vos digo…”, essa força de expressão foi manifestada de forma bombástica através da vida e do ministério daquele homem de Tarso. Essa influência de autoridade e poder não anulam a capacidade de pensador e análise de alguém, como Paulo. Muito pelo contrário, Deus usa um dom natural e também o produto de uma educação séria.

Paulo, era um estudioso que aprendeu nas escolas rabínicas a coordenar, expor e defender as suas idéias. Basta uma análise de suas cartas para ver o raciocínio e a destreza em formar conceitos. Sem diminuir a eficácia do poder do Espírito Santo que revelou a ele toda essa sabedoria. As suas epístolas exercem influência sobre a igreja cristã até hoje. Ninguém, como ele, conseguiu explicar o cristianismo com a clareza e simplicidade dignas de um profeta. Além do que, sua maneira prática de fazer as coisas e o seu senso de urgência, fez dele um missionário entre os gentios que aliava a capacidade de um grande pensador com a de um consumado trabalhador.

É muito agradável para eu escrever sobre o tema Divórcio e Recasamento tendo como aliado um homem reconhecido como um dos dez mais inteligentes homens da história. Agrada-me, sobretudo por sua humildade e simplicidade. Humildade para reconhecer a autoridade de Jesus sobre sua vida e ministério. Simplicidade porque não usava de meias-palavras nem de subterfúgios para conseguir a aprovação de ninguém. Era um homem de convicções profundas.

Ao tratar de Divórcio e Recasamento, ele ratifica todo conselho de Deus nessa questão. Sua carta aos coríntios, especificamente no capitulo 7, é uma cartilha simples que substitui todos os compêndios e enciclopédias destinadas ao tema. Ele estabelece uma regra simples de como resolver os problemas de relacionamento, dando conselhos harmonicamente contextualizados com a visão do Propósito Eterno de Deus.

“Mando, não eu mas o Senhor”

“Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido. Se, porém, se separar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher” – 1 Co 7.10-11.

Não há nada a ser interpretado aqui. É claro, simples e muito enfático. Não se trata de divórcio, nem de recasamento. Aqui também podemos ouvir o Senhor Jesus dizendo através de Paulo: “Eu, porém vos digo”. E Ele o diz aos casados. Não aos solteiros, nem aos “recasados”. A todos aqueles a quem Ele considera casados, de acordo com o que Ele considera casamento: “Portanto”, disse Jesus, “deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher e, serão os dois uma só carne, e o que Deus ajuntou, não o separe o homem” Mt 19.5-6.

Aqui não temos um conselho, nem uma opinião, mas sim um mandamento. Um mandamento como qualquer outro que Jesus dera a Seus discípulos. Um mandamento que direciona a obediência daquele que tem a Jesus como Senhor absoluto de sua vida. Um mandamento que serve de direção para quem quer fazer a vontade de Deus.

Não é uma obrigação, mas sim uma proteção para o casamento para todos os discípulos de Jesus, que casaram de acordo com a vontade de Deus e para cumprir seu Santo Propósito. Jovens que se prepararam e se mantiveram puros e santos enquanto aguardavam o grande e maravilhoso dia do casamento. Para esses, o mandamento não necessitaria do complemento “SE PORÉM SE SEPARAR”. Esse complemento não é para um discípulo, mas sim para um incrédulo, o que veremos mais adiante.

Aqui fica muito claro que a mulher não deve se separar do Marido e que o marido não deve deixar a esposa. As razões expostas por Paulo no verso 5 e 6, nos dão uma idéia dos muitos perigos que rondam a estabilidade do casamento.

“Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois vos ajuntai outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência. Digo, porém, isto como que por permissão e não por mandamento” – I Co 7.5-6.

Por quê se exporem ao pecado? Por quê darem brechas ao diabo? A segurança do casamento está em manterem-se casados. É preciso fazer tudo o que for necessário para que o casamento esteja protegido contra as influências do mundo, da carne e do diabo. Todos conhecemos como o casamento é vulnerável às influências deste mundo.

A maior proteção que uma mulher pode ter, é a presença do marido e, a maior segurança que um homem pode ter, é estar com sua mulher.

“Se, porém vier a separar-se…”

Seria maravilhoso se todos os casados, tanto os maridos como as esposas, fossem discípulos de Jesus. Nesse caso não precisaríamos do complemento, “se, porém vier a separar-se”. Entretanto, essa não é a realidade. Há milhares de casais cujos maridos são incrédulos. Também há um número muito grande, embora menor, de maridos com esposas incrédulas. Nesse caso, temos uma situação circunstancial em que, sem diminuir o padrão “criacional” de Deus para o casamento, o Senhor determina o que fazer caso ocorra uma separação. Vejam que não se diz divórcio!

Esses textos não podem ser desassociados dos versos 12 a 16. Ali Paulo estabeleceu a pastoral em casos de separação por parte do incrédulo. A separação, abandono, repúdio, nunca deve ser de iniciativa do discípulo. Se o cônjuge incrédulo quiser separar-se, que o faça, porém por sua escolha e decisão. Nunca deve partir do cônjuge discípulo. Isso está explicitado no mandamento de Jesus nos versos 5 e 6. Ali está estabelecido o princípio. As únicas condições estabelecidas pelo Senhor para Seus discípulos que, infelizmente tenham se casado com incrédulos, antes ou depois de se converterem, e foram abandonados por seus cônjuges são:

1. “Fiquem sem casar…”.

Essa é a condição principal. Não é permitido pelo Senhor o recasamento. Um “segundo” ou “terceiro” casamento teria que ter uma constante prática de adultério (relação sexual ilícita entre pessoas casadas). E também disse o Senhor: “os adúlteros não herdarão o Reino dos Céus”. Portanto, a ordem do Senhor é: “Fiquem sem casar”.

Para os discípulos de Jesus, tanto o homem como a mulher que se encontram nessa condição, a saída é serem “eunucos por causa do reino de Deus”. Eles ficam impedidos de manterem relação sexual com outra pessoa que não seja seu cônjuge. Mas isso não é um voto de castidade, pois o Senhor coloca uma abertura de reconciliação.

2. “…ou que se reconciliem com o marido”.

Infelizmente o pecado, a carne, o mundo e o diabo são aliados contra o casamento e, uma vez tendo-o atingido com seus tentáculos, deixa seqüelas que nem sempre podem ser corrigidas. O pecado do adultério, do repúdio, do egoísmo, da mentira e da avareza encontra espaço num mundo que está posto sob o maligno. É nesse mundo onde se estabeleceu um sistema diabólico contra o casamento. Milhões de casais estão destruídos e impossibilitados de reverem o passado por erros e pecados irreparáveis.

Mas há os que, contrariando a filosofia barata da felicidade humana e da teologia do cristianismo sem Cristo e do humanismo egoísta, buscam a reconciliação do casamento, da família e da igreja. Aleluia por esses!

A seguir, vamos analisar com cuidado os conselhos de Paulo aos casados com cônjuges incrédulos. Vamos também procurar quebrar os sofismas evangélicos que se infiltraram nas nossas igrejas e corrompem a sã e maravilhosa doutrina de Jesus, que permitem o repúdio, o abandono, a violência e respaldam o adultério dos casados e a fornicação entre os jovens. Que o Senhor tenha misericórdia de nós!

Paulo e Jesus

“Mas aos outros digo eu, não o Senhor..” (I Co 7.12). A partir de agora vemos Paulo aplicando os princípios do Reino de Deus. Sua posição diante do mandamento do Senhor foi estabelecida ao submeter-se ao conselho do Senhor descrito no verso 10: “Aos casados, mando não eu, mas o Senhor…”. Agora, toda pastoral tem que estar de acordo com esses princípios, e coerentes com o padrão do reino de Deus tão radicalmente defendido por ele.

Antes de trabalhar essa questão pastoral, gostaria de expor algo com respeito aos conceitos absolutos e relativos do aconselhamento.

Muitas vezes, diante de situações complicadas, o conselheiro enfrenta uma grande dificuldade para aplicar os princípios absolutos do Reino de Deus. Ele não trabalha como mecânico de automóveis ou reformador de casas. Seu trabalho é com pessoas que têm sentimentos, história e estão envolvidas com outras pessoas também.

Normalmente ele se envolve com esses sentimentos e é tentado a ceder diante de pressões sentimentais, familiares e religiosas.

Amor e compaixão

Um dos erros mais graves que se comete, é aconselhar alguém ou casais sem conhecer todas as implicações que aquele conselho pode trazer na vida das pessoas. A falta de amor e de compaixão pode ser determinante nessa hora. Portanto, todo aconselhamento tem que estar recheado da atitude de Jesus e tão presente na vida dos apóstolos, sobretudo de Paulo.

Essa era a diferença na vida de Paulo em contraste com os que ele chamava de “falsos apóstolos”. Paulo era convicto do evangelho que pregava e das implicações dessa pregação na vida dos discípulos.

Todavia, não se pode confundir amor e compaixão com sentimentalismo. O amor pela vida de um filho pode levar um pai a autorizar a amputação das pernas do filho se isso salvá-lo.

A pregação de Paulo era cheia de amor e compaixão, mas era também realística com a vida do homem. Sua pregação consistia em mostrar ao homem seu estado miserável diante de Deus e aplicar o remédio certo que era traduzido como “morte” do velho homem! As expressões, renúncia, cruz, morte, sofrimento, angústia, perseguição, entre outras, fazem parte do que ele chama de “o meu evangelho”. Ser radical em aplicar uma medida mais enérgica não é sinônimo de desamor, o contrário poderia ser visto da mesma forma.

Ao escrever a primeira carta à igreja de Corinto, no capítulo 5 ele usa declarações fortes que, se fossem usadas hoje na maioria da igreja criaria um rebuliço muito grande e teríamos muitos pastores desempregados. Estaria Paulo sendo radical demais ao orientar os líderes daquela igreja a entregar a satanás um de seus membros? Chegou ele ao extremo de sua paciência? Agia ele por impulso ou por capricho? É claro que não! Paulo sabia exatamente o que fazia e o por que fazia. E, não tenho dúvida nenhuma de que tudo isso estava recheado de amor e compaixão.

Princípios absolutos e relativos

Ao aconselharmos alguém devemos ter bem claro quais são os aspectos absolutos, ou seja, aquilo que está estabelecido por Deus e não pode ser mudado. Paulo ensinou que esse conjunto de princípios e mandamentos fazia parte do conselho de Deus. Mas, que princípios são esses? Relativamente ao tema que estamos desenvolvendo, divórcio e recasamento, os princípios são os seguintes:Que os casados não se separem. Porém, se separarem, que fiquem sem casar.

O que vem a seguir, tem que estar relacionado a esse princípio. Não podemos tratar como relativo o que é absoluto, mas temos que nos por de acordo nas coisas relativas para termos o absoluto.

O contexto em que Paulo escreve é a igreja de Corinto. Essa carta, inclusive, era uma resposta a várias questões que os irmãos trouxeram a Paulo. Apesar de ser uma igreja gentílica e cheia de problemas, cremos que lá houvesse casais vivendo de forma correta e dentro do padrão do Reino de Deus. Casais de discípulos. Entretanto, é óbvio que havia casais mistos, crentes com descrentes. Esse detalhe não invalidava o casamento. Era apenas um fator circunstancial do casal.

Aqui temos uma situação específica que Paulo administra como um sábio pastor. Ele toma como base o princípio absoluto (vs. 10) e ajusta a problemática de um casal misto e estabelece um princípio relativo encima de uma condicional: “Se…”.

“Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe. E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe. Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos” – (I Co 7.12-14).

1. O fato de ser um casal misto, isso não impede a convivência. Aliás, o cônjuge convertido deve ser o maior interessado em que isso ocorra. Paulo é explicito ao recomendar ao cônjuge crente: “não o deixe”.

2. O Senhor abençoa essa relação e santifica os participantes daquele casamento.
“Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não esta sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz. Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?” – (I Co 7.15-16).

1. A convivência com um descrente pode ser tão angustiante e inviável que não há outra saída senão a separação. Essa separação, todavia, nunca deve ser provocada pelo cônjuge crente. Infelizmente muitos casais colhem frutos de erros cometidos no passado e por não haver da parte do incrédulo uma submissão total ao Senhor, faz com que o cônjuge crente viva uma verdadeira escravidão.

2. Paulo deixa claro que “se” o incrédulo se apartar, o cônjuge crente deve apartar-se. Vejo isso como uma verdadeira benção para o irmão ou a irmã no que se refere a ficar livre para servir ao Senhor com liberdade, cuidar dos filhos, viver em honra e santidade diante de Deus e dos homens. Pesa sobre essa separação o princípio absoluto do Senhor: “que fique sem casar ou que se reconcilie com o marido”.

3. É possível que, nessa separação o cônjuge incrédulo venha a se converter e, arrependido, queira voltar para seu cônjuge. Aqui não podemos aplicar as determinações de Moisés em Deuteronômio 24. Lá Moisés afirma que se uma mulher for repudiada pelo marido, ela não poderá voltar para ele caso case com outro e divorcie ou fique viúva. Esse aspecto já foi esclarecido anteriormente.

4. Paulo não está tratando de divórcio segundo os princípios do Reino de Deus. Mesmo que as leis atuais tenham processado um divórcio moderno, para o cônjuge crente isso deve ser encarado como uma separação.

Mas, em que casos é possível haver separação?

A meu ver, a separação não é apenas física. Há muitos casais que vivem juntos mas há muita violência, promiscuidade e desrespeito. Infelizmente muitos cônjuges, a maioria homens, que vivem egoisticamente com suas esposas e trazem sofrimento para a família. Algumas mulheres são violentadas por esses homens, algumas contraem doenças incuráveis por causa de relações promíscuas, outras sofrem abusos físicos e morais por homens descontrolados emocionalmente e elas vivem debaixo de uma “servidão” que as fazem ser tratadas como escravas, objeto sexual ou “sacos de pancada”, além de ser um péssimo exemplo para os filhos. Todavia, quando casaram, a maioria delas acreditava que viveria em paz o resto de suas vidas. Nesses casos, a separação é aconselhável, desde que o incrédulo não aceite viver uma vida decente, de honra e fidelidade. Muitos homens já deixaram suas esposas mas continuam impondo sobre elas uma servidão e criando um inferno dentro de casa. Nesses casos, é minha opinião que as esposas têm total liberdade para apartar-se desde que entendam que devem “ficar sem casar ou que se reconciliem com seus cônjuges se isso for possível”. Mas não ficam livres para casar de novo!

Paulo logo em seguida afirma:

“A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor” – (I Co 7.39).

Paulo fecha o tema deixando bem claro que não há espaço para divórcio e recasamento, sobretudo para os discípulos. Assim como Deus odeia o repúdio. Repudiar não é o mesmo que divorciar. Divorciar é a anulação do casamento de acordo com a lei que Moisés trouxe ao povo de Israel. Repúdio é o abandono, é deixar de lado a convivência. O repúdio, não só é uma expressão de dureza de coração como uma abertura para o adultério. Todas as recomendações do Senhor e as aplicações pastorais de Paulo e demais apóstolos são pela preservação da união, da santidade no casamento e da reconciliação.

Jesus e o Perdão

Disse Jesus aos fariseus: “Por causa da dureza de vossos corações foi que Moisés permitiu dar carta de divórcio e repudiar” Mt 19.8.

A beleza do Evangelho do Reino trazido por Jesus é para os discípulos o retorno ao padrão do Reino de Deus, como é uma declaração de condenação para aqueles que não desejam submeter-se a esse padrão. Não podemos avançar em querer resolver o problema de casamento, divórcio e recasamento fora do contexto do Reino de Deus.

Todos sabemos que o pecado, a independência do homem, fez dele um escravo de suas paixões. O homem, por natureza, está condenado. A humanidade se estragou com o pecado de Adão. O homem, sem Deus, está entregue a seus próprios sentimentos. Portanto, tratar desse assunto sem considerar o quadro real do homem sem Deus, é como tratar de uma pequena ferida num corpo canceroso destinado à morte.

Uma dos maiores indícios da degradação do homem é a falta de perdão. O homem é “duro de coração” por natureza. Ele não consegue perdoar. Não é inerente nele o perdão. É impossível para o homem natural perdoar. Não faz parte de sua natureza o perdão.

A condição da mulher relativamente ao homem

Ao tratarmos desse assunto específico, o alvo da dureza de coração a que Jesus se referia era a mulher. A mulher, era considerada como objeto e propriedade do homem. É algo tão brutal que, a condição da mulher relativa ao homem era como qualquer outra propriedade que ele tivesse. A mulher era sempre a prejudicada. Principalmente entre os judeus. A mulher nada mais era do que uma possessão. A mulher do próximo podia ser cobiçada, tanto quanto seu boi, seu jumento, ou qualquer outra coisa que possuía (Ex 20.17; Dt 5.21). O pai ou o marido podia anular os votos da mulher. Embora o marido tivesse o direito do divórcio, não era permitido o mesmo à mulher.

O homem tinha o direito de casar com uma mulher virgem mas não havia essa mesma obrigação para o homem. Um homem podia ter várias mulheres virgens e todas seriam suas propriedades. Uma mulher, todavia, não podia ter vários homens.

A lei do divórcio foi promulgada para se fazer justiça a favor da mulher e não dar ao homem um instrumento de justiça contra a mulher.

A arbitrariedade contra a mulher era tão grande que não havia como ela se proteger de uma acusação vinda por parte do homem. Com a lei, o homem ficou limitado em suas ações. Antes da lei do divórcio, havia a lei do casamento. A lei do casamento impunha ao homem ficar com a mulher até que a morte ou separasse. Paulo escreveu aos romanos: “A mulher casada está ligada pela lei ao marido, enquanto ele vive; mas, se o mesmo morrer, desobrigada ficará da lei conjugal. De sorte que será considerada adúltera se, vivendo o marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer o marido, estará livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias” Rm 7.2-3.

Portanto, o divórcio não era um instrumento a mais para a justiça a favor do homem, mas sim um limitador às ações dos homens inescrupulosos, duros e inflexíveis. O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios usando o mesmo princípio, mantendo a premissa da indissolubilidade do casamento. Ele disse: “Se o incrédulo quiser se separar, que se separe, nesse caso o irmão ou a irmã não estará sujeito à servidão; Deus vos tem chamado à paz” I Co 7.15 Vamos analisar esse assunto mais tarde.

A lei do casamento e a lei do divórcio assim como todas as leis de Moisés, foram dadas para toda a humanidade “pós-queda” do homem no jardim do Éden. Mas, antes da queda, no princípio, como dizia Jesus, não foi assim. A vinda de Jesus trazendo o governo de Deus resgatou o princípio e estabeleceu uma nova ordem para os discípulos. Ele, quando diz “Eu, porém vos digo…”, resgata o ideal de Deus e impõe a característica do reino de Deus para a vida dos homens regenerados.

Ele resgata o valor da mulher, do casamento, da família e estabelece o meio pelo qual é possível superar todas as arbitrariedades da lei, o perdão!

O Perdão X Divórcio

Ele disse: “Se não perdoardes os homens as suas ofensas, tão pouco vosso Pai celestial perdoará as vossas ofensas” – Mt 6.15. Estava ali estabelecido o meio para que o homem recebesse o seu perdão.

O divórcio era uma alternativa para proteção da mulher que não fosse perdoada pelo marido. Se o homem ao casar com a mulher não a encontrasse virgem, ele teria dois caminhos: Repudiar e dar carta de divórcio deixando-a livre para casar com outro homem, ou perdoá-la e ficar com ela para sempre.

O divórcio foi permitido porque os homens eram “duros de coração”. Incapazes de perdoar! O machismo e o egoísmo não lhes permitiam ficar com uma mulher que tivesse sido de outro homem.

O perdão é superior ao divórcio. O perdão abre mão do divórcio e conduz o casamento em amor e paz. O homem e a mulher que perdoa, é maior que o que divorcia. Um homem ou uma mulher que divorcia, mostrar que é incapaz de perdoar.

Lembrando que, a despeito dos motivos de como se divorcia hoje em dia, para Deus, um novo casamento só é possível se o divórcio ocorreu pelas circunstancias expostas anteriormente. E, mesmo assim, porque o homem foi duro de coração e incapaz de perdoar. Obviamente, quando uso o termo “homem”, estou generalizando, pois tanto o homem quanto a mulher quando não perdoa, está revelando dureza de coração!

A condição do homem relativamente à mulher

Contrariamente ao disposto acima, os discípulos ao ouvirem o que Jesus dissera concluíram dizendo: “Se esta é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar” – Mt 19.10.

Aqui temos um indicativo do entendimento dos discípulos relativo ao tema. Eles entenderam bem que, se o homem casasse e descobrisse que a mulher já não era virgem eles teriam uma única opção: Perdoar! E, uma vez perdoada a mulher, o discípulos nunca mais poderia separar-se dela e casar com outra.

Poderia, se quisesse, usar do recurso da lei e repudiar a mulher. Mas isso seria um atestado de dureza de coração, o que é inadmissível a um seguidor de Jesus. Portanto, a conclusão deles foi que não deveriam casar. Mas isso também significaria uma atitude de “dureza de coração e egoísmo” o que, de certa forma foi desaconselhado por Jesus. Ele disse: “Nem todos podem receber essa palavra…”

Jesus e os Eunucos

“Jesus, porém, lhes respondeu: Nem todos são aptos para receber este conceito, mas apenas àqueles a quem é dado. Porque há eunucos de nascença; há outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do reino dos céus. Quem é apto para o admitir admita” – Mt 19.11-12.

“Casar ou não casar, eis a questão”.

Novamente estamos diante de uma situação pouco discutida na Igreja. Infelizmente vamos contrariar alguns conceitos já instalados na mente de muitos. Não é facultado ao homem e à mulher o direito de ficar solteiro e não casar. Apesar do que Paulo aconselha na sua carta aos coríntios 7.1-9, tanto o homem quanto a mulher foram criados para “crescerem e multiplicarem…” – Gn 1.26-27. Esse foi o primeiro mandamento de Deus dado ao homem. O homem e a mulher foram criados para expressarem a imagem e semelhança de Deus. Deus queria uma “grande família de homens semelhantes a Ele”.

O pecado, não só estragou a natureza do homem, como também o desviou do propósito pelo qual ele havia sido criado. O homem tornou-se um ser, independente, egoísta e escravo de seus próprios sentimentos. “Cada um se desviou pelo seu próprio caminho” – Is 53.6.

Infelizmente os motivos para a vida foram afetados pelo pecado e, conseqüentemente afetou a vida de todos os homens. Jesus,entretanto, veio resgatar o que o homem havia perdido por causa do pecado. Ao vir a este mundo, veio por causa do homem que havia se perdido. E, resgatar o homem significa resgatar tudo o que diz respeito a ele e ao propósito pelo qual tinha sido criado. O Evangelho do Reino de Deus tem essa proposta, resgatar aquele o que havia se perdido. E, uma das coisas mais importantes a ser resgatada é o propósito pelo qual o homem e a mulher foram criados. Paulo escreveu aos efésios e disse:

“Como também nos elegeu nEle antes da fundação do mundo, para que fossemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade; Para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado” – Ef 1.4-6.

“Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” – Ef 2:10.

Estava nos planos de Deus a união do homem e da mulher e chamou a isso de matrimônio. Dentro desse propósito, o divórcio era inadmissível. A vida do homem e da mulher, dentro do propósito de Deus não poderia estar desassociada do principal alvo: unirem-se em matrimônio.

O propósito do casamento

Dentro do que estamos raciocinando, não há outra razão para casar senão para cooperar com o Propósito Eterno de Deus. Assim como admitimos que “fomos criados em Cristo para as boas obras”. A primeira e principal razão para termos sido gerados foi “crescer e multiplicar”. Portanto, a principal razão para viver é formar família para Deus.

Ninguém pode desejar ficar sem casar, por quaisquer que forem os motivos pessoais. A única coisa que impediria alguém de casar é a impossibilidade para ter um relacionamento normal com o cônjuge, quer física, emocional ou espiritual.

Ninguém pode ficar sem casar pelas razões que os discípulos disseram ao Jesus: “Se é esta a situação do homem relativamente à mulher, é melhor não casar”. Eles viram que, ao casarem estariam comprometidos com a mulher até a morte. Teriam que conviver com todas as conseqüências daquele ato. E, fugir disso não é um motivo justo para não casar.

Jesus foi tacitamente contra isso e disse que nem todos poderiam ter essa opção, a não ser que estivessem impedidos para tal.

Eunucos: Homens impedidos de ter relações sexuais.

Esse termo é um é composto de vários significados: “eune” – (cama), e “echo” – (segurar). Daí o significado de “guardião da cama”. O termo era usado para designar a função de um escravo “castrado” para proteger e guardar as esposas de seus senhores – o harém.

Mas, no contexto em que estamos estudando, eunuco significa alguém incapacitado ou impedido para o casamento. Há duas explicações rabínicas a esse respeito e que trata apenas do aspecto físico: Eunucos de nascença e os que foram castrados. Ambos, por razões óbvias, são impedidos de terem relação sexual e, portanto, não podem casar pois, a relação física é o que sela o matrimônio. Sem relacionamento sexual, não há casamento.

Mas, aqui temos um aspecto mais profundo e sério imposto por Jesus. Novamente Ele coloca Sua autoridade e impõe o padrão do reino de Deus: “Há outros que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do reino dos céus”.

Não é uma questão de celibato, como querem alguns. Também não é uma questão de impedimento físico. É uma condição imposta pelo Reino de Deus aos que por razões espirituais não podem ter relação sexual com uma mulher que não esteja de acordo com os propósitos de Deus para isso.

Todos os homens e mulheres devem se casar e manterem relações sexuais que agradem a Deus e cumpram com o Seu santo propósito. A menos que essas relações sexuais contrariem a vontade de Deus.

Eunucos por causa do Reino de Deus

É meu parecer que eunucos do reino de Deus hoje, são todos aqueles que se negam manterem relação sexual com qualquer pessoa que não seja seu cônjuge verdadeiro. Não é uma questão de serem impedidos fisicamente, mas uma condição temporária e circunstancial. São todos os solteiros que aguardam o momento e a pessoa certa para casarem-se. São os viúvos e viúvas que perderam seus cônjuges. São todos os casados que, por quaisquer razões estão impedidos de terem relação sexual (doenças, acidentes, viagens, etc.) e são todos os casados que estão separados e divorciados.

Todos esses, por causa do reino de Deus, permanecem santos e irrepreensíveis diante do Senhor.

Há quem sofre esse drama mas está alegre em poder viver para a glória de Deus. Ninguém deve considerar essa situação como anormal. Uns enfrentam lutas e batalhas ferrenhas para manterem-se firmes em fazer a vontade de Deus.

Ser um eunuco é uma opção?

Não! É uma condição circunstancial de todos os solteiros. O principio para a vida de todos é casar e constituir família para Deus. Mas, enquanto isso não ocorre, ou se algo impedir que isso aconteça, a pessoa estará sujeita a viver como um eunuco, considerando que Deus assim o quer temporária ou permanentemente. Ele não pode ter relação sexual porque isso é considerado “fornicação”, ou seja, relação sexual ilícita. No caso dos casados separados ou divorciados, estão impedidos de ter relação sexual porque isso é adultério.

Em ambos os casos, a condição é permanecerem em santidade e honra. Santidade em relação a Deus e honra em relação ao sexo oposto. Qualquer relação sexual que esteja fora do padrão estabelecido pelo Senhor é uma afronta à santidade de Deus e uma violação da consciência do próprio homem.

Portanto, ser eunuco não é um voto de castidade, ou seja, não é escolher não casar, mas sim se manter puro na condição em que está. Se solteiro, não praticar a fornicação. Se casado, não adulterar.

Para os que têm convicção de que Deus os chama para uma vida de solteiro a fim de dedicar-se a uma missão específica, terá que abdicar de quaisquer que sejam as possibilidades de casamento. Ficar sem casar pode ser o melhor e desde que a pessoa tenha domínio próprio para vencer as tentações da carne e não ser uma presa fácil do diabo no que tange a sexo. Entretanto, um dos indicativos de que uma pessoa não deve ficar solteira é se ela vive “abrasada”, como disse Paulo na sua carta aos corintios.

Paulo aconselha que os solteiros fiquem sem casar para dedicarem-se ao Senhor desempedidamente. Mas o faz por concessão e não por mandamento. A meu ver ele dá esse conselho querendo evitar os que irmãos sofram provações e dificuldades. Deixa claro, entretanto, que não recebeu do Senhor nenhum mandamento a esse respeito.

Conclusão, os discípulos de Jesus ao ouvirem a palavra do Senhor sobre a condição do homem relativamente à mulher, entenderam que seria melhor não casar. Jesus disse que não! Afirmou que somente àqueles que, pelas razões expostas acima, fossem aptos para isso.

Aqui temos uma boa base para ensinar aos solteiros sobre santidade e pureza no casamento. Devem reconhecer:

1. Que o motivo do casamento é fazer a vontade de Deus;

2. Que, antes de casar, não lhes é permitido nenhum contato físico;

3. Que o casamento só é possível entre pessoas realmente solteiras ou viúvos;

4. Que o casamento durará enquanto viverem os cônjuges;

Vale a pena citar um provérbio antigo que diz:

“Se você for para o mar, pense duas vezes; Se você for para a guerra, pense cinco vezes; Se você for casar, pense dez vezes”.

Por: Pastor Roberto Carlos

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