Mt. 7:7,8 – Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á.
Tiago 4:3 – Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.
O assunto sobre o qual falei ontem à noite é aquele com vos quero dirigir hoje também: as condições para que as orações possam prevalecer.
Fiz referência a vários condicionalismos ontem e esta noite vou-me entregar à discussão do mesmo assunto. Fiz referência àquela perseverança como condição para que se prevaleça com Deus. Às vezes porém, as condições são de tal caráter que não existe tempo para perseverar no sentido de se prolongar por muito sobre um qualquer assunto com o qual se quer confrontar Deus. Aquilo que pedimos nunca será alcançado de Deus se por falta de tempo, porque o tempo urge a que seja rápida a resposta caso uma qualquer oração tenha por acaso de ser necessariamente repetida. Mas existem porém razões especiais porque uma súplica seja feita, seja deixada a levar alguém a lutar com Deus. Deus estará na disposição e com a pretensão de alcançar um certo estado de espírito do requerente angustiado, muito para benefício de quem pede, muitas vezes para benefício de terceiros, ou mesmo as duas coisas juntas. Há casos destes registrados nas Escrituras, onde Deus não atendeu à primeira, para que se desenvolvesse um certo estado interior de espírito no pedinte para benefício de muitos. Farei menção sobre alguns destes casos. Fiz referencia sobre Jacob ontem à noite, de como ele se fez um exemplo de perseverança em luta, persistindo até ao fim (para ele, fim de sua própria vida, pois nada teria a perder se Deus não viesse em seu auxílio) e, de como assim fez prevalecer a sua súplica. Também fiz referencia aos casos de Moisés e de Elias.
Elias tinha expressamente a promessa de chuva sobre a terra. Quando ele fez aquele altar, quando matou todos os profetas de Baal que ali se encontravam, se bem se recordam, entregou-se intensamente àquela oração que apenas os santos serão capazes de fazer sem nunca desistirem (mandando o seu servo ir ver por sete vezes se alguma nuvem havia nos céus). Elias começou a orar; atenção que Elias ora! Mas o servo foi e voltou com a triste notícia que nada demais se estaria a passar para além do normal decorrer das coisas; tudo estava igual, só vento e pó. Quando Elias ora sobre uma promessa feita, ele diz “vai lá ver de novo!” Acho que ele só quis dizer vai sempre lá até que vejas algo, pois não posso sair daqui até que venha a bênção. Ele tinha dentro de si uma forte ansiedade santa para beneficiar aquele povo seco, mas também tinha outras razões para dali não sair até que viesse a prevalecer inquestionavelmente bem. Deus expressamente lhe havia prometido. Elias determinara em seu coração que aquela demora estranha não lhe serviria de razão para desistir, tropeçando assim em si mesmo. Ele continuou defendendo a sua causa fielmente, até que, depois de muito suplicar, a chuva veio refrescar a seu espírito angustiado. Ele por certo iria continuar a manter o seu caso diante de Deus se aquela chuva persistisse em não vir. De repente apareceu uma pequena nuvem como a mão de um homem. Ele não foi leviano ao ponto de se levantar dali até que Deus o houvesse atendido como muitos fariam na sua presunção! Os presunçosos pressupõem erradamente que apenas porque Deus prometeu, estarmos recordados daquilo que prometeu, será o suficiente para se vir a concretizar a promessa! Aquele profeta tinha um espírito dentro dele mesmo repleto de urgência e, instigado por ela, não se atreveu a abandonar desnecessariamente aquele trono de graça que será a face real de Deus. O seu servo teve de ir e voltar sete vezes e na última delas apenas disse que aparecia uma pequena nuvem como uma mão dum homem. Observem como exemplo o que é a perseverança e aprendam com quem estava sempre diante de Deus: não se teve por leviano trazendo desonra ao Seu nome que carregava pesadamente consigo; sempre e sem qualquer objeção.
Vejamos de novo o caso de Daniel em Daniel 10. Deveras um caso seguramente muito pertinente diante de Deus. Lemos assim: “Naqueles dias eu, Daniel, estava pranteando por três semanas inteiras. Nenhuma coisa desejável comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com ungüento, até que se cumpriram as três semanas completas.” Dn.:2,3. Assim chegou aquela resposta inesperada. Daniel arriscou aqui a própria vida, pois acho e temo que não se levantaria dali até que houvesse prevalecido na sua singela oração. Não vou ler os versículos todos, por essa razão irei saltar para o v.12: “Então me disse: Não temas, Daniel; porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras, e por causa das tuas palavras eu vim logo”. Parece-nos que um mensageiro foi mandatado para servir Daniel com uma resposta. Também nos parece que algum agente estranho se entrepôs no caminho da resposta que aquele mensageiro lhe trazia. De fato, um espírito vindo do próprio inferno subiu de lá para que perturbasse e turvasse a resposta trazida a Daniel. Mas como em Deus sempre saímos vencedores, aquele anjo prevaleceu sobre o tal príncipe da Pérsia infernal, havendo sido ajudado pelo anjo Miguel, um dos principais, como se houvesse sido o próprio Messias; alguns acham que simbolicamente é. Mas aquilo que conta, aquilo que é de grande realce, é que Daniel pressionou o seu caso até aos vinte e um dias sem cessar. Nada o faria com a exceção duma resposta.
No caso da mulher Cananita vemos mais um pormenor de grande importância. Por certo se recordarão das circunstâncias em que tal coisa se deu. A mulher não era de linhagem de sangue santo, muitos anos antes havia sido condenada à extinção e existia apenas porque os Israelitas não haviam sido obedientes a Deus em anteriores séculos de existência humana; sua filha estava a ser afligida por um espírito imundo que a atormentava noite e dia; e foi nessas circunstâncias que ela se aproximou de Cristo para ser ajudada. Nada, para ela, levava a crer qual o desfecho de tal ousadia, duma mulher se aproximar dum homem santo, sendo impura e leviana. Mas Cristo veio para que esses tenham vida. Ela caiu diante dele, e disse-lhe algo como “tem misericórdia de mim, Filho de David; a minha filha está violentamente atormentada por um espírito imundo”. Os discípulos lá estavam com Ele. Vendo estes que Cristo aparentemente não se movia em favor dela, disseram-Lhe: “despede-a logo, porque ela não nos deixa!” Ele respondeu, se bem se recordam, “não fui mandado senão às ovelhas perdidas de Israel”. Esta mulher Siro-Finícia, não se sentiu minimamente desencorajada pelo desenlace da reação de quem ela achava teria poder e santidade suficientes para ajudá-la, nem que fosse apenas pela fama que tinha, ela creu. Jesus respondeu-lhe a ela já que “não é licito dar o pão dos filhos aos cães” Ao que esta respondeu “é verdade Senhor; mas não peço tal coisa, que me dês do pão dos filhos (pois ela reconhecia sem rancor contra os judeus quem era). Aceito ser comparada a um cão esfomeado. Não me sinto magoada contigo nem assim; aceito que tudo aquilo que dizes seja verdade; considero-me vil, mas posso comer das tuas migalhas, daquelas que caem no chão e já ninguém as aproveita?” Amigos, que espírito é este, o desta mulher verdadeira e brava? Até Jesus a enalteceu dizendo-lhe: “mulher, grande é a tua fé! Vai, e seja feito conforme o teu desejo!” Cristo, atuando sobre ela, aparentemente negando-lhe o seu primeiro pedido e o segundo e sabe-se lá quantos mais, construiu a fé desta mulher sobre a rocha da verdade! Até para os discípulos havia sido um exemplo de perseverança e de fé. Se não houvesse sido trabalhada até aquele ponto de verdade e aceitação interior de reconhecer quem e porque era, ter-se-ia confundido, houvesse Cristo aceite seu pedido antes. Mas esta mulher não desistiu, e esmo sobre forte pressão para se desencorajar, ela persistiu e venceu. Recordemo-nos que ela já vinha com imensa mágoa no seu coração, com a qual muitos nem se atrevem a pensar em Deus a não ser que seja para o acusarem de algo. Maior se tornou seu dilema por saber que não pertencia às ovelhas perdidas de Israel; maior ainda se tornou quando isso se confirmou da boca de Cristo, em quem ela depositava sua confiança. Mesmo assim arranjou forças para não se entregar a todos os muitos motivos para se sentir desencorajada e desistir de algo que sabia Cristo poderia dar-lhe. Precisamente o oposto de tudo isto sucedeu, pois muitas vezes devemos permitir e entender tudo aquilo que o Senhor faz, sabendo Quem é Ele. Parecia até que Ele a tratava com despeito, como se ela nada valesse para Ele; mas o Senhor apenas testava o seu mau feitio. A reação dela poderia ter sido, “já que me tratas assim, eu não falo mais contigo. Não vim atrás daquele pão dos filhos e tratas-me assim!” Esta é uma bonita história de perseverança e não só, mas principalmente do poder dela, de como prevalece sempre com Deus.
Em Lucas 18 temos aquele caso do Juiz injusto, o qual não temia Deus nem tão pouco tinha consideração pelo homem. Existem em Lucas duas parábolas que pretendem apenas especificar e ensinar sobre a grande necessidade de se perseverar sempre e de como é um dever e não uma virtude apenas. Vejamos primeiro o caso daquele Juiz iníquo. “Contou-lhes também uma parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer, dizendo: Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava os homens. Havia também naquela mesma cidade uma viúva que ia ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário. E por algum tempo não quis atendê-la; mas depois disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens, todavia, como esta viúva me incomoda, hei de fazer-lhe justiça, para que ela não continue a vir molestar-me”. Lucas 18:1-5. Cristo não quis aqui comparar-se a um Juiz iníquo. Mas sim demonstrar apenas e tão só como se prevalece até perante um homem injusto e infiel à sua própria raça e criação. Esta viúva perseverou de forma tal que até venceu quem lhe podia tirar a vida. Para este juiz, a mulher tornou-se uma chaga que mexia até com a sua consciência. Resolveu atendê-la sabendo que não temia a Deus e desrespeitava o seu próximo. E será que Deus que ama o homem e nada tem de injusto não fará vingar a sua petição e causa desde que tenham causa mesmo? “E não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que dia e noite clamam a ele, já que é longânimo para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Contudo quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” Lucas 18:7-8. Se um indivíduo profano age assim, que direi de Jesus, de Quem sente em seu peito a causa de todos os seus eleitos? Será que algum santo tem razão quando pára a meio, quando desiste diante dum Deus assim?
Um caso curioso deu-se quando fui a Inglaterra. Um senhor cujo nome já me esqueci, em Birmingham, pediu para falar comigo para relatar algo sobre ele. Havia ouvido muita coisa muito diferente sobre a oração que prevalece, coisas demais até e sentia-se naquele dever de me exortar e revelar quão grande seria a fidelidade de Deus! Este caso foi de caráter tal que desde então parei muitas vezes para pensar nele, tão fortes eram os princípios daquele homem. Relatou-me a seguinte história: “um vizinho meu perdeu a sua esposa. Quando ela estava enferma e à beira da morte, a minha esposa foi cuidar dela. Permaneceu ao seu lado até ao seu último fôlego se haver despedido dela. Depois de ela voltar para casa, notei que algo de errado se passava, algo entre o viúvo e ela. Falei com ela sobre os meus temores, os quais ela mesmo confirmou, confessando a sua culpa e comprometendo-se a ir viver com ele! Que mais poderia dizer? Ela desistira de mim por outro homem solitário! Não tinha como reavê-la, de como convencê-la. Pois havia jurado deixar-me e entregar-se a outro homem. Nada mais podia fazer! Desesperado fui ter com Deus. Clamei dia e noite pedindo que atendesse a minha causa, que vingasse meu dilema. Por mais de duas semanas nem dormir direito conseguia. Não me entreguei senão à oração clamando a Deus incessantemente. Neste ponto deixei clarificado à minha esposa que a receberia de braços abertos e que lhe perdoaria o passado. Mantive-me nessa posição fielmente. Chorei e clamei diante de Deus. Depois de duas semanas ela voltou para mim com um coração quebrantado e dorido, confessando seus muitos pecados, humilhando-se diante de Deus. E desde então se tornou naquela esposa ideal que eu sempre ansiara”. Que caso tão reconfortante é este! Em vez de a desterrar e a ignorar para sempre, este homem ele foi antes reclamar diante de Deus dizendo “ó Deus, este homem tirou minha esposa do meu lado, averigua o meu caso e faz-me justiça!” Caso haja outro caso mais flagrante para nos levar a orar do que este, do qual podemos tornar alvo de oração persistente, nada mais antagônico que este caso de adultério flagrante; não só salvou o seu casamento, mas a vida de sua esposa e quem sabe do seu próprio inimigo!
Falemos agora da inoportunidade de outros como nos recomenda Lucas 11. Aquela mulher Cananita conseguiu tudo aquilo que queria e desejava não sabe bem como. Cristo também nos demonstra como devemos sempre perseverar até à resposta. Lemos sobre alguém que pedia três pães para a um amigo, tarde, quando já era noite avançada. Mas aquele amigo não o atendia porque respondia que já era tarde e não podia acordar seus filhos, saindo. Aquele homem não se importou nem importunou por ficar mal visto diante de seu amigo. Foi assim que finalmente conseguiu aquilo que queria. Não se levantaria por ser seu amigo, mas devido àquela insistência não se conteve e foi lá fora ajudá-lo, pois seus filhos acabariam por acordar na mesma com o persistente bater na sua porta adormecida, se ele não fosse lá atendê-lo. Foi desse jeito que alcançou a bênção que desejava. É assim que acontece quando importunamos por causa de quem nos está chegado ao coração. Há muitos casos, na sua maioria mesmo, onde transparece que Deus não nos ouve sequer. Mas como terá ele de ser importunado se desistirmos algures antes da bênção? Será assim que Deus consegue sempre cultivar um coração pedinte num puro e verdadeiro, suportando com grande paciência aqueles que lhe importunam dia e noite. Até mesmo o próprio pedinte sai dali edificado ao contemplar tal coisa a desenrolar-se diante de seus próprios olhos!
Muitas vezes a insistência com que pedimos transforma-se em agonia de espírito, com se dum parto se tratasse. Aquelas grandes bênçãos que despedaçam o coração duma humanidade que repele Deus, contristando-lhes o coração tornando-o impenitente, nunca se darão a menos que se deseje tal coisa intensamente até à agonia de espírito mesmo. Muitos que se acham professores dos leigos, muitas vezes aprendem com os leigos se estiverem atentos como os discípulos estavam em relação à mulher Cananita. É uma pena que a maioria de quem ensina a Bíblia e prega não tem a mínima noção daquilo que digo hoje aqui, mesmo que vezes sem conta se veja repetidas tais ocorrências de trabalho de parto nas próprias Escrituras, das quais se servem para se bajularem e ensinarem a outros aquilo que eles próprios nunca aprendem. O grande apóstolo Paulo fala disso e ensinava tal procedimento como indispensável mesmo. Ele fala aos Gálatas “meus filhinhos, por quem sinto de novo dores de parto!” Reclamá-los de volta trouxe-lhe grande agonia de espírito. Lemos “Perguntai, pois, e vede, se um homem pode dar à luz. Por que, pois, vejo a cada homem com as mãos sobre os lombos como a que está de parto? Por que empalideceram todos os rostos?” Jr. 30:6. (“Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo justo justificará a muitos, e as iniqüidades deles levará sobre si. Pelo que lhe darei o seu quinhão com os grandes, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma até a morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercedeu”. Is. 53:11-12). Já se ocupou com a sua Bíblia e concordância para ver o que Deus tem a dizer sobre este importante assunto? Se o próprio Jesus se teve de confrontar com tal situação sendo Deus em pessoa, que nos leva a pensar que devemos ouvir quem nada sabe experimentar sobre este assunto? Qual será a promessa referente a um tal estado de coisas, um estado de espírito que agoniza até quase ás portas da morte se necessário for, mesmo sobre aquilo que não lhe diz respeito diretamente? Será este um assunto delicado demais para dele podermos tirar algumas ilações importantes? Nós não devemos apenas buscar nas Escrituras tudo aquilo que estas nos possam vir a dizer e ensinar, mas criar um estado de conivências com os desejos do próprio Deus que possamos salvar o mundo inteiro! Simpatiza com Deus, com a Sua única causa até ao fim do presente século? Pessoas que recebem aquilo que pedem são as que perfuram o seu próprio espírito em agonia se for necessário, a menos que a resposta haja chegado antes. Este estado de espírito é e será sempre indispensável para que se prevaleça com Deus. Mas Deus não dará apenas aquilo que pede.
Era comum naquele tempo dos muitos bons apóstolos que “Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis”. Rom 8:26. Aos meus muitos ouvintes agora me faço dirigir: conhecem isto, sabem o que isto vem a ser? Há quantos anos é crente? Quantas vezes passou por isto? Se calhar nem para nascer de novo, quanto mais pelos muitos perdidos à sua volta! Sabia que pode prevalecer, hoje, já? Nos grandes avivamentos aos quais assistimos na América e na Escócia, prevalece a grande idéia da oração que persiste até àquela bênção que nunca é humana. Na Grã-Bretanha prevalecem os grandes avivamentos devido ao grande esforço despendido em oração que prevalece e não se desiste até à bênção! Tive a oportunidade de assistir de perto muitos deste fatos pessoalmente. Um pastor idoso, muito bem conhecido de todos vós por nome, relatou-me este fato. Ele não se havia envolvido com estes avivamentos, mas tinha duas filhas que viviam em impenitência descarada. Disse-me como sentiu um grande exercício de mente e espírito antes e durante as suas conversões. Foi assim que lhe relatei as minhas experiências de como tal exercício mental em agonia eram coisas perfeitamente comuns e normais em qualquer avivamento. Foi então que se apercebeu de como havia sido ignorante duvidoso sobre o assunto durante tanto tempo de vida. Ele estava tão envolvido naquele estado de espírito que nem conseguia dormir. Tão intensa era aquela dor, aquele fardo, que chegou ao ponto de dizer que morreria se as suas filhas não se salvassem. Sentia o seu espírito sucumbir sob aquele peso e responsabilidade que aparentemente não hóstia qualquer resposta pronta. Tive a oportunidade durante a minha vida, de me encontrar com muitos crentes neste estado de espírito ao qual Deus não tem como se opor. Achei crentes que se expressavam de forma tal que usavam palavreado citado na própria Bíblia sem saberem sequer que lá vinha isso escrito! Diziam que “a minha alma está dorida num parto difícil noite e dia”. Tais pessoas em tais circunstâncias e diversificados estados de espírito, tais eram as diversas questões em fase de súplica contínua e continuada, nem sequer queriam a companhia de alguém, ou de sair para algum lado para espairecerem! Passavam por períodos intermináveis de contrição e angustia a qual muitas vezes não tinham como explicar. O seu único suspiro e anseio era o de estarem a sós com Deus e suspirarem pesadamente de joelhos e sem palavras que descrevessem tudo aquilo que se passava dentro de si. Muitos deles podem ser ouvidos a agonizar diante do Deus que pode ouvir um clamor. Muitos até fazem com que quem os observa, se assustem com o seu estado de espírito. Assustam-se muito mais com a sua audácia e coragem em prevalecer com Deus, custe o que custar. Deveria passar algum tempo a escutar tais expressões de luta com Deus! Talvez nunca mais esqueça tal ocorrência! Já vi e vivi tais coisas de perto, de tal forma que onde não sou conhecido me retraio na sua divulgação porque as pessoas disto nada sabem sequer e podem excluí-las da verdade. Já tive oportunidade de ver de muito perto situações incríveis em avivamentos, de tão extraordinário caráter que temo mencioná-las onde não sabem quem sou. A grande questão é que uma verdadeira resposta imediata à oração é uma coisa tão estranha dentro da igreja, que muitos se enfurecem e admiram com tais ocorrências que atrapalham a sua incredulidade, o seu sossego no banco duma qualquer igreja!
Permitam-me realçar de novo que todos os impedimentos a qualquer oração, tudo aquilo que impede uma simples oração de ser ouvida, pode ser resumido num simples fator; no maior de todos, o mais vergonhoso de todos: refiro-me numa falta de simpatia sentimental para com Deus, para com a Sua causa diretamente, pois aquele que O ama cumpre. Como pode qualquer ser humano prevalecer diante de Deus a não ser que simpatizem de fato com Ele, com aquilo que Ele é de fato? Mas quando há alguém que chegue ao ponto de simpatizar com Ele ao ponto de se manter naquele estado de espírito de se negar a si mesmo para sempre, estarão embebidos e envoltos naquele Espírito que levou Cristo ao Calvário, não assistindo de perto apenas, mas de fato! Negou-se a Si mesmo até ao último suspiro, mesmo quando sabia que havia sido abandonado para morrer. Agora Cristo tem necessidade que a Sua igreja simpatize com Ele, com a Sua causa diretamente. Nem sequer terão tempo e disposição para questões banais, gratificações insuficientes e baratas, como a condolência e a recompensa descabida de quem de verdade não simpatiza com Ele. Como pode esperar de Deus quem assim não se nega até à exaustão mesmo? Importante é a resposta e nunca o estado de espírito.
Permitam-me realçar também de novo, um estado de coisas e de espírito que nunca ofenda o Espírito de Deus, que antes vigia contra qualquer coisa que possa separar homem daquela glória infinita, que é sempre indispensável a um espírito inoportuno de oração, aquele que pode ter como prevalecer sempre. Nenhum homem pode algum dia ansiar prevalecer se não põe freios na sua língua. Nestes dias de burrice, as pessoas falam demais, depressa demais apenas para dizerem bem o que acham que devem dizer aquilo que sentem ou não. Gostam muito de não cometer erros quando oram, amam mais a apreciação dos outros sobre as suas orações, ou a sua própria, do que serem ouvidos como filhos de pleno direito. É freqüente achar quem é ouvido de verdade, quase nunca se recordar das poucas palavras que usou. Entristecem o Espírito apenas com as suas palavras, más e muitas palavras. As pessoas falam asperamente sobre as pessoas que serão os motivos das suas orações, julgam quando oram e batem no peito acusando. Se quiser prevalecer e estabelecer vida para sempre, não pode de maneira nenhuma negar amor e desprezar valores de juízo, como apenas o poder de Deus em salvar. Terão necessariamente de obter boa reputação, mas de Cristo apenas. Eu deveria ter perguntado já ontem o que lhe vou perguntar agora: Você cumpre, satisfaz todos estes requisitos? Estará a viver em tal harmonia com a beleza de Jesus Cristo que até dá para se esquecer de si, que é mais e melhor que se negar rejeitar sentimentalmente a si mesmo? Estará capacitado para salvar gente, ímpios que nada lhe dizem e trazem mas tão só a Cristo trazem incenso e bálsamo para Suas muitas feridas? A humanidade que Ele próprio criou para glória infinita está decadente e perece! Que faria você? Ninguém diz para deixar seu emprego, mas que tal usá-lo a tempo inteiro como recurso para salvar gente pessoalmente? Ou ficará feliz com gratificações pequenas e bestas como a compreensão dos homens que trazem seu fôlego nas suas narinas e nada mais têm para dar? Pode alguém salvar gente perdida sem sacrifício, sem amor intensamente envolvido a tempo inteiro naquilo que está próximo do coração de Deus e do Seu Messias? Quem de vós olhou firmemente para este estado de coisas, vendo uma humanidade inteira às portas duma destruição maciça e massiva sem entrar em profunda agonia e insônia de lágrimas de sangue até? Qual seria o grande segredo do Paulo como apóstolo firme e firmado na verdade? “Digo a verdade em Cristo, não minto, dando testemunho comigo a minha consciência no Espírito Santo, que tenho grande tristeza e incessante dor no meu coração. Porque eu mesmo desejaria ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne”; Rom 9:1-3. Ele apenas quis dizer que nada neste mundo lhe daria mais gozo que a salvação de quem muitas vezes impedia o evangelho, de quem causava incessante dor provocando grandes tumultos para que não falasse aos gentios e outros que não eram mas que ouviam. Há muita especulação sobre o verdadeiro conteúdo deste texto, porque Paulo usa uma linguagem forte. Mas o pior de tudo não é esta ser forte, mas choca por ser real e verdadeira sobre suas verdadeiras intenções. Ele negaria qualquer coisa, qualquer felicidade, qualquer sacrifício que dele pedissem. Nem mesmo o inferno ele recusava para salvar quem tortura e é mesquinho com Deus até à data de hoje. Ele estaria na disposição de ser pendurado numa cruz, de sofrer qualquer agravo, para apenas salvar quem lhe era hostil com a sua hostilidade mecanizada. Eu conheço pessoalmente alguém que chegou a orar em agonia dizendo até “ó Senhor Jesus, não só estou disposto a ser pendurado num madeiro para salvar gente, como de ficar lá pendurado até ao fim do mundo, até à tua vinda, se necessário”. Esta expressão diz muito, mas expressa com veemência aquilo que se passa dentro de alguém que verdadeiramente simpatiza com Deus e Sua única causa, naquela disposição até passar pelo inferno se tal resultasse na salvação de alguém! Este é aquele espírito que prevalece por certo, pois nada o impede de prevalecer. É assim que se salvam continentes inteiros. Enquanto muitos estão ocupados em comprar e vender, em trabalhar para uma habitação que não sabem sequer se lá vão poder habitar, outros lutam pela mesma habitação apenas porque querem salvar gente com ela!
Eu quero dar a entender que a oração que tem como prevalecer é mais um estado de espírito, em vez dum exercício, ou dum vocabulário de palavras. Com isto quero apenas dizer que, para que o homem faça prevalecer a sua causa, desde que justa e justificável diante de Deus, ele tem que prescrever autenticamente. Oração não será apenas “irmos orar”, mas um perpétuo sentir e anseio indescritível (“pois não sabemos o que havemos de pedir como convém”), um habitual apresentar dum estado de espírito diante de Quem pode ouvir, mais do que um representar diante d’Ele, eloqüentemente ou não. Irá ser sempre um espírito inoportuno que se transvia para o certo. Será este o verdadeiro conceito por detrás de qualquer um que prevalece: alguém que nunca representa, mas apresenta fielmente, não através de palavras mas sim de presença em estado de agonia. Nota-se como nos afazeres normais deste mundo, nos negócios, nas doenças e que mais, como as pessoas andam de cabes baixo e pesadas pelas coisas insignificantes que as rodeia, se comparadas com aquilo que fez Cristo descer dos Céus. Os homens deste século nunca se acomodam e houvesse Deus que atendesse ao pecado do seu coração tudo fariam para lhe sacar uma resposta imediata e impaciente pelo inoportuno pedido. Temem a bancarrota, temem a falência e sucumbem sob o peso de sua própria falência pecaminosa. Será deste estado de espírito que aqui se fala, mas em sentido inverso. Os membros duma certa igreja, ao verem que em nada prosperam se compararem o que têm visto e vivido e salvo, com os apóstolos e outros, de como sua igreja em nada está próximo de se parecer com aquilo que deveria estar na pratica e não de boca apenas, que quem lhes ensina faz bem, mas está mais longe da verdade que um poste seco de dar fruto; como aqueles que professam Cristo estão mais longe de confessar impessoalmente e imparcialmente todos seus pecados e mais perto de se defenderem e de se justificarem diante de outros; como são como um mosquito que pousou no mel, mas como não se alimenta dele porque é carente de sangue, mas agora que pousou lá não tem como se libertar daquele melaço pegajoso. (Assim serão os crentes, não sabem como se libertarem das suas igrejas, por isso continuam lá.) Mas quem ora não se contem até que despeje todos os seus horrores diante de Deus e saia de lá com uma resposta plausível se não for visível mesmo. Foi assim com Daniel e será assim com muitos mais ainda. Tal é o estado de espírito de crentes limpos diante de Deus sobre o verdadeiro estado de Sião e suas pedras e seus muitos pecados, que muitas vezes se encontra gente confessando tanto os seus muitos pecados, como os de outros até por eles com verdadeiras lágrimas de arrependimento duma vez por todas! Para que a oração prevaleça, há que haver honestidade deste tipo em questões reais como a salvação dos outros, sabendo o que espera quem sabe que “o único salário de qualquer pecado é a morte”.
Mais ainda, como já mencionei antes, as nossas mãos limpas de qualquer pecado são uma essência de qualquer resposta sobre qualquer oração! O Salmista disse a alto e bom som “Lavo as minhas mãos na inocência; e assim, ó Senhor, me acerco do teu altar”, Sal. 26:6. Se este não for um caso idêntico ao seu, você nunca verá a alva. Se um homem houver prejudicado seu próximo, seu vizinho, em caráter, em propriedade ou impessoalmente, não terá como prevalecer na oração e a resposta será para ele sempre uma miragem pela qual espera em vão sem saber. “Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele”, Mt. 5:23-25.
Isto leva-me a falar de novo naquele espírito que perdoou mesmo quando não esqueceu. Sem ele nada obteremos de Deus a não ser que nos iludamos. “Se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas”. Mt. 6:15. Meus amigos, têm certeza que vossas mãos estão limpas, que quando vierem ter com Deus que você tem como dizer “Senhor não tenho em minhas mãos dinheiro de ninguém, honra de ninguém, nenhum mal a perpetrar, nada tenho contra ninguém”? Acha que Paulo seria ouvido se guardasse rancor contra aqueles judeus pecaminosos que nem as suas boas intenções entendiam? “Tu sabes Senhor que aquilo que roubei, devolvi ao seu respectivo dono, humilhei-me justamente diante de que maltratei” É esse o seu estado de espírito, crente? Quantas orações fez sem que sua vida estivesse branca como a neve? Será de admirar que ache que Deus não responde, ou que a resposta ainda virá? Nem sabe como Deus responde! Nem sabe o que isso é! Que vergonhoso haver pessoas que professam que oram e poucas que professam que recebem!
Eu estava numa grande cidade da América, alguns anos atrás e ao conversar com um irmão na fé, na presença duma senhora elegante e ricamente vestida, com os ornamentos que sempre acham necessários nessa sociedade. Enquanto conversava com este irmão sobre a oração e depois de muito lhe falar, a dita senhora começou por estar atenta àquilo que dizia. Dizia eu que os crentes deveras nunca esperavam respostas das suas muitas orações, quando oravam. Notei que ela ruminava vezes sem conta sobre aquilo que falava. Por fim ela sentiu-se muito incomodada e importunada que não se conteve e exclamou “não acredito que as pessoas sejam assim tão más”. Então retorqui que, eu sim. Tentei perguntar o mais meigamente que podia dada a ocasião, “a senhora recebe tudo aquilo que pede de Deus?” Ela respondeu-me que sim! Então perguntei-lhe se era casada. “Sim”. “O seu marido é crente?” “Não, senhor”. “Tem filhos?” “Sim”. “Os seus filhos estão salvos?” “Não estão, não senhor”. “A sua igreja é vivente, têm algum avivamento por lá?” “Não, não temos”. “Então, por que razões têm estado a orar na sua igreja? Se não têm avivamento, seu marido não esta salvo, seus filhos também não, a sua igreja não sente o poder de Deus, sobre o que oram lá? Sobre o que oraram que houvessem recebido então? Pediu essas bugigangas que traz na sua cabeça? Foram essas as coisas que pediram?” E assim continuei falando. Antes de havermos saído daquela sala, ela entrou num desespero de espírito tal que confessou prontamente em agonia que nunca orara a Deus de verdade. Ela orava de certa forma improdutiva e que nunca havia sido ouvida sequer. Na verdade, nunca verificou sequer se alguma vez havia sido ouvida! Tudo na oração para ela resumia-se a dever e obrigação. Mas que deveria era ser coisa de vida e verdadeira fé, com total conivência numa esperança real em receber aquilo que se pede dentro da Sua vontade. Será que tanto eu como você temos nossas mãos limpas sobre este dilema, nisto de receber também? Será que eles nos aceita? Já perdoou inimigos e a amigos? Já tive ocasião de me pronunciar sobre indivíduos que vivem nas mesmas igrejas se sequer se falarem! Abominação sem igual esta! Tais pessoas deviam era serem expulsas da comunhão de quem professa Cristo se fossem apanhados a orar em tais circunstâncias! Que horror de panorama, que abominação sem igual! Oram para que Deus perdoe seus pecados, sem dizer quais, mas nunca perdoam quem lhes ofende! É assim que tentam Deus! Pessoas que deviam estar a orar muito acima das circunstancias que os cercam, acima das injurias que sofreram e estar a orar para lhes perdoar seus próprios pecados; que não são tão poucos assim para que os leve a meditar sobre os dos outros ainda, como se lhes sobrasse tempo para isso; como podem prevalecer perante um Deus Santo e puro se não estiverem diante do seu trono de mãos limpas e de corações purificados através duma fé viva? Com maus pensamentos, com maus sentimentos e aproximam de Deus como se de anjos se tratassem! Nem o Arcanjo Miguel se atreveu a trazer qualquer acusação contra o diabo, alguém que não poderia ser mais vil, que não tem como progredir mais em nenhuma maldade! Até dos anjos se esperam sentimentos benévolos e não frívolos diante de Deus sobre seus inimigos. Será sempre impossível restaurar a confiança das pessoas em nós sendo nós iníquos diante de Deus. Não há que ter nem uma pequeníssima pré-disposição de retaliar contra alguém sequer, a menos que seja na luz, na sinceridade de querer e desejar ver-se liberto e perdoado daquilo. Nem um pequeno cheiro a rancor, nenhuma maldade escondida ou perpetrada há muito. Nada que possa impedir-nos de sermos ouvidos. Será que tem como orar “Senhor, perdoa-me como já perdoei aos outros?” De se conseguir pedir a sua salvação com lágrimas e súplicas? Ou apenas tem como dizer “não lhe quero nenhum mal, mas…” Também não está num estado de espírito de lhe querer bem! Que hipocrisia, que estupidez é essa? Que faz com seus inimigos? Que respeito tem por Cristo, quando ele diz ” Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. Pois, se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis demais? Não fazem os gentios também o mesmo? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial”. Mt. 5:44-48
Se não obtiver este estado de espírito nunca pode esperar que irá algum dia prevalecer perante Deus! Os amigos de Jó trataram-no de forma horrível, mas ele foi mudado quando orou por eles. Eles acusaram-no de hipocrisia, de se esconder sob uma capa de santidade e que Deus agora se manifestara contra ele diante de todos os homens. Mas Deus só mudou todo o seu cativeiro injusto e humilhante quando orou por eles. Que pensa para que ache que Deus agirá de forma distinta consigo?
Notas: Maio 22, 1850 – Oberlin College – USA – no Tabernacle, Moorfields. P. 3