A Comunhão Cristã

“Santa Comunhão?” E as palavras do homem quase que bateram concretas no meu rosto. “Olhe, eu tenho ido a santa comunhão por mais de cinco anos nesse lugar e não há uma alma que jamais tenha vindo falar comigo. Eu não vou mais.”

“Não,” disse a enfermeira em resposta à minha pergunta, “eu não estou frequentando igreja agora. Já faz ano e meio que não frequento. Em todas em que estive encontrei divisões e questões, então prefiro ficar em casa aos domingos, e ler bons livros e meditar.”

“Amáveis mas distantes! Isso é o que eu digo dos membros da minha igreja,” disse o pastor. “Eu não creio em muita inti­midade, traz muitos problemas. Nunca é bom conhecer muito de perto um ao outro na Igreja.”

E assim podíamos prosseguir. Tristes comentários sobre o estado da Igreja neste assunto de comunhão! No entanto, foram tirados da vida real, e estão ai para indicar o estado de mi­lhares de crentes e de igrejas. Sem dúvida, uma das maiores queixas apresentadas a respeito das igrejas é que elas estão faltando em comunhão. A di­ficuldade não está nos grandes blocos denominacionais, mas na frieza, irrealidade e superfi­cialidade da comunhão existente nas igrejas individuais.

A fome por comunhão é básica no coração humano. O homem é instintivamente gregário. O fato triste é que a igreja, que deveria ser a comunhão mais profunda, quente e amável, tantas vezes falha em atender a esta necessidade dos corações. Quão importante é que entendamos o sentido real de comunhão.

COMUNHÃO É PARTILHARMOS JUNTOS A VIDA DE DEUS

Ter comunhão é compartilhar! No Novo Testamento uma pa­lavra tinha que ser encontrada para expressar a estranha e pro­funda unidade que era sentida entre os cristãos, de modo que a chamavam “koinonia”, que pode ser traduzida como “vida comum”.

Vida Comum! Esta é a única coisa que os verdadeiros cristãos têm em comum, não obstante todas as diferenças de idade, sexo, personalidade ou ambiente. Há alguma coisa especial e única a respeito deles — não que creiam exatamente igual em todas as coisas, nem que adorem todos de um mesmo modo, mas sim que receberam todos, em suas almas, o mesmo Senhor e Salvador, e têm a mesma vida interior.

Quando nascemos de novo, re­cebemos uma vida nova, que não só nos relaciona com Deus, mas uns com os outros. Tornamo-nos irmãs e irmãos espirituais. Eis porque os cristãos, nos tempos do Novo Testamento, eram cha­mados “os irmãos”, pois eram todos filhos de Deus e irmãos uns dos outros. É uma coisa ma­ravilhosa ver isto, que Cristo Jesus habita em ti e em cada verdadeiro cristão, e que por­tanto tu és um com todos os crentes, na vida comum do Corpo de Cristo. E tão grandes são as possibilidades de comunhão nesta base, que Jesus orou em João 17 para que todos fôssemos um como Ele o era com Deus o Pai; para que pudéssemos ser perfeitamente unidos em Sua vida, a fim de que o mundo pu­desse crer. Assim, a verdadeira essência de nossa comunhão é a Vida Comum do Espírito Santo em todos nós.

COMUNHÃO  É  ANDARMOS JUNTOS NA LUZ DE DEUS

Agora surge a pergunta — se nós somos todos uma família, enlaçados numa vida espiritual comum, então por que não vi­vemos mais profundamente nessa comunhão, na vida real? Por que vivemos tão fechados em relação de uns para com os outros, por que discordamos, e por que não nos interessamos mais uns pelos outros? A resposta é que nós não preenchemos a condição simples de I João 1:7, que diz: “se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos pu­rifica de todo o pecado.”

Uma tarde fui com um amigo visitar uma mina de carvão. De­pois de momentos interessantes lá em baixo, viemos para a superfície, para descobrir que era já noite fechada. Em com­pleta escuridão, entramos no carro e seguimos para casa, sem a menor ideia de que os nossos rostos também estavam escuros, cobertos de pó de carvão! Fomos rindo e conversando por vários quilômetros, completamente enganados a respeito de nós mesmos. Só quando che­gamos a nossas casas é que descobrimos a verdade a nosso respeito. E a Escritura diz que, se andarmos em trevas, men­timos, e não praticamos a ver­dade. Não temos real comunhão uns com os outros.

Trevas são a escuridade que esconde a realidade das coisas. Significa que fingimos ser o que não somos, que encobrimos dos outros — e de Deus — nosso verdadeiro “eu”. Significa irrea­lidade, engano. Mas luz é aquilo que revela, e andar na luz signi­fica ser aberto, e honesto, e verdadeiro, um com o outro.

Alguns cristãos estiveram certa vez visitando umas ruínas. Enquanto observavam os vários compartimentos que tinham outrora sido quartos, olhando para o céu aberto em cima, um deles disse: “Sabe, estas ruínas me fazem pensar em muitos de nós crentes. Deixamos cair o te­lhado, que nos separava de Deus, mas deixamos ficar as paredes, oue nos separam uns dos outros.”

Verdadeira comunhão significa TELHADO REMOVIDO E PA­REDES DERRUBADAS.

Oh aquelas paredes de orgulho, temor, reserva, suspeita, com­plexo de inferioridade, pre­conceito, e centenas de outras coisas. Acima de tudo está a pa­rede da falta de disposição a aparecermos como pecadores. Uma vez que estas coisas caiam por terra, começa real comu­nhão. O lugar de pecador, onde nos arrependemos e somos vistos como humildes arrependidos, é o lugar de comunhão, pois ali estamos realmente na luz.

Um fator é essencial a comunhão, a saber, CONFIANÇA. Tu não podes gozar de uma pura comunhão com alguém em quem não confias, alguém que percebes poderá dizer por trás de ti o que não dirá na tua face, ou que não te será fiel em todas as ocasiões como teu irmão em Cristo. Disto precisamos — de real confiança uns nos outros. Nossa estrutura de família tem-se enfraquecido   pelo   caruncho  da falta  de  confiança   mútua.

COMUNHÃO É PRATICARMOS JUNTOS O AMOR DE DEUS

Vida sem luz torna-se técnica e irreal. Luz sem Amor é fria e insensível. Mas quando vemos que é exatamente o Senhor Jesus que é ambas as coisas, então descobrimos uma terceira coisa — que “o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” A Vida produz o Amor. E João, que fala de modo tão claro sobre este andar na luz, diz também que, “aquele que ama a seu irmão, está na luz”.

Amor não é algo que se aprenda em leituras ou em aulas. Ou amamos com o amor de Deus, ou não amamos, e é o Espírito Santo mesmo que precisa ensi­nar-nos a nos amarmos uns aos outros. É um fruto, uma con­sequência da vida do Senhor em nossos corações. Mas é essencial, pois é o próprio sangue da comunhão.

Agora, a comunhão de   amor precisa ser prática. O Senhor era prático em Seu amor, pois Ele veio e entregou a Sua vida por nós. Ele sacrificou-se para trazer-nos a Deus. E se ele vive em todos e nós andamos honestamente juntos na luz, então seu amor em nos nos levará a darmos a vida uns pelos outros. Nós nos sentiremos atraidos aos outros crentes, e atraidos em compaixão, consideração e cuidado por eles. E este é o perfeito vínculo, além do qual nada há melhor sobre a terra. E a mais pura expressão de Cristo, a que mais satisfaz e santifica e edifica. Aqueles que habitam em amor habitam juntos em Deus, pois Deus é amor. Amados, amemo-nos uns aos outros. Que este amor comece a arder de novo em mim por meus irmãos.

Fonte: REAVIVAMENTO — Janeiro de 1962

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