Notas: Artigos Práticos sobre o Cristianismo – Art. XII, 1837
“O amor não faz mal ao próximo; assim que a plenitude da lei é o amor.” – Rm. 13:10
Ao falar destas palavras procuro:
I. Fazer alguns comentários sobre a natureza do amor.
II. Mostrar que o amor é o todo da religião.
III. Algumas coisas que não são essenciais para o amor perfeito.
IV. Algumas coisas que são essenciais.
V. Alguns efeitos do amor perfeito.
I. Vou fazer alguns comentários sobre a natureza do amor.
1. O primeiro que vou fazer é que o amor pode existir em varias formas.
As duas principais, pelo que afeta à religião são a benevolência e a complacência. A benevolência é um afeto da mente ou um ato da vontade. É o desejar bem ou o desejar aumentar a felicidade de seu objeto. A complacência é estimação, aprovação do caráter de seu objeto. A benevolência deve ser exercida a todos os seres, na margem de seu caráter moral. A complacência é devida só aos bons e santos.
2. O amor pode existir bem como afeto ou como uma emoção.
Quando o amor é um afeto, é voluntário e consiste num ato da vontade. Quando é uma emoção, é involuntário. O que chamamos sentimentos, ou emoções, são involuntários. Não dependem diretamente da vontade. A virtude do amor é maior quando se manifesta em forma de afeto. A felicidade do amor é maior quando se manifesta em forma de emoção. Se o afeto do amor é forte produz um grau elevado de felicidade, mas a emoção do amor é a mesma felicidade.
Disse que a emoção do amor é involuntária. Não quero dizer que a vontade não tenha nada a ver com ela, senão que não é o resultado de um ato mero ou direto da vontade. Ninguém pode exercer a emoção do amor meramente por desejá-lo. E a emoção pode existir apesar da vontade. Os indivíduos às vezes sentem que a emoção se levanta em sua mente, que sabem que é imprópria e tratam com esforços diretos da vontade de eliminá-la de sua mente; e achando que é impossível, chegam à conclusão de que não há controle destas emoções. Mas pode haver controle por parte da vontade de uma maneira indireta. A mente pode fazer aparecer toda classe de emoções que deseje dirigindo suficientemente a atenção a um objeto apropriado. Haverá uma aparição proporcional à intensidade com que se fixe a atenção, assumindo que a vontade é reta com respeito ao objeto de atenção. O mesmo com respeito às emoções que são impróprias ou desagradáveis; a mente pode desembaraçar-se delas, dirigindo a atenção inteiramente a outro objeto, e não consentindo que os pensamentos permaneçam naquele.
3. Corretamente as emoções do amor a Deus são experimentadas quando exercemos amor a Ele em forma de afeto.
Mas nem sempre é este o caso. Podemos exercer boa vontade a um objeto e, com tudo, às vezes, não notamos uma sensação de amor. Não é certo que inclusive o Senhor Jesus Cristo exerceu o amor a Deus em forma de emoção em todo momento. Pelo que podemos saber da natureza de nossa mente, sabemos que uma pessoa pode exercer afeto, e ser guiada e governada por ele, constantemente, em todas suas ações, sem sentir nenhuma emoção de amor a este objeto naquele momento. Assim, um marido e um pai podem estar ocupados todo o dia para o benefício de sua família, e ter sua mesma vida controlada pelo afeto a eles, enquanto seus pensamentos não estão ocupados sobre eles de forma que façam sentir alguma emoção sensível de amor por eles durante este tempo. As coisas sobre as quais esta ocupado podem absorver-te de tal modo que sua mente apenas tem um pensamento para eles, e por tanto não pode sentir emoção a eles, e com tudo esta governado em todo momento pelo afeto que lhes têm. Observe-se aqui que uso o termo afeto, no sentido que o usa o Presidente Edwards, ao explicar-nos isto em se célebre Tratado da Vontade. Uma afeto neste tratado é um ato de vontade ou volição.
4. O amor ao próximo implica, naturalmente, a existência do amor a Deus, e o amor a Deus implica, naturalmente, o amor ao próximo.
O mesmo se declara no versículo oito. Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a Lei.” Porque o de: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não cobiçarás, e qualquer outro mandamento, nesta máxima se resume: Amarás a teu próximo como a ti mesmo. Aqui se dá por definitivo que o amor a nosso próximo implica a existência do amor a Deus, de outro modo não poderia dizer: O que ama ao próximo cumpriu a lei.” O apóstolo Tiago reconhece o mesmo princípio quando diz: Se vocês de fato obedecerem à lei do Reino encontrada na Escritura que diz: “Ame o seu próximo como a si mesmo”, estarão agindo corretamente” (Tiago 2:8). Aqui o amor ao próximo se diz que constitui obediência a toda a lei. A benevolência, isto é, a boa vontade ao próximo, naturalmente implica o amor a Deus. É amor à felicidade de ser. Assim que o amor de complacência aos seres santos naturalmente implica amor a Deus, como ser de infinita santidade.
II. Vou mostrar que o amor é o todo da religião.
Em outras palavras, tudo o que se requer do homem por Deus consiste em amor, em várias modificações e resultados. O amor é a suma total de todos.
1. A primeira prova que oferecerei é que o sentimento é ensinado no texto e em muitos outras passagens da Escritura.
As escrituras ensinam claramente que o amor é a suma total de todos os requerimentos, tanto da lei como do evangelho. Nosso Salvador declara que o grande mandamento: “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas força” é a suma total da lei e dos profetas que implica e inclui tudo o que requerem as escrituras, a lei e o evangelho.
2. Deus é amor, e o amor é ser como Deus, e ser perfeito em amor é ser perfeito como Deus é perfeito.
Todos os atributos de Deus consistem em amor, obrando baixo certas circunstâncias e certos objetivos. A justiça de Deus ao castigar aos maus, sua ira contra o pecado, e outros, são só exercício de seu amor à felicidade geral de seu reino. O mesmo no homem. Tudo o que é bom no homem é alguma modificação do amor. O ódio ao pecado é só amor à virtude. Até mesmo a fé implica e inclui o amor, e a fé que não tem amor em si, ou não obra por amor, não é parte da religião. A fé que pertence à religião é uma confiança afetuosa em Deus. Há uma classe de fé em Deus que não tem amor. O diabo tem esta classe de fé. O pecador convicto a tem. Mas não há religião nela. A fé poderia levantar-se inclusive à fé dos milagres, e com tudo, não haver amor nela, e não conta para nada. O apóstolo Paulo no capítulo treze de Coríntios diz: “Ainda que eu tenha o Dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei.””
O mesmo ocorre com o arrependimento. O arrependimento que não inclui o amor não é arrependimento a Deus”. O verdadeiro arrependimento implica obediência à lei do amor e uma conseqüente oposição ao pecado.
III. Vou mencionar algumas coisas que não são essenciais ao perfeito amor.
1. O maior grau de emoção não é essencial ao perfeito amor.
É manifesto que o Senhor Jesus Cristo raramente tinha o mais alto grau de emoção de amor, e com tudo, seu amor era sempre perfeito. Ele geralmente manifestava pouca emoção ou entusiasmo. O entusiasmo é sempre proporcionado à força das emoções, pois consiste nelas. O Salvador parecia geralmente acalmado de um modo notável. Algumas vezes sua indignação era grande, ou sua pena pela dureza dos corações dos homens; e algumas vezes lemos que se gozava no espírito. Mas normalmente se achava sossegado e não manifestava uma alto grau de emoção. E é claro que não é essencial para o perfeito amor o que a emoção do amor exista em um alto grau.
2. O perfeito amor não inclui a idéia de incremento no amor ou crescimento na graça.
Suponho que o crescimento da mente em conhecimento, por toda a eternidade, naturalmente implicará crescimento no amor por toda a eternidade. O Senhor Jesus Cristo em sua forma humana, cresceu em estatura e em favor com Deus e com os homens. Sem dúvida, quando criança, cresceu em conhecimento, e quando cresceu em conhecimento, cresceu em amor a Deus, assim como no favor com Deus. Seu amor era perfeito quando era uma criança, mas cresceu quando se fez maior. Como ser humano, provavelmente continuou crescendo em amor a Deus enquanto viveu. Desde um ponto da mente natural vemos que pode ser assim com todos os santos na glória que seu amor aumente por toda a eternidade, e com tudo sempre seja perfeito.
3. Não é essencial ao perfeito amor que o amor seja sempre exercido a todos os indivíduos de modo igual.
Não podemos pensar em todos os indivíduos no mesmo momento. Não é possível inclusive pensar em cada indivíduo que se conhece ao mesmo tempo. O grau de amor a um indivíduo depende do fato que este indivíduo esteja presente nos pensamentos.
4. Não é essencial ao perfeito amor que haja o mesmo grau de espírito de oração para cada indivíduo ou para o mesmo indivíduo em todo momento.
O espírito de oração não é sempre essencial para um amor puro e perfeito. Os santos do céu têm um amor puro e perfeito para todos os seres, mas sabemos que não têm o espírito de oração para ninguém. É possível amar a um indivíduo em alto grau e com tudo não ter o espírito de oração para ele. Isto é, pode ser que o Espírito de Deus não te guie para orar pela salvação deste indivíduo. Não se pode orar pelos maus no inferno. O Espírito de oração depende das influências do Espírito Santo, que guia a mente à oração pelas coisas agradáveis à vontade de Deus. Não se pode orar para toda a humanidade. Jesus Cristo o disse de modo expresso quando disse que não orava por toda a humanidade: “Não rogo pelo mundo” Aqui tem ocorrido um grande erro com respeito ao espírito de oração. Alguns supõem que os cristãos não têm feito todo seu dever quando não tem orado com fé para cada indivíduo, em tanto que é um pecador na terra. Logo, Jesus Cristo tampouco haveria feito seu dever porque nunca fez isso. Deus nunca nos disse que quer salvar a toda a humanidade, e nunca nos deu motivos para que o creiamos. Como temos, pois, de orar com fé pela salvação de todos? Sobre o que deve descansar esta fé.
5. O amor perfeito não é incompatível com os sentimentos de fraqueza ou debilidade constitucional que são uma conseqüência inevitável do esgotamento ou da má saúde.
Estamos constituídos de tal forma que a atividade natural esgota necessariamente nossas forças. Mas o amor pode ser perfeito a pesar de tudo. Ainda que alguém possa sentir-se disposto a deitar-se e dormir mais que a orar, o amor pode ser perfeito. O Senhor Jesus Cristo de vez em quando sentia cansaço e esgotamento quando o espírito estava ainda disposto, mas a carne era débil.
IV. O que é essencial para o perfeito amor.
1. Implica que não haja nada na mente incompatível com o amor.
Não pode haver ódio, malícia, ira, inveja, nem nenhuma outra emoção maligna incompatível com o amor puro e perfeito.
2. Que não haja nada na vida incompatível com o amor.
Todas as ações, palavras e pensamentos devem estar continuamente baixo o controle inteiro e perfeito do amor.
3. Que o amor de Deus seja supremo.
O amor de Deus seja completamente supremo e tão inteiramente por cima de todos os outros objetos que nada possa comparar-se a Deus.
4. Que o amor a Deus seja desinteressado.
Deus é amado pelo que é; não por sua relação com nós, senão pela excelência de seu caráter.
5. Que o amor ao próximo seja igual, isto é, que seu interesse e felicidade sejam considerados por nós como de igual valor que os nossos, e que ele e seus interesses sejam tratados em consonância.
V. Vou mencionar alguns dos efeitos do amor perfeito.
1. Um efeito do amor perfeito a Deus e ao homem será, sem dúvida, que me deleitarei na abnegação por amor a fomentar os interesses do reino de Deus e a salvação dos pecadores.
Os pais afetuosos se deleitam em negar-se coisas a si mesmo com vistas a fazer mais felizes a seus filhos. Ponhamos um pai: se entrega a um trabalho esgotador, sem contar o tempo, ao longo de sua vida, para poder manter o bem estar de sua família. E não o conta como abnegação, nem se queixa de que seja uma carga, senão que se deleita ao fazê-lo, porque ama a família. A mãe deseja criar e educar bem a seus filhos. Incessantemente trabalha para que seu filho possa adquirir o que ela espera que lhe fará um futuro mais prometedor ao filho. O Senhor Jesus Cristo gozou mais satisfação em realizar a salvação da humanidade do que seus próprios santos podem gozar-se em receber favores de suas mãos. Deu testemunho de que era o gozo proposto diante dele que o fez sofrer a cruz e desprezar a vergonha. O apóstolo Paulo não contou como aflição as penalidades que lhe iam acusando de um lugar a outro, em cárceres, açoitado, apedrejado, tudo por amor do evangelho e para salvar almas. Outros indivíduos tem feito outras coisas com a mesma mentalidade que o apóstolo.
2. Livra a alma do poder dos motivos legais.
O amor perfeito conduz uma pessoa a obedecer a Deus, não porque teme a ira de Deus ou espera receber uma recompensa pelo que faz, senão porque ama a Deus e quer fazer a vontade de Deus. Há dois extremos neste ponto. Uma classe faz que a virtude consista em fazer o reto simplesmente porque é reto, sem referência à vontade de Deus, ou a alguma influência de Deus. Outra classe faz que a virtude consista em atuar por amor no que se faz, mas sem referência à autoridade de Deus, como Governante e Legislador. Ambos estão no erro. O fazer uma coisa simplesmente porque se crê que é reta, e não por amor a Deus não é virtude. Nem é virtude o fazer uma coisa porque se ama fazê-la, a margem da vontade de Deus. Uma mulher poderia fazer certas coisas simplesmente porque lhe gosta de fazê-las, sem relação a seu marido, não havia virtude em fazê-las, com respeito a seu marido. Se uma pessoa ama a Deus, tão pronto como se sabe que é a vontade de Deus, o fará porque é a vontade de Deus. O amor perfeito conduzirá a uma obediência universal, para fazer a vontade de Deus em todas as coisas, pelo fato de que é a vontade de Deus.
3. O indivíduo que exerce perfeito amor estará morto para o mundo.
Com isto quero dizer que haverá eliminado a possibilidade da influência por considerações mundanas. O amor perfeito terá eliminado o egoísmo, pois não haverá mais vontade além de fazer a vontade de Deus, e não terá outro interesse aparte da glória de Deus. Não será influenciado pelo sentimento público; pelo que outros dizem e pensam. Uma mulher enamorada pode, pelo afeto que tem em seu esposo, cortar com todos seus amigos, riquezas, deleites, para juntar-se com aquele que ama no desterro, na desgraça ou na pobreza. Seu afeto é tão grande que a faz gozosa, e abandona um palácio para ir viver em uma cabana, e com tudo é perfeitamente feliz. Tudo o que seus amigos e família fazem para dissuadi-la não tem o menor efeito em sua mente. Há um afeto que absorve tudo, que matou todas as outras influências que atuavam nela. Não há mais que esta avenida para chegar a sua mente, só uma classe de motivos, e nada mais que este afeto.
No que se refere à filosofia da mente o amor perfeito a Deus opera da mesma maneira. A mente está tão cheia do amor perfeito que é impossível separá-la de Deus enquanto o amor continua ativo. Se pode atar esta pessoa na estaca para ser queimada, depois de havê-la feito passar por toda classe de humilhações e vitupérios, mas não deixa o amor de Deus e é feliz. Morreu para o mundo mas não para Deus.
Quem não foi testemunho de casos de afeto que se aproximam ao grau que descrevi, quando a pessoa, de fato, morreu para todas as outras coisas e só vive para o objeto de seu amor. Casos assim se encontra em pais que desejam morrer quando seu filho morre, ou matrimônios em que o esposo ou a esposa enfraquecem e morrem depois de ter falecido o cônjuge. O objeto de amor na qual estava absorvida a alma desapareceu, “porque viver mais?” Isto se aplica ao indivíduo que está cheio do perfeito amor a Deus, que deseja viver só de amor e servir a Deus; que morreu para o mundo, para sua própria reputação e não deseja viver para nada mais que glorificar a Deus, aqui, no céu ou em qualquer parte do universo.
Eu lembro de um amigo dizer, freqüentemente: “E não sei de ter pensado em viver um simples momento para qualquer outro propósito além de glorificar a Deus, algo mais que eu deveria pensar para saltar direto para o inferno.” Isto foi dito sobriamente e intencionalmente, e toda a vida deste indivíduo correspondia com a declaração. Ele foi inteligente, sóbrio e honesto, e eu não tinha a menor dúvida que tinha sido a mais profunda convicção desta mente por anos. O que foi isto além de um amor perfeito? O que mais faz qualquer anjo além disto? Seu amor pode ser grande em sua proporção, porque sua força é grande. Mas o anjo mais elevado não poderia amar mais perfeitamente para poder dizer sinceramente “Eu deveria preferir pensar em ir para o inferno do que viver um momento para qualquer outra coisa além de glorificar a Deus” O que poderia dizer Jesus Cristo além daquilo.
4. Apenas é necessário dizer que o amor perfeito da como resultado um gozo e uma paz perfeitos.
Quero voltar ao que diz o apóstolo no capítulo 13 de 1ª Coríntios ao falar do amor. “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como a prata que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me valerá”. O amor nos dá longanimidade baixo à oposição ou dano. Este é um dos efeitos do amor, o agüentar a provocação sem vingar-nos ou sem injuriar ao outro. O amor é terno e afetuoso em suas relações com os outros, não é rude e não acusa dor a ninguém se não é necessário. O amor não sente inveja nem desagrado pelos demais porque se têm mais em conta os outros, são mais honrados ou mais úteis, o alcançam maior conhecimento, felicidade ou piedade. Não se exalta com vanglória e orgulho, senão que se mostra sempre humilde. Não se comporta indevidamente, senão que de modo natural tem uma disposição agradável e prazerosa para com todos. Ainda que não conheça àqueles com quem se encontra na vida, atua com eles com carinho e cortesia; não busca o próprio interesse, não é egoísta. Não é provocado facilmente. Este é sempre o resultado do amor.
Uma mãe tem uma paciência inesgotável com seus filhos porque os ama. A pessoa obstinada, que se enoja facilmente e indigna-se quando não são as coisas como quer e culpa os outros, carece de amor. O ser provocado facilmente é um sinal de orgulho. O que ama não pensa o mal. A pessoa suspeitosa dos motivos dos outros, que interpreta os atos e palavras dos demais baixo a pior luz possível, não tem o Espirito Santo, senão que o diabo está nele. Há pessoas que sempre estão suspeitando heresia ou má intenção nos demais. O amor se goza na verdade.
O homem que se goza na caída do vizinho, que está pronto para reivindicar-se, que exclama com ira: “Viu? Eu não disse!”, está muito longe do amor perfeito. O amor tolera tudo, crê tudo, ou seja, esta disposto a aceitar algo como bom por pequena que seja a evidência em seu favor. Espera tudo, ainda que haja razão para suspeitar o mal; enquanto que haja esperança interpretará sempre no melhor sentido possível. Quando se vê a um indivíduo que não tem este espírito não tem amor.
O amor não produz o mal de seu próximo. Nunca engana, defrauda, oprime, nem ainda deseja o mal a seu próximo. O que ama não pode conceber a idéia de que outro possa ser seu escravo. A escravidão nega os direitos do outro. O que furta sorrateiramente o gado do que trabalha não ama. O que faz coisas assim é falso e hipócrita, se é que quer fazer ver que ama a Deus. Como pode dizer que ama a Deus se prejudica a seu próximo?
Vou fazer notar só outro dos efeitos do amor perfeito. De um modo uniforme se mostra nos esforços para a santificação da igreja e a salvação das almas. Quando uma pessoa é negligente ou deficiente em uma ou outra destas coisas, não é perfeita em amor, diga esta pessoa o que diga.
Conclusão
I. Vemos aqui porque é verdade o que diz o apóstolo Tiago: “Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião não tem valor algum!” (1:26).
O homem que professa ser religioso mas se permite falar mal de seu próximo com uma língua sem freio, prejudica ao próximo e se engana a si mesmo se crê que há amor ao próximo nele. Estranho amor!
II. Há muita luz às vezes na mente com respeito à religião, sem que haja amor nenhum.
Se vêem indivíduos que entendem muitas coisas, intelectualmente, sobre a religião, e que podem apresentá-las a outros, quando se vê de modo evidente que não são ativados pelo espírito de amor. Não têm a lei de amabilidade em seus lábios.
III. Aqueles indivíduos que têm muito conhecimento e zelo religioso, sem amor, não são fáceis de amar e são pessoas perigosas.
São sempre pessoas criticonas, orgulhosas, cabeças-dura, e pensam grandes coisas de si mesmas. Produzem uma grande impressão, mas não produzem verdadeira religião. Lhe aparentam a alguém com zelo, mas não bem.
IV. A direção do zelo de um homem mostra o caráter de sua religião e por sua vez o determina.
Mostra se a luz de sua mente vai acompanhada de amor. Se é assim seu zelo não será sectário. Se um homem está cheio de zelo e mal disposto contra todos os que não pertencem a sua seita ou seu partido, este homem está muito longe do amor perfeito.
O verdadeiro amor não denuncia, não é duro. Se tem ocasião de falar das faltas dos outros o faz de modo amável e com pena. O amor perfeito não pode falar de uma maneira áspera ou insultante aos demais ou dos demais. Não fará muita ênfase nos meros detalhes circunstanciais da religião nem será minucioso nas formas externas. Muitos lutam ferozmente por algumas coisas, em favor ou em contra de certos pontos acessórios, mas se estamos cheios de amor isto não é possível. O zelo que é regido pelo perfeito amor não se dedica a contendas sobre formas externas de religião nem em atacar erros mínimos. O amor faz ênfase no fundamental da religião. Se adere aos cristão ferventes, qualquer que seja a denominação a que pertençam e os ama e se deleita associando-se com eles.
Este zelo não ama as disputas nem as controvérsias. A pessoa que se deleita em reuniões religiosas de caráter administrativo para entrar em toda classe de pontos contenciosos não está cheio de amor. A mente cheia de amor preferirá não ter que assistir a este tipo de reuniões nas que só é evidente o desejo de predominar. O que ama as controvérsias nos jornais não está cheio de amor. Se fosse preferiria que o caluniassem, insultassem, rebaixassem, antes que defender-se e replicar. Nunca voltaria mal por mal, senão, ao contrário, devolveria bênçãos. Na medida que lhe é possível vive em paz com todos os homens.
V. Quanto do que se chama religião carece de amor.
Quanto do que passa por obras de religião é forçado por causas e influências externas e não pelo poder interno do amor!! teria que ser melhor entendido este ponto, que a menos que seja o amor o meio que move a ação, não importa o que esta seja: Louvor, oferta, oração, não há religião nela.
Quanto entusiasmo que passa por religião carece de amor! Quanto zelo não tem religião! Se esta pessoa é repreendida em algo se indigna e contesta com ira. Baixo a influência do amor perfeito se daria conta que suas circunstâncias não lhe permitem o exercício deste espírito.
VI. As excitações e entusiasmos religiosos que não procedem do espírito de amor, não são avivamentos religiosos.
Talvez a igreja esteja muito entusiasmada, e há muita agitação, muita movimentação e barulho, mas não há ternura de espírito. Talvez os que se movem mostram um espírito insolente, rude, e buscam rixas com os visitantes. Há espíritos rixosos, que se deleitam em provocar a outras pessoas. Se deram casos inclusive de alguns que o fizeram para logo traze-los à convicção de pecado e procuram sua conversão. Tudo isto são aberrações. Ainda que por outra parte o que alguns em um avivamento estejam cheios de ira não é uma prova de que não há avivamento religioso ali; mas quando a excitação geral tem este caráter ou prevalece nela este caráter, não se trata de um avivamento religioso. Alguns podem ter o espírito de amor, mas os que estão impregnados de um espírito contencioso, e buscam disputas não são verdadeiros religiosos.
VII. Quando as pessoas professam ser convertidos se o amor não é o rasgo prevalecente de seu caráter não estão verdadeiramente convertidos.
Por mais que apareça tudo bem em outros aspectos, ainda que tenham idéias claras ou sentimentos profundos, se não têm o espírito de amor de Deus e não amam aos outros, se enganam. Não se pode confiar nestes convertidos.
VIII. Vemos o que seria o mundo se a humanidade fosse acionada universalmente pelo espírito de amor.
Sabemos que chegará o tempo em que ninguém irá querer lastimar ou destruir, em que o espírito de amor prevalecerá de modo universal. Que mudança na sociedade! Os métodos de fazer negócios mudarão, e toda relação será distinta, pois cada um buscará o bem dos outros tanto como o próprio. Se algum dos crentes presentes pudesse visitar a terra baixo estas novas circunstâncias, provavelmente não a reconheceria.
IX. O que Cristo quer é trazer a toda a humanidade baixo a influência do amor.
Não é este um objetivo digno? Ele veio para destruir as obras do demônio; e esta é a maneira de fazê-lo. Suponhamos que o mundo estivesse cheio de pessoas como foi Jesus em sua natureza humana, e comparemos Ele com o mundo que temos agora. Não seria uma mudança assim uma honra para o filho de Deus? Que glorioso objetivo, encher a terra de amor!
X. É fácil ver o que faz que o céu seja o que é.
É o amor perfeito. E é fácil ver que o que faz que o céu pode começar na terra, nos que estão cheios de amor. Quão doce é seu caráter; quanto deleite estar em sua companhia; que benção viver perto deles; quão simples, amáveis, doces e cuidadosos são, evitando ofender, e amáveis em tudo!
Podem os homens chegar a isto? Podem amar a Deus neste mundo com todo seu coração, toda sua alma, sua força e sua mente? É nosso privilégio e dever possuir o Espírito de Cristo, e: Vamos exibir o espírito do Diabo? Amados, que nossos corações sejam estabelecidos em amor perfeito, e não demos descanso a Deus até que nossos corações estejam cheios de amor, e até que nossos pensamentos e nossas vidas estejam cheios de amor a Deus e aos homens. Oh, Quando chegará a este ponto a igreja? Só quando a igreja esteja cheia de amor será formosa como a Lua, brilhante como o Sol, e terrível para toda a maldade, em lugares altos ou baixos, “imponente como um exército em ordem!”