Estou preocupado com duas tendências negativas, muito fortes no meio musical das igrejas brasileiras. A primeira diz respeito a nova onda da adoração extravagante. Os cantores e editores resolveram utilizar uma palavra negativa em seus CD´s e livros, pois ouve-se, agora, sobre adoração extravagante!
Consulte qualquer dicionário e verá que a palavra extravagante não tem o mesmo sentido que lhe querem dar. O sentido dela é mais negativo que positivo! O Dicionário Português Michaelis, por exemplo, dá a seguinte definição para extravagante: 1 Que extravaga. 2 Estulto, imbecil, insano, insensato. 3 Estróina, gastador. 4 Esquipático, esquisito, singular. 5 Que anda fora do seu lugar. s m+f Pessoa que tem vida irregular e dissipadora.
Com a palavra os adoradores extravagantes e os editores do livro da Marlene, da Igreja Hillsong da Austrália que editaram Adoração Extravagante! Eis o problema dos tradutores: dar o mesmo sentido do inglês a uma palavra em português!
Já entendi. Eles querem dizer adoração extravasante, que se derrama, que se extravasa, como um rio que sobe pela ribanceira, ou a água que transborda do copo, etc. Escrevi a esses que titularamCD´s e livros avisando-os do sentido duplo e dúbio da palavra, mas não fui ouvido.
Não há dúvidas de que se vê muita extravagância nos cultos e reuniões da igreja, como se, para adorar a Deus tivéssemos que assumir outra personalidade.
Para esses cabe bem o título de extravagantes, mas não para o verdadeiro adorador que adora a Deus em espírito e em verdade. Porque adoração não é um momento de levantar as mãos, de se prostrar ou de coreografar, adoração é um estilo de vida que pode incluir essas coisas, mas redunda, basicamente, numa vida de devoção e de serviço.
Resumindo, a maioria dos cantores e pregadores está confundindo adoração como um momento de culto, quando na realidade, adoração é um estilo de vida.
Minha segunda preocupação diz respeito aos “mantras” na maioria dos cultos de adoração. Deixe-me explicar uma coisa: quando o adorador penetra no mundo espiritual transita entre o falso e o verdadeiro, entre o divino e o satânico, porque penetra no campo da mística ou das revelações.
Três dos dons espirituais são de revelação: palavra de conhecimento, sabedoria e discernimento de espíritos, porque o que se vê e se recebe nessa área transcendem a razão; estão além do conhecimento humano, daí a necessidade do discernimento de espíritos que permite julgar a fonte do conhecimento e da sabedoria. E na adoração, a música penetra nesse campo transcendental.
Paulo aborda essa questão quanto ao orar em línguas, porque é algo tão sobrenatural que o espírito ora, mas a mente fica infrutífera. Daí que a experiência cristã é, ao mesmo tempo, mística e pragmática.
Quando se ora em línguas é mística; quando se interpreta, o Espírito Santo traz a revelação ao nível do entendimento humano, porque a vida cristã não é de mistério, mas de revelação.
Ele diz: “Cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente”. E na adoração com música canta-se com a mente, mas também com o espírito.
Quando se canta no espírito entramos no mesmo terreno do falar em línguas – nada se entende a menos que haja interpretação. O cântico espiritual é dinâmico, melódico, tem altos e baixos e um cântico difere do outro. Em melodia e em letra. E varia de uma pessoa para outra.
A questão é que o mantra e o cântico espiritual operam no mesmo terreno espiritual em que a divisa, ou fronteira entre os dois é também espiritual, tênue, imperceptível.
Se o adorador não tiver discernimento poderá entrar ou ser levado pelo dirigente de adoração a cantar mantras em vez de cânticos espirituais.
E muita de nossa adoração foi invadida pelos mantras coletivos de nossos cultos, em que refrões, ou repetições, a mesma “batida” do ritmo, a repetição de sons e frases confundem-se com cânticos espirituais e não são.
O mantra budista tem sons e palavras desconhecidas e misteriosas, tal qual no cântico espiritual –em línguas. O cântico espiritual em línguas segue o mesmo padrão, porque é falado em “mistério”, numa língua estranha.
A diferença está que no “mantra” a pessoa é induzida, mas no cântico espiritual é uma operação do Espírito Santo. A semelhança ocorre quando o líder de adoração induz as pessoas, às vezes de forma imperceptível, com a mesma frase, ritmo, batida de tambores, etc.
Depois, aquele som e ritmo ficam martelando na mente todo dia.
O verdadeiro cântico espiritual é conduzido pelo espírito, e não induzido por alguém, por música ou por batidas de instrumentos.
Ele é melódico, têm altos e baixos. Se colocado num gráfico pode-se averiguar a diferença entre os dois. Se pudéssemos colocar o mantra num gráfico, perceberíamos que ele não tem altos e baixos, é quase reto…
Alguns dos dirigentes de adoração trazem mantras enrustidos em seus cânticos, que, ao fim deixam o adorador “prostrado”, não no sentido de prostração voluntária, de quebrantamento, mas de uma adoração depressiva, compulsória, em que o lamento e dor não dão espaço a alegria e gozo.
Ao fim de uma hora ouvindo-se certas melodias sentimo-nos verdadeiros trapos humanos. Seria bom que alguns dirigentes de louvor estudassem mais a fundo o poder oculto da música. A verdadeira adoração tem esse “fundo” de tristeza e quebrantamento, mas também o “pico” de gozo e alegria.
Portanto, percebo que nossa vigilância não deve ficar restrita apenas ao português que usamos – como no caso da extravagância – mas também ao mundo espiritual. Aliás, no português todos tropeçamos, mas não devem ocorrer tropeços quando se trata de coisas espirituais, pois nos tropeços espirituais é que o diabo ganha terreno.