É uma ótima coisa começarmos nossa vida cristã crendo em boa e sólida doutrina. Algumas pessoas recebem tantos evangelhos diferentes ao longo de suas vidas que é difícil preverem quantos mais receberão até o fim de suas jornadas.
Eu dou graças a Deus por Ele ter me ensinado o Evangelho de uma só vez, e eu tenho estado tão satisfeito com ele que não quero conhecer nenhum outro.
Uma Troca Constante de Credo é um Prejuízo Seguro
Quando mudamos constantemente nossos princípios doutrinais, tornamo-nos inaptos a trazer muitos frutos para glória de Deus. É bom que os novos crentes comecem agarrando-se firmemente àquelas grandes doutrinas fundamentais que o Senhor nos tem ensinado em sua Palavra. Se eu cresse no que alguns pregam sobre uma salvação temporal e de pouco valor, que somente permanece por um tempo, dificilmente eu seria totalmente agradecido a Ele; mas, ao saber que aqueles que Ele salvou, ele os salvou com uma salvação eterna, ao saber que ele os deu uma justiça eterna, ao saber que Ele os assentou em um fundamento eterno de amor infindo, e que Ele nos levará a Seu Reino eterno. Oh! Logo me maravilho e me assombro de que tal benção tenha sido dada a mim!
Suponho que haja algumas pessoas cujos pensamentos se inclinam naturalmente à doutrina do livre-arbítrio. Eu somente posso dizer que os meus se inclinam mui naturalmente às doutrinas da graça soberana.
Às vezes vejo os piores tipos na rua, e sinto como se o meu coração fosse transbordar de lágrimas de gratidão por Deus nunca ter me deixado agir como eles têm agido! Tenho pensado se Deus me tivesse deixado só, e não houvesse me tocado com sua graça, que grande pecador eu teria sido! Eu sinto que eu teria sido o rei dos pecadores, se Deus tivesse me deixado só. Eu não posso compreender porque eu sou salvo a não ser pelo fundamento de que Deus assim o quis. Eu não posso, por mais seriamente que busque descobrir qualquer razão em mim mesmo para ser um participante da graça de Deus. Se neste momento eu não estou sem Cristo, é tão somente porque Cristo me quer com Ele, e Sua vontade é que eu esteja com Ele onde quer que ele esteja e que eu participe de sua glória.
Eu não comecei minha vida espiritual – não! Antes dava patadas, e lutava contra as coisas do Espírito (…) havia um ódio natural em minha alma contra tudo o que é bom e santo. As advertências eram jogadas ao vento, quanto ao sussurro do Seu amor, eram rejeitados como sendo menos que nada e vaidade. Mas, agora estou seguro e posso dizer: Somente Ele é a minha salvação. Foi ele quem transformou o meu coração e dobrou os meus joelhos diante Dele.
Uma noite por semana, sentado na casa de Deus, não estava prestando muita atenção à pregação porque eu não cria. Um pensamento, entretanto me impressionou: Como eu vim a ser um cristão? Eu busquei ao Senhor. Mas – Como eu vim buscar ao Senhor? A verdade relampejou através de minha mente em um momento. Eu não o teria buscado sem que uma influência prévia em meu pensamento não tivesse me levado a isso. Eu orei – pensei – mas logo me perguntei – como vim a orar? Fui induzido a orar pelas Escrituras, mas como eu vim a ler as Escrituras? Sim, eu as li, mas o que me levou a fazê-lo? Logo vi que Deus estava por trás disso e que Ele era o autor da minha fé! (…) Hoje desejo fazer minha imutável confissão – Eu atribuo minha transformação inteiramente a Deus’!
Uma vez assisti a um pregador arminiano e Ele dizia: (…) não necessitamos que alguma inteligência superior, ou que um ser poderoso escolha por nós entre o céu e o inferno, nos tem sido dado meios e sabedoria suficiente para que julguemos por nós mesmos. – e portanto como ele logicamente infere, não há nenhuma necessidade que Jesus ou qualquer outro faça uma escolha por nós. Isso é deixado ao nosso livre-arbítrio, podemos escolher a nossa herança sem nenhuma assistência. Ah! Pensava eu, mas, meu bom irmão, poderá ser muito certo que possamos, mas penso que precisamos de algo mais além do sentido comum antes possamos escolher acertadamente.
Primeiramente deixe-me perguntar – não temos todos nós que admitir uma providência soberana e a mão de Deus, quanto aos meios pelos quais entramos neste mundo? Àqueles que pensam que depois somos deixados a nosso próprio livre-arbítrio para escolher isto ou aquilo ao dirigirmos nossos passos, têm que admitir que a nossa entrada neste mundo não era de nossa própria vontade, mas sim que Deus teve que escolher por nós. Tínhamos qualquer coisa a ver com isso? (…) Não foi Deus mesmo quem determinou quem seriam nossos pais e onde nasceríamos? (…) Não poderia Ele ter me feito nascer num lar pagão onde teriam me ensinado a prostrar-me diante de falsos deuses, tão facilmente quanto como dar-me uma mãe piedosa, que cada manhã e noite dobrasse os seus joelhos e orasse em meu favor, ou não poderia Ele, se assim o quisesse ter me dado um pai libertino, de cujos lábios desde cedo eu tivesse ouvido palavras obscenas, sujas e terríveis (…) Não foi graças à providência de Deus que tenho uma sorte tão feliz, que meus pais eram Seus filhos, e trataram de criar-me no temor do Senhor?
(…) Muito antes de a luz relampejar pelo céu, Deus amou suas criaturas escolhidas. Antes que houvesse um só ser criado. (…) quando nem mesmo o espaço existia, quando não havia nada senão somente Deus – ainda então – nesta solidão divina, em meio ao silêncio profundo, Suas entranhas se moviam com amor para Seus eleitos. Seus nomes eram escritos em Seu coração (…) Jesus amava o Seu povo desde antes da fundação do mundo – ainda desde a eternidade! E, quando Ele me chamou pela Sua graça, Ele me disse – Com amor eterno te tenho amado; portanto te suportei com misericórdia.
Desde a plenitude dos tempos, ele me comprou com o Seu sangue; Ele deixou Seu coração escorrer em uma ferida aberta e profunda por mim muito antes que eu O amasse. Quando Ele tocou na porta e pediu entrada, não O deixei do lado de fora e fiz pouco com a Sua graça? Eu freqüentemente agi assim até que por fim, pelo poder de Sua graça eficaz, Ele disse: Eu devo! Eu entrarei! e então Ele tomou o meu coração e fez com que eu O amasse. Mas ainda assim eu teria resistido se não fosse o poder de Sua graça eficaz. Bem, já que Ele me comprou quando eu estava morto em delitos e pecados não é lógico o fato de que Ele me havia amado primeiro? Morreu meu Salvador porque eu cria Nele? Não, porque até então eu não existia (…). Portanto – podia o Salvador ter morrido por quem tinha fé mesmo antes de haver nascido? Poderia isso ser possível? Poderia ter sido essa a origem do amor de Deus por mim? Ah! Não! Meu Salvador morreu por mim muito antes que eu cresse. Mas – diria alguém – Ele previu que tu terias fé; e, portanto te amou. Que foi que ele previu da minha fé? Previu que eu haveria de ter fé de mim mesmo? Não, Cristo não poderia ter previsto isso, porque nenhum cristão, em tempo algum ousaria dizer que a sua fé vem de si mesmo sem o dom e a obra do Espírito Santo. Ninguém pode dizer: Eu vim a Deus sem a ajuda do Espírito Santo
(…) Quando Deus entra em um pacto com um homem pecador, ele (i.e. o homem) é uma criatura tão ofensiva, que isso tem de ser feito através de um ato de pura graça soberana, rica e livre. Quando o Senhor entrou em um pacto comigo, eu tenho certeza que foi totalmente pela graça, nada além da Sua graça. Quando lembro como e quem eu era, quão obstinado e irregenerado era o meu caráter quão rebelde era contra a soberania de Deus, sempre me sento no lugar mais humilde na casa de meu Pai, e, quando entrar no Céu, serei o menor dos santos, e entrarei como o primeiro dos pecadores.
(…) Somente Ele é a rocha da minha salvação – Diga-me qualquer coisa contrária a esta verdade, e será uma heresia. (…) Qual é a heresia de Roma (Igreja Católica Romana) senão a adição de algo mais aos méritos perfeitos de Cristo, trazendo as obras da carne para auxiliar em nossa justificação? E qual é a heresia do Arminianismo, senão a adição de algo mais à obra do Redentor? (…) Eu tenho minha própria opinião de que não há como pregarmos a Cristo e este crucificado se não pregarmos o que hoje chamamos de Calvinismo. (…) O Calvinismo é o Evangelho e nada mais. Eu não creio que podemos pregar o Evangelho, se não pregarmos a justificação pela fé, sem obras, nem tampouco se não exaltarmos o amor triunfante, eterno e imutável de Deus; muito menos se não o basearmos na redenção particular e especial de seu povo eleito que Cristo salvou sobre a cruz; nem posso compreender um Evangelho que permite aos santos perderem-se depois de haverem sido chamados, e que permite aos filhos de Deus serem consumidos no fogo do inferno depois de haverem crido em Cristo. Tal evangelho eu abomino.
(…) Se um só dentre os santos de Deus houvesse se perdido, então todos poderiam perder-se também, e então não há nenhuma promessa verdadeira no Evangelho e a Bíblia é uma mentira e não há nada digno de confiança nela. Se Deus uma vez me amou, então Ele me amará para sempre! (…) Isso será feito – Ele diz – Este é o meu propósito (…) e está firme, nem a terra, nem o inferno podem alterar. Este é o meu decreto. Nada pode alterá-lo nem anjos, nem demônios, haja o que houver” – o Seu decreto permanecerá para sempre! Ele é Todo-Poderoso e, portanto pode cumprir toda a Sua vontade.
Nós, meros homens, insetos rastejantes, poderíamos mudar nossos planos, mas Ele nunca! Nunca mudará os Seus. Se Ele me tem dito que o Seu plano é salvar-me então eu sou salvo para sempre! Eu não sei como algumas pessoas que crêem que um cristão pode cair da graça pretendem ser felizes. Deve haver algo muito recomendável neles para que passem um só dia sem desesperar-se. Se eu não cresse na doutrina da perseverança dos santos, eu seria o mais miserável dos homens, porque sentiria a falta de um fundamento de conforto. (…) Eu creio que o mais feliz e verdadeiro dos cristãos é aquele que nunca se atreve de duvidar de Deus, que toma a sua Palavra simplesmente como está e crê, e não faz questionamento algum, estando certo de que se Deus prometeu assim Ele fará.
(…) Todos os propósitos dos homens têm sido derrotados, mas não os propósitos de Deus. As promessas dos homens podem ser quebradas, mas não as promessas de Deus. Ele é um fazedor de promessas, mas nunca foi um quebrador de promessas; Ele é um Deus fiel às Suas promessas e cada um do Seu povo provará que é assim. (…) Perdido, indigno e arruinado que sou, contudo Ele me salvará!
Eu sei que há alguns que pensam que é necessário aos seus sistemas teológicos pôr algum limite aos méritos do sangue de Jesus. No entanto, se o meu sistema teológico necessita de tais limites então eu devo jogar ele ao vento. Não posso e não me atrevo a permitir que um pensamento assim ache pousada em minha mente (…) Na obra cumprida de Cristo vejo um oceano de mérito; minha mão não alcança nenhum fundo, meus olhos não vêem nenhuma margem. (…) Tendo uma Pessoa Divina como oferta não é consistente conceber um valor limitado, limites e medidas são termos inaplicáveis ao sacrifício divino.
(…) Eu creio que haverá mais pessoas no Céu do que no inferno. Se alguém me perguntar por que penso assim, responderei: porque Cristo em tudo há de ter o primado, e eu não posso conceber como Ele pode ter o primado se houver mais pessoas nos domínios de Satanás do que no Paraíso. Além do mais, eu nunca li que há de haver uma grande multidão, que ninguém pode contar, no inferno. Regozijo-me em saber que as almas das criancinhas logo após morrer, se apressam em seu caminho ao Céu! Imagine a multidão deles! Logo, já há no Céu milhares sem número dos espíritos de homens justos aperfeiçoados – redimidos de todas as nações, linhagens, povos e línguas até esta hora; e há de vir melhores tempos, quando a religião de Cristo for universal; quando Ele reinar de pólo a pólo com império ilimitado.
Algumas pessoas amam a doutrina da expiação universal porque eles dizem: é tão bela, tão formosa, é tão bom saber que Cristo morreu por todos os homens. Admito que há algo de belo nesta doutrina, mas a beleza muitas vezes pode ser associada com a falsidade. Vou ensinar o que essa suposição envolve: Se Cristo na cruz teve a intenção de salvar a cada pessoa, sem exceção – então Ele intentou salvar aqueles que já haviam se perdido antes que Ele morresse. Se esta doutrina é verdadeira – que Ele morreu por todos os homens, então Ele morreu por alguns que estavam no inferno antes que Ele viesse ao mundo. Porque sem dúvida havia milhares que haviam sido reprovados por causa de seus pecados. Se foi mesmo a intenção de Cristo salvar todos os homens, como Ele foi deploravelmente frustrado, porque temos Seu próprio testemunho acerca do lago de fogo e neste lago tem sido lançados – segundo a teoria da redenção ilimitada (ou universal) pessoas que foram compradas pelo seu sangue. Essa é uma concepção mil vezes mais odiosa e repulsiva do que qualquer conseqüência que associam à doutrina cristã e calvinista da expiação limitada ou particular.
Que Cristo ofereceu uma expiação e satisfação pelos pecados de todos os homens, e que depois alguns desses mesmos homens hão de ser castigados pelos pecados que Cristo já havia expiado, parece ser a mais monstruosa de todas as iniqüidades que poderia ser imputada às deidades mais pagãs e diabólicas. Deus não nos permita de pensarmos assim Dele.
Não há entre todas as pessoas vivas neste mundo alguém que se detém mais às doutrinas da graça do que eu confesso também que desejo ser chamado apenas cristão e que quanto ao fato de ser chamado calvinista, declaro que sustento todas as principais doutrinas defendidas por João Calvino e me regozijo de confessá-las. Entretanto longe de mim imaginar que Sião não tem mais do que cristãos calvinistas dentro de suas paredes, e que não há ninguém salvo que não exponha ou sustente nossos pontos de vista. Eu creio que muitos homens que não podem ver estar verdades ou pelo menos não as podem ver da maneira que nós as apresentamos, mas que tem recebido a Cristo como seu Salvador, são tão amados de Deus quanto qualquer calvinista dentro ou fora do céu. Por exemplo, temos John Wesley o Príncipe dos arminianos, Ele viveu muito acima do nível ordinário dos cristãos comuns, e era um dos quais o mundo não era digno.
Que o Senhor predestina e, todavia o homem é responsável são dois fatos que poucos podem ver claramente. São tidos por inconsistentes e contraditórios; no entanto, essas são duas verdades que se convergem e se encontrarão em alguma parte na eternidade, junto ao trono de Deus de onde procede toda a verdade.
Freqüentemente é dito que as doutrinas que cremos têm uma tendência a levar-nos ao pecado. Não sei quem tem a audácia e o atrevimento de fazer tal afirmação tendo em vista o fato de que os mais santos homens que já existiram criam nelas. Quem se atreve a dizer que o Calvinismo é uma religião licenciosa o que ele pensa do caráter de Agostinho, Whitefield, Calvino os quais foram os grandes expositores destas verdades; o que dirá dos puritanos? Se um homem houvesse sido um arminiano nesta época Ele teria sido reputado como o pior dos hereges, mas agora nós somos vistos como hereges e eles como ortodoxos. Nós temos regressado à antiga escola, podemos trazer nossa descendência até os apóstolos (…) podemos correr uma linha de ouro até Jesus Cristo passando por uma lista de poderosos pais, os quais todos sustentavam estas gloriosas verdades. Pergunto: Onde acharemos homens melhores e mais santos? (…) Nada faz um homem mais virtuoso do que uma fé na verdade. Uma doutrina mentirosa levará a uma prática mentirosa. Ninguém pode ter uma fé errônea sem daqui a pouco ter uma vida errônea também; eu creio que uma coisa naturalmente leva à outra. De todos os homens, aqueles que têm uma piedade desinteressada, uma reverência mais sublime, uma devoção mui ardente, são os que crêem que são salvos pela graça, sem as obras, mediante a fé, e que isso não vem deles mesmos, mas é dom de Deus.
Texto traduzido, adaptado e resumido por Marcos Siqueira