A maioria das pessoas não quer ouvir líderes cristãos admitindo seus pecados, nem dizendo que ainda há ocasiões em que pecam.
Em uma ocasião, contei minha história e, pouco depois, um dos navios de nossa missão naufragou. Uma pessoa me escreveu que o julgamento de Deus estava sobre mim (na verdade, queríamos substituir o navio. Ninguém saiu ferido no naufrágio, que consideramos uma bênção de Deus). Então, passei a esperar esse tipo de resposta.
A maioria das pessoas não quer ouvir líderes cristãos admitindo seus pecados, nem dizendo que ainda há ocasiões em que pecam. E muito poucos querem ouvir um líder dizer que sabe conviver com sua natureza pecaminosa. Mas eu aprendi. E declarei isso em público.
Eu não diria que minha tentação para a pornografia é um vício. Não tenho sido exposto a ela com freqüência. Não a procuro na internet, não pago por ela. E não tenho acesso constante às revistas desde a adolescência.
Uma vizinha orou por mim durante dois anos, disse ela, e passei por uma experiência poderosa de conversão quando tinha 16 anos, em uma cruzada de Billy Graham. Depois disso, soube que a pornografia tinha de ir embora e queimei as poucas revistas que tinha. Se eu não tivesse me convertido, a pornografia poderia ter se tornado um vício terrível. Ainda assim, durante a maior parte de minha vida adulta, enfrentei tentações horríveis e caí algumas vezes.
Posso dizer com sinceridade que, com o passar dos anos, parei de procurar pornografia. Ela vem até mim. E me pega de surpresa. Uma vez, quando me dirigia para uma reunião estratégica em Edimburgo, na Escócia, encontrei uma revista no banheiro. Aconteceu de novo quando eu estava a bordo de um navio, indo para a Escandinávia.
Um momento de decisão aconteceu cerca de 30 anos atrás, quando eu caminhava pela mata, nos arredores de Londres. À distância, vi alguma coisa pendurada nos galhos de uma árvore. Era uma revista pornográfica, toda furada por balas. Alguém a pendurara ali para servir como alvo. Subitamente, passei a ser o alvo.
Gostaria de poder dizer que destruí a revista e saí vitorioso, mas a verdade é que, naquele dia na mata, a revista me fez de gato e sapato.
Fiquei na mata bastante tempo, depois de meu episódio de luxúria com a revista, antes de conseguir me arrastar de volta à cruz e pedir perdão. Depois disso, na maior parte das vezes, fui capaz de suportar as tentações de Satanás. Gostaria de poder dizer que isso acontece todas as vezes, mas seria mentira.
E, lá na mata, descobri uma nova postura diante de meu pecado: quando peco, peço perdão. Todas as vezes.
Qual a verdadeira aparência da vitória?
Como é a vida vitoriosa para o pecador? Ausência de pecado? A derrota de Satanás em todas as tentações? Terminar o campeonato sem uma derrota sequer? Se for essa a medida, então estou fora. E, acredito, todos falhamos, e continuaremos a falhar, sem alívio.
No meu próprio caso, dando a mim mesmo o benefício da dúvida, calculo que consigo resistir, talvez, em 95% dos casos de tentação. Porém, como o número de tentações que enfrentamos é enorme, ainda há quedas demais!
Claro que nos 45 anos de minha vida cristã, falhei, e não apenas na área da luxúria. Existem pecados muito mais graves do que relação sexual com uma revista. Para mim, os maiores problemas são irritabilidade e raiva. Para outros, arrogância, acusação ou legalismo.
Vida vitoriosa, tendo em vista nossa natureza pecadora, não é ausência de pecado, mas sim saber o que fazer quando pecamos. Em 1 João 2.1, a Bíblia diz: “não pequem”. O desejo de João era que seus seguidores não pecassem. Mas o versículo prossegue: “Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”.
Quando peco, estou pronto a confessar rapidamente. E, quando confesso, acabo com o poder de Satanás, o enganador, o adversário que deseja me fazer acreditar em mentiras (“eu não fiz nada errado”, ou “meu pecado é tão horrível que não sirvo mais para trabalhar para Deus”).
Pela confissão sincera, minha força para lutar contra a próxima tentação aumenta muito, pois sei que o inimigo não tem nada que possa usar como acusação contra mim. Cristo é meu defensor diante do Pai, Ele afirma que fui perdoado. Satanás não tem nada a dizer.
Nunca duvidei, desde o momento da conversão, da palavra de Deus sobre seu amor por mim. É essencial entendermos que Deus nos ama e nos aceita – inclusive quando falhamos. Essa verdade tem me sustentado. Mesmo rejeitado por causa de meus pecados, ou por falar neles, sempre senti o amor de Deus. Nunca duvidei da palavra dele quanto ao amor por mim. Tenho um convite em aberto para voltar a Ele assim que estou pronto a admitir que, mais uma vez, o pecado me venceu.
O amor de Deus não é uma licença para pecarmos. Graça, sem disciplina, pode levar à desgraça. Embora Deus perdoe minhas desgraças, como líder cristão, se houver muita desgraça, minha credibilidade e a capacidade das pessoas confiarem em mim acabarão. Paulo falou: “esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado” (1 Coríntios 9.27). Se eu não tivesse enfrentado meu problema logo e o mantivesse em uma área restrita de minha vida, o pecado poderia ter crescido ao ponto de me desqualificar. Só pelo poder de Cristo sou capaz de me colocar sob sujeição.
Passei a prestar contas à minha esposa sobre a área da lascívia, e ela tem sido uma imensa fonte de afirmação para mim. Ora por mim, ouve quando conto as lutas ocasionais e jamais me condena. Lembro que contei a ela, hoje já mais velho, que uma olhadela rápida em pornografia havia causado um grande impulso físico em mim. “Bem,” disse ela, “pelo menos isso prova que você ainda tem alguma coisa”. Posso ser sincero com minha esposa, e ela comigo.
Um pecador ensina pecadores
Esforcei-me para sustentar as pessoas que me procuraram para um relacionamento de orientação. Como criaturas inclinadas ao pecado, somos incapazes de controlar sozinhos nossos pecados. Precisamos de gente que aceite que somos pecadores e que nos impeça de ceder ao pecado.
Meu ministério mais especial como “mentor” começou com minha confissão em público. Fui convidado para falar na conferência missionária em Urbana (EUA), em 1967. Minha mensagem não tratava de missões. Falei sobre pecado sexual.
Foi a primeira vez que dei testemunho para um grande público. Alguns ficaram incomodados com minha franqueza, mas disse a esses jovens que eles, como eu, precisavam se arrepender da imoralidade sexual. Cerca de 4.000 se responderam ao apelo, muitos chorando de arrependimento.
Já preguei três vezes em Urbana depois disso e, todas as vezes, as pessoas me cercam à procura de alguém que as ouça a respeito de suas lutas sem as condenar, e as leve de volta a Cristo.
Um jovem que estava no campo missionário me escreveu, pedindo que eu me encontrasse com ele na fronteira do país em que estava. Sofria muito por seu pecado. Não conseguia nem verbalizar; então digitou em uma página a descrição de seus vícios. Eu o coloquei como meu companheiro de trabalho por um ano (sempre tive alunos viajando comigo). Assim, tivemos tempo para trabalhar nos problemas dele, que voltou ao campo missionário e hoje tem uma esposa e uma família maravilhosas.
Ele precisava de alguém que lhe dissesse, com base na experiência própria, que há esperança. Com muita freqüência a igreja dá idéias falsas sobre santidade. Todos nós queremos amadurecer em santidade, mas leva tempo. O crescimento vem com a idade e a experiência. Princípios legalistas não são a resposta para o mistério do pecado humano. Aconselhei aquele jovem a buscar o equilíbrio entre graça e disciplina.
E o incentivei a ler mais. Livros sobre os heróis da fé têm de ser fermentados com a aclamação sincera dos fracassos deles. Até os maiores de nós são tão pecadores quanto santos. Precisamos mirar exemplos realistas dos que buscaram padrões santos e, dando dois passos à frente e um para trás, nos aproximarmos deles.
Líderes que admitem sua vulnerabilidade e até suas falhas, mancam. Porém, suponho que seja isso que faz com que os feridos consigam alcançá-los e pedir ajuda.
O serviço a Deus é acessível aos deficientes.
Ainda jovem na fé, eu estava na porta de uma boate em Indianápolis, distribuindo folhetos. A programação da noite chamou minha atenção, e logo eu estava sentado na terceira fila, assistindo o show. Era strip-tease. Em poucos minutos, fui tomado de emoção. Percebi onde estava – o evangelista, com os bolsos repletos de folhetos, olhando com cobiça as jovens que tiravam a roupa, peça por peça. Corri para fora, fui até o ponto de ônibus mais próximo, onde havia uma cabine telefônica. Não peguei o fone, mas chamei Deus.
“Ó Deus!”, clamei. “Perdão, perdão”.
Não senti o perdão, mas sabia que Ele havia prometido nos perdoar. Minutos depois, comecei a dizer a mim mesmo: “Fui perdoado. Obrigado, Senhor”. E saí da cabine.
Mas, depois do perdão vem a condenação. “Deus não pode usar você. Você o decepcionou”, disse o acusador.
Antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa, um homem andou em minha direção. Pensei que ia me perguntar sobre o horário do ônibus, ou alguma outra informação, mas ele começou a me contar seus problemas. Em poucos minutos me perguntou: “Qual a solução?”. Uma hora mais tarde ele se ajoelhou perto do Memorial de Guerra em Indianápolis e entregou a vida a Jesus Cristo.
Eu nunca conseguiria inventar uma história tão boa.
Satanás queria me ver na boate, afundando cada vez mais na degradação da luxúria e da pornografia. O segundo plano era me fazer ficar preso na angústia da cabine telefônica pelo resto da vida. Porém, pela graça de Deus, pelo meu arrependimento e no recebimento do perdão pela fé, voltei ao plano de Deus e Ele me usou para levar aquele homem à salvação.
Se algum dia eu viesse a precisar da evidência do perdão e da restauração, já tinha.
Sou um pecador. Venho me fortalecendo com o passar dos anos. Arrasto-me até a cruz quando peco e descubro que Deus ainda me ama, continuando a me usar para levar outros a Cristo. Isso é graça, concorda?
George Werwer é diretor internacional de Operação Mobilização, organização missionária mundial com sede em Londres, na Inglaterra.
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