INTRODUÇÃO
“Quem veio?”, “Subiu Samuel?”, “Permitiu Deus que isso acontecesse?”, “Por que utilizar uma feiticeira?”, “Foi um demônio?”, “Quem foi que apareceu?”, são perguntas que constantemente aparecem em cartas que temos recebido em nosso ministério radiofônico, e que também surgem freqüentemente nos estudos bíblicos nas igrejas, nos institutos bíblicos e nas Convenções.
Sobre isso, a posição generalizada é ambígua: “Talvez…”, “Creio que sim…”, “Quem sabe?…”, “Eu duvido…”, “Dificilmente..”, “Provavelmente. ..”, “É provável…” Durante muitos anos, essa foi a minha posição, mas, intimamente, isso não me satisfazia, pois sentia que deveria ter uma posição definida: Foi ou não foi Samuel. Há cerca de oito anos, estudando minuciosamente á Palavra de Deus sobre o assunto, pude chegar a uma conclusão bíblica.
Considerando que tais perguntas surgem cada vez com maior freqüência, porque vivemos no auge do ocultismo no mundo, decidi escrever e publicar este assunto sobre tão interessante tema.
Rogo a Deus que a leitura deste opúsculo sirva de bênção e de orientação para os leitores.
O Autor
1 – Israel – uma Teocracia
No mundo em que vivemos, têm existido várias formas de governo humano: teocracia, monarquia, autocracia, ditadura, democracia, etc.
Israel, no princípio, foi uma teocracia. Esta palavra é composta de duas outras gregas: “Theos” que significa Deus; e “Kratein” que quer dizer reinar, governar. É o governo cuja autoridade promana de Deus, e é exercida por ministros por Ele escolhidos. Mal ou bem, a teocracia em Israel durou aproximadamente quatrocentos anos; desde o Êxodo, e das tábuas da Lei, até Samuel, que foi o último juiz de Israel. No tempo desse profeta, o povo rejeitou a Deus e a Samuel e pediu um rei.
O regime teocrático voltará a ser implantado em Israel e em todo o mundo, por ocasião da Segunda Vinda de Cristo, e será exercido durante o Milênio, quando Cristo governará o mundo como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Depois, o governo de Deus continuará por toda a eternidade na nova terra.
2 – Samuel – o último mensageiro do regime teocrático
Samuel é considerado como um dos maiores personagens da Bíblia. Seu nascimento, vida exemplar e ministério frutífero, registram-se no Primeiro e Segundo livros de Samuel, no Antigo Testamento.
Ele exerceu simultaneamente três grandes ofícios junto ao povo de Israel: Profeta, Sacerdote e Juiz, sempre com correção, dignidade e temor de Deus.
Quase no final de sua vida, Samuel convocou o povo e fez um desafio público, perguntando se alguma vez enganara qualquer pessoa, então o povo respondeu: “Nunca!”
O salmista destacou Samuel como um homem de íntima comunhão com Deus, e de grande confiança dele: “E Samuel entre os que invocam o seu nome”, SI 99.6.
O próprio Deus testemunhou que muito honrava Samuel: “Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, meu coração não se inclinaria para este povo”, Jr 15.1.
Samuel ministrou aproximadamente quarenta e sete anos, e tinha cerca de oitenta e oito anos quando morreu.
3 – Israel pede um rei
Samuel havia envelhecido e por isso, designara seus filhos Joel e Abias como juízes sobre Israel. Porém, seus filhos não andaram no caminho de seu pai, antes se inclinaram à avareza, aceitaram subornos, e perverteram o direito, l Sm 8.3.
A velhice de Samuel e a perversão de seus filhos foram os pretextos usados pelos anciãos de Israel para pedirem um rei. Disseram a Samuel: “Constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que nos governe como o têm todas as nações”. Foi um pretexto porque Deus podia resolver a situação na própria teocracia. O pedido do povo não agradou a Samuel, que se sentiu rejeitado. Deus disse a Samuel: “Eles não rejeitaram a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre eles”.
Instruído divinamente, Samuel explicou ao povo o que significava rejeitar o reinado de Deus – a teocracia – pelo reinado do homem – a monarquia. “Porém o povo não quis ouvir a voz de Samuel e disse: Não, mas teremos um rei sobre nós… e seremos como todas as nações”. Samuel repetiu perante o Senhor todas as palavras do povo, e o Senhor disse a Samuel: “Atende a sua voz e estabelece-lhes um rei”.
Rejeitaram o governo de Deus pelo governo do homem, a teocracia pela monarquia!
4 – Saul é escolhido rei de Israel
“Havia um homem de Benjamim, cujo nome era Quis… Tinha ele um filho, cujo nome era Saul, moço e tão belo que, entre os filhos de Israel, não havia outro mais belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaía a todo o povo. Extraviaram-se as jumentas de Quis, pai de Saul. Disse Quis a Saul, seu filho: Toma agora contigo um dos moços, dispõe-te, e vai procurar as jumentas”, l Sm 9.1-3.
Saul partiu com seu companheiro pela região montanhosa de Efraim; atravessou a terra de Salisa, a terra de Saalim, a terra de Benjamim, a terra de Zufe, mas as jumentas não apareceram.
O moço sugeriu a Saul que fossem a Samuel, o profeta, para saber o paradeiro das jumentas, “porque tudo quanto ele diz, sucede” Então, eles foram a Samuel.
“Ora, o Senhor, um dia antes de Saul chegar, havia revelado aos ouvidos de Samuel, dizendo: Amanhã, a estas horas, te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe pobre o meu povo Israel”. Depois da chegada de Saul, “tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e o beijou e disse: Não te ungiu porventura, o Senhor por príncipe sobre a sua herança, o povo de Israel?” “Então, o povo gritou de alegria dizendo: Viva o rei!” Assim Saul foi em busca de algumas jumentas e encontrou um reino.
5 – Os primeiros passos de Saul
Quando Samuel disse a Saul que Deus o havia escolhido por príncipe, Saul humildemente respondeu: “Porventura não sou benjamita, da menor das tribos de Israel? Por que, pois, me falas com tais palavras?” l Sm 9.21. E, ao ser apresentado por Samuel ao povo como rei, escondeu-se. Seus primeiros passos foram dados em humildade e na dependência de Deus e de Samuel.
Saul obteve uma grande vitória contra os amonitas, favorecendo o povo de Jabes-Gileade. O segredo dessa grande vitória foi que “o Espírito de Deus, veio sobre ele com poder”, l Sm 11.6. Antes dessa batalha havia pessoas no meio do povo que não queriam reconhecer Saul como rei, mas depois todo o povo o aceitou como soberano, l Sm 11.15. Samuel, na sua velhice, lembrou as grandes vitórias e as bênçãos que o Senhor Jeová dera a Israel, quando Deus era o seu Rei. “Também advertiu o povo de que, se temesse ao Senhor e o servisse como seu Rei, bem lhe seria; porém se perseverasse em fazer o mal, pereceria o povo e o rei”, l Sm 12.14,25.
Porém a humildade de Saul e a sua obediência a Deus durou, apenas, dois anos.
6 – O primeiro erro de Saul
Após dois anos de reinado, Saul cometeu seu primeiro grave erro. Desde o primeiro encontro com ele, Samuel falou-lhe que ele (Saul) havia sido escolhido como príncipe do povo de Deus, e ordenou-lhe: “Logo descerás diante de mim a Gilgal; então eu descerei a ti para oferecer holocaustos e sacrificar ofertas de paz. Espera sete dias até que eu vá a ti, e te mostres o que hás de fazer”! I Sm. 10.8.
No segundo ano do reinado de Saul chegou esse momento. Os filisteus ocupavam parte do território de Israel, e Jônatas, filho de Saul, à frente de mil homens, atacou uma guarnição deles. Saul, que estava em Gilgal com dois mil homens, deflagrou a guerra. “Então os filisteus se juntaram para pelejar contra Israel: trinta mil carros, seis mil homens a cavalo e povo em multidão como a areia que está à borda do mar”, l Sm 13.5.
Quando os homens de Israel viram o numeroso exército tão bem equipado, “esconderam-se em cavernas, pelos espinhais, penhascos, fortificações e covas. Outros ainda cruzaram o Jordão… Saul permanecia em Gilgal… e o povo ia atrás, tremendo”, l Sm 13.6,7.
Saul esperou sete dias, conforme o prazo que Samuel havia marcado, mas Samuel não chegava a Gilgal, e o povo se espalhava. Então disse Saul: “Trazei-me holocausto e ofertas de paz. E ofereceu o holocausto. Eis que lhe chega Samuel, e Saul saiu-lhe ao encontro para recebê-lo e saudá-lo”, l Sm 13.8-10.
O mais importante não era exatamente os sete dias que devia esperar. Aguardar a chegada de Samuel isto sim, era o mais importante. O profeta-sacerdote havia dito: “espera… até que eu venha a ti e te diga o que hás de fazer”.
Quando Samuel chegou, e perguntou a Saul o que ele havia feito, em vez de sentir-se arrependido, começou a apresentar desculpas, acusando Samuel pela tardança, l Sm 13.11,12.
A resposta de Samuel foi decisiva e constituiu uma censura em quatro expressões:
1. Procedeste nesciamente.
2. Não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou.
3. Não subsistirá o teu reino.
4. O Senhor buscou para si um homem que lhe agrada.
Samuel levantou-se e partiu. Quanto a Saul, procedeu como se não tivesse acontecido nada: contou o povo que se achava com ele, uns seiscentos varões.
No começo, Saul saiu para buscar alguns jumentos para seu pai e nisso gastou muitos dias, mas em compensação encontrou um reino e foi ungido por Samuel. Mas agora, por não esperar algumas horas, promove a perda do reino que ganhara. Dois anos antes, achara muito importante procurar jumentas. Agora lhe era indiferente perder um reino. Como mudara o seu caráter!
7 – Mais erros
Saul cometeu seu segundo erro por não reconhecer o seu primeiro erro, e por não arrepender-se dele. Isso contribuiu para uma sucessão de erros. A Bíblia diz: “um abismo chama outro abismo”, Sl 42.7; “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte”, Tg 1.15.
Os filisteus enviaram três esquadrões em direções diferentes. Israel estava desarmado: não possuía espadas, nem lanças, nem armas de ferro. Apesar disso, Jônatas, o filho de Saul, resolveu atacar uma guarnição de filisteus armados, porque ele cria que “para Jeová não era difícil livrar com muitos ou com poucos”, l Sm 14.6.
Uma das desculpas de Saul, de oferecer o holocausto sem esperar por Samuel, foi porque o povo se espalhava: temeu ficar sem seus homens de guerra. Jônatas, porém, creu, testificou da sua fé e demonstrou o que dissera: “para Jeová não é difícil livrar com muitos ou com poucos”.
Jônatas, confiando em Deus e esperando a proteção divina, infiltrou-se no acampamento dos filisteus e, junto com seu pagem, matou vinte inimigos com uma rapidez sobrenatural; então “houve pânico no acampamento e pelo campo… e a terra tremeu… e eis que a espada dum era contra o outro, e havia grande confusão… Assim livrou o Senhor a Israel naquela noite”, l Sm 14.13-15,20,23. Houve vitória porque Jônatas confiou no Senhor e obedeceu a Ele.
Enquanto Jônatas e seu ajudante lutavam e arriscavam suas vidas, Saul demonstrava seu desequilíbrio, dando ordens absurdas. Disse ao sacerdote Aias: “Traze aqui a arca de Deus”. Ao mesmo tempo deu-lhe uma contra ordem: “Retira a tua mão”. Tudo indica que Saul queria controlar o sacerdote Aias e as coisas pertinentes ao sacerdócio, como havia tentado fazer com Samuel. Deu ainda outra ordem insensata: Declarou maldito o homem que comesse pão antes da tarde, mas “estavam os homens de Israel já exaustos naquele dia… pelo que todo o povo se absteve de provar pão”, l Sm 14.24.
Jônatas, a quem Deus honrou, e que, em termos humanos, foi o herói da vitória, não sabia da ordem de seu pai e, “estendeu a ponta da vara que tinha na mão, e a molhou no favo de mel; e, tornando a mão à boca, aclararam-se os seus olhos”, l Sm 14.27. Foi aí que, uma das pessoas do povo avisou a Jônatas a proibição de Saul.
Jônatas reconheceu o grave erro de seu pai, e disse: “Meu pai tem turbado a terra; ora vede como se me aclararam os olhos por ter provado um pouco deste mel. Quanto mais se o povo hoje livremente tivesse comido do despojo que achou de seus inimigos! Porém agora não foi tão grande o estrago dos filisteus”, l Sm 14.29,30.
Outro erro de Saul foi ter, depois de todo um dia de guerra, com o povo cansado, dito: “Desçamos de noite atrás dos filisteus, e despojemo-los, e os saqueemos até que amanheça a luz”.
O sacerdote, vendo que Saul fazia como bem lhe parecia, sugeriu que consultassem ao Senhor se deveriam perseguir os filisteus. O sacerdote disse: “Cheguemo-nos aqui a Deus… então consultou Saul a Deus, porém naquele dia o Senhor não lhe respondeu”, l Sm 14.36,37. Deus já começava a negar a resposta a Saul!
Ainda outro grave erro foi ter Saul condenado Jônatas à morte, quando este admitiu que havia comido um pouco de mel por ignorar a proibição. Mas em Jônatas não havia rebelião nem desobediência. Saul disse a Jônatas: “Assim me faça Deus, e outro tanto, que com certeza morrerás, Jônatas”. O povo então falou a Saul sobre a vida exemplar, os fatos heróicos e a salvação, que Deus havia dado ao povo, por intermédio de Jônatas, “assim o povo livrou a Jônatas, para que não morresse.”
Evidentemente, Saul tinha pouca confiança em Deus, e a pouca que tinha era para que o Senhor o defendesse de seus inimigos, pois, “a todos os homens valentes e valorosos que via os agregava a si”, l Sm 14.52.
É certo o que diz a Escritura: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia”, Pv 28.13.
8 – O erro decisivo
Algum tempo depois, Saul recebeu outra oportunidade de se arrepender. Deus enviou-lhe Samuel, a quem não via desde o incidente em Gilgal, para entregar-lhe uma mensagem e uma ordem. Por causa da crueldade demonstrada pelos amalequitas no tempo da peregrinação do povo de Israel, Saul deveria destruir esse povo e tudo o que lhe pertencesse: “Vai, pois, agora e fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo o que tiver; nada lhe poupes, porém matarás homem e mulher; meninos e crianças de peito; bois e ovelhas; camelos e jumentos”, l Sm 15.1-3; Êx 17.14-16. Samuel deixou bem claro a Saul que estas eram as palavras do Senhor e que ele deveria obedecer literalmente à ordem recebida, l Sm 15.1,2.
E, na verdade, Saul derrotou os amalequitas … Mas, “tomou vivo a Agague, rei de Amaleque… E Saul e o povo perdoaram a Agague, e ao melhor das ovelhas e das vacas, e às da segunda sorte, e aos cordeiros, e ao melhor que havia, e não os quiseram destruir”, l Sm 15.7-9.
Saul não fez o que lhe fora ordenado. Apenas cumpriu parcialmente a ordem. Mas obediência parcial é desobediência! Saul trouxe vivo a Agague como troféu de guerra.
Mais uma vez mostrou descaso pelo mandato de Deus. Na mesma noite Deus falou a Samuel: “Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não executou as minhas palavras”. l Sm 15.11.
Samuel madrugou para encontrar-se com Saul e, quando o encontrou pela manhã, Saul já havia erigido um monumento em sua própria honra pela vitória contra os amalequitas, e tinha consciência de haver desobedecido a Deus.
Ao encontrar-se com Samuel, Saul lhe disse: “Executei a palavra do Senhor”. Isso era falso. Samuel apontou como evidência da rebeldia de Saul o “balido das ovelhas e o mugido das vacas” que se ouvia.
Saul escusou-se alegando “o povo perdoou ao melhor das ovelhas e das vacas, para oferecer ao Senhor teu Deus”, l Sm 15.15. Mas Samuel condenou com veemência: “Não destes ouvidos à voz do Senhor… fizeste o que parecia mal aos olhos do Senhor!
Saul, no seu orgulho de rei, não se humilhou, antes respondeu com arrogância: “Dei ouvidos à voz do Senhor… e trouxe a Agague rei de Amaleque… mas o povo tomou do despojo ovelhas e vacas, o melhor do anátema”. Cada vez que se desculpava, culpava-se mais, pois não considerava errado ter trazido o rei Agague vivo, bem como o despojo maldito.
Samuel tornava-se cada vez mias firme em seus pronunciamentos, que eram de Deus. Ele retrucou: “Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria e o porfiar como iniqüidade e idolatria. I Sm 15:22,23
Quando a pessoa errada é advertida e, apesar da advertência continua no erro, está sendo rebelde. Pecado não arrependido nem confessado produz aflições e falta de paz.
9 – Saul é rejeitado
Diante da gravidade do pecado de Saul, de sua obstinação e do endurecimento de seu coração, a sentença divina só poderia ser: “Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti para que não sejas rei”. l Sm 15.23.
Saul é acusado de desobediência, de obstinação e de rebeldia contra Deus. Isto equivale aos pecados de adivinhação e de idolatria. Por isso foi rejeitado pela segunda vez e de forma definitiva.
Diante da censura e condenação de Samuel, Saul admite parcialmente seu pecado, quando diz: “porque temi ao povo e dei ouvidos à sua voz”, mas transfere o pecado para o povo. Isto não é arrependimento. Ainda mais: foi ele que começou a desobedecer, quando permitiu a Agague viver. Em vez de pedir perdão a Deus, pede a Samuel, como se tivesse pecado contra Samuel; como se Samuel pudesse perdoar-lhe.
O que realmente preocupava Saul não era haver quebrado a palavra de Deus, mas ter afetado seu prestígio e a sua posição diante do povo. Por isso pede a Samuel que volte com ele, para que o povo o pudesse ver junto com o varão de Deus, pois Samuel gozava de grande conceito e distinção entre o povo. Mas Samuel negou-se a ir com Saul, e repetiu “porque rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre o povo de Israel”.
E virando-se Samuel para ir, Saul “pegou pela borda da capa, e a rasgou”, num gesto de desespero, mas não de amor, Saul queria forçar Samuel a honrá-lo. Não sentia acusação na consciência e nem arrependimento por desobedecer a Deus! O que o agoniava era perder sua posição, seu reino.
Então Samuel, que era profeta, tomou o pedaço da capa rasgada como um sinal, e disse: “O Senhor tem rasgado de ti o reino de Israel, e o tem dado ao teu próximo, melhor do que tu”. l Sm 15.28.
Saul novamente suplicou a Samuel que o honrasse diante dos anciãos de Israel. Samuel pesaroso, concordou, mas não sem terminar a tarefa de que Saul fora encarregado: “E Samuel despedaçou a Agague perante o Senhor em Gilgal”, l Sm 15.33b.
Samuel foi a Rama, mas Saul foi a Gibeá: “E nunca mais viu Samuel a Saul até o dia da sua morte, porque Samuel teve dó de Saul. E o Senhor se arrependeu de haver constituído Saul rei sobre Israel”, l Sm 15.35.
10 – O Espírito de Deus retira-se de Saul
Quando Deus ordenou a Samuel que fosse à casa de Jessé, o belemita, para ungir outro rei, sabendo que Saul estava descontrolado, temeu Samuel por sua própria vida e disse: “Se Saul souber, me matará”. Mas era uma ordem de Deus e ele cumpriu. Davi foi ungido rei, e “desde aquele dia o Espírito do Senhor se apoderou de Davi”, l Sm 16.13. Que maravilha!
Por outro lado, vemos que: “O Espírito do Senhor se retirou de Saul, e o atormentava um espírito mau da parte do Senhor”, l Sm 16.14. Ao retirar-se o Espírito de Deus, forçosamente teria de vir um espírito mau: era (e é) a conseqüência natural.
Os criados de Saul reconheceram que um espírito mau o atormentava e sugeriram-lhe que buscasse alguém que soubesse tocar harpa. Desta maneira, Davi veio ao palácio do rei, e, quando tocava a harpa, o espírito mau se retirava de Saul.
Por causa desse espírito mau que o atormentava e o dominava, Saul andava nervoso, ciumento, desconfiado, apavorado, irado. Ele só sentia alívio quando Davi tocava a harpa, pois o espírito mau se retirava dele, l Sm 16.23. O próprio Saul provocara o mal que sofria: era uma natural conseqüência da sua atividade sem Deus.
11 – Um rei sem glória
Os anos passaram e Saul continuava caído, rejeitado, atormentado, sem paz e sem glória. Veio então outra guerra com os filisteus.
Desta vez os filisteus apresentaram um novo tipo de guerra: Havia um gigante entre eles chamado Golias, com mais de três metros de altura. Era ele portador de uma armadura que pesava mais do que cento e cinqüenta quilos. Proclamavam os filisteus que um homem de Israel deveria lutar contra o gigante. E quem fosse vitorioso traria a vitória ao seu povo. O povo do perdedor, porém, seria escravizado.
Por quarenta dias, duas vezes ao dia, esse filisteu desafiava Saul e dele escarnecia, zombando também de Israel e de Deus. “Ouvindo então Saul e todo Israel essas palavras do filisteu, espantaram-se e temeram muito”, l Sm 17.11. E não esqueçamos de que Saul era um semi-gigante, porém estava rejeitado e sem glória: o pecado não lhe permitia ter paz nem valor.
Ninguém se atrevia a ir lutar com o gigante. Davi, porém, ao ser inteirado de tudo, candidatou-se a isso, mas não queriam permitir-lhe lutar, porque era um menino. Mas a confiança de Davi estava em Jeová. Ele disse a Saul: “O Senhor me livrou da mão do leão, e da do urso: ele me livrará da mão deste filisteu”, l Sm 17.37.
“E olhando o filisteu, e vendo a Davi, o desprezou, porque era um mancebo… e disse-lhe: Sou eu algum cão, para tu vires a mim com paus?” Davi respondeu: “Tu vens a mim com espada, com lança e com escudo, mas eu venho a ti em nome do Senhor dos Exércitos a quem tens afrontado”, l Sm 17.45. “Davi lançou sua pequena pedra com a funda, e feriu o filisteu na testa… e caiu ele sobre o seu rosto, em terra. E correu Davi e tomou a sua espada e cortou com ela a cabeça do gigante. Vendo então os filisteus que o seu campeão era morto, fugiram”, l Sm 17.46-51. Deus deu outra vitória a Israel, porém foi por intermédio de Davi e não de Saul, pois o rei estava caído e sem glória!
12 – Ciúme, inveja e homicídio
Depois de sua grande vitória contra os filisteus, ficou Davi no palácio real. E entre ele e Jônatas, filho de Saul, começou uma sincera amizade. Como a vitória de Davi significa a vitória de Saul e de todo o Israel, as mulheres cantavam: “Saul matou milhares; Davi, porém, matou dezenas de milhares”. Saul não se conformou com o refrão e aborreceu-se sobremaneira. Reclamou despeitado: “Dez milhares deram a Davi e a mim somente milhares! nada mais lhe falta, a não ser o reino”, l Sm 18.8. “Desde aquele dia Saul não olhava Davi com bons olhos. No outro dia o mau espírito apoderou-se de Saul, e ele variava no meio da casa, l Sm 18.10.
Observe-se que o espírito mau que atormentava Saul estava nele agora: havia-se apoderado dele. Saul estava endemoninhado. É altamente importante que na versão da Bíblia em inglês, de King James, na versão aramaica, na versão em português, e em outras, a palavra “variar” é traduzida por “profetizar”. Em outras palavras, pelo poder do demônio, Saul começou a profetizar. O propósito do demônio era tentar cobrir com capa religiosa o procedimento de Saul. Na Bíblia existem muitos outros casos de demônios usando pessoas para profetizar. Isso também existe muito em nossos dias!
Enquanto Davi tocava a harpa, Saul, possuído do demônio, profetizava, mas “atirou com a lança, dizendo: encravarei a Davi na parede”, l Sm 18.11. Mais uma vez afirma a Escritura: “O Senhor era com Davi e se tinha retirado de Saul”, l Sm 18.12. Imediatamente seguiu-se uma caçada implacável por parte de Saul, para matar Davi. Isso era uma manobra de Satanás para impedir o advento do Filho de Davi, nosso Senhor Jesus Cristo.
Saul estava tão endemoninhado, que intentou vinte e uma vezes assassinar Davi, e com a agravante de premeditação. Saul matou oitenta e cinco sacerdotes porque um deles deu alimento a Davi, e atirou a lança tentando matar seu próprio filho Jônatas, porque era amigo de Davi. Saul tornou-se um consumado assassino, um louco, um esquizofrênico, mas também um endemoninhado.
13 – Saul rejeita reconciliar-se com Davi
Durante as perseguições de Saul a Davi, o filho de Jessé poderia ter matado Saul, pelo menos em duas ocasiões, mas não o fez; pelo contrário, despertou-o, chamando-o à reconciliação.
Em En-Gedi, Davi cortou um pedaço do manto real de Saul, e guardando uma certa distância, mas com todo o respeito bradou-lhe: “Rei, meu senhor!” E disse-lhe boas palavras de reconciliação mostrando também que lhe poupara a vida.
E como Saul tinha aversão à falta de glória, disse a Davi: “Eis que bem sei que certamente hás de reinar, e que o reino de Israel há de ser firme em tua mão, portanto, agora, jura-me pelo Senhor que não desarraigarás a minha semente depois de mim nem desfarás o meu nome da casa de meu pai”, l Sm 24.20,21.
A outra ocasião foi no deserto de Zife, no outeiro de Haquila. Enquanto Saul e os seus dormiam, Davi aproximou-se e levou a lança e a bilha de água de Saul. Poderia matá-lo, mas não o fez. Depois de falar a Saul palavras de paz, perguntou-lhe: “Por que persegue o meu senhor assim o servo? Que fiz eu? E que maldade se acha em minhas mãos?”, l Sm 26.18.
Para evitar a caçada de Saul, Davi foi ao território dos filisteus: “para que Saul perca a esperança de mim e cesse de me buscar por todos os termos de Israel; e assim escaparei de sua mão. E sendo Saul avisado de que Davi tinha fugido para Gate, não cuidou mais de buscá-lo”, l Sm 27.1-4. Davi habitou entre os filisteus um ano e quatro meses, l Sm 27.7.
14 – O pecado de adivinhação e de necromancia
Adivinhação é a prática ocultista para conhecer o futuro. A prática da adivinhação estava e está proibida por Deus: “Não sereis agoureiros e nem adivinhos”, Lv 19.26; “Não seja achado no meio de ti quem pratique adivinhação, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro”, Dt 18.10; “Não vos virareis para os adivinhadores, e encantadores; não os busqueis, contaminando-vos com eles”, Lv 19.31; “E não deis ouvidos aos vossos adivinhadores, nem aos vossos sonhadores, nem aos vossos agoureiros, nem aos vossos encantadores…”. Jr 27.9,10.
A razão da proibição é ser isso abominação ao Senhor. Abominável significa detestável, aborrecível, odioso, condenável, maldito: “Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações… pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor, e por estas abominações o Senhor teu Deus as lança fora de diante dele… porque estas nações ouvem os agoureiros e os adivinhadores; porém a ti, o Senhor não permitiu tal coisa”, Dt 18.9-14. Adivinhação é obra satânica!
A prática da adivinhação, por ser obra do Diabo, era castigada com a morte: “A feiticeira não deixarás viver”, Êx 22.18. “Quando, pois algum homem ou mulher em si tiver algum espírito adivinho, certamente morrerão: Serão apedrejados”, Lv 20.27. O adivinhador era do Diabo e trabalhava visando o lucro, 2 Cr 18.4-26; Ez 13.15; Jr 6.13; At 8.9,16. O método de Deus é a profecia e não a adivinhação. O instrumento de Deus é o profeta e não o adivinhador. A obra de Deus é a revelação bíblica, não o ocultismo tenebroso. O que agrada a Deus é a fé sincera, não a superstição.
Necromancia é a evocação de espíritos que dizem ser de mortos. A necromancia era e é igualmente proibida por Deus, e também era castigada com a morte: “O homem ou a mulher que evocar espíritos de mortos ou se entregar à adivinhação há de morrer: serão apedrejados”, Lv 20.27; “Não se ache no meio de ti, nem quem consulte os mortos”, Dt 18.10,11; “Quando vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram entre os dentes, não recorrerá um povo ao seu Deus? a favor dos vivos interrogar-se-ão os mortos?”, Is 8.19.
O rico disse a Abraão: “Rogo-te, pois, ó Pai, que o mandes (o espírito de Lázaro) à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para’ este lugar de tormento”, Lc 16.19-31. A resposta foi negativa, ainda que o rico insistisse. Diante do exposto, podemos concluir que a adivinhação e a invocação dos mortos é antibíblica.
15 – Saul e a feiticeira de Endor
Era triste a condição de Saul: o Espírito do Senhor se havia retirado dele e ele estava possuído de demônios, e novamente os filisteus “reuniram suas forças para lutar contra Israel”, l Sm 28.1. Israel estava cercado! Samuel, o profeta, por quem o povo consultava a Deus, falecera há dois anos! Davi, o herói nacional, estava fora do país, por causa da perseguição de Saul! Jônatas, o guerreiro valente, estava entristecido por causa da situação de seu pai! E Saul estava apavorado e conturbado! Então, “vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu, e estremeceu muito o seu coração”, l Sm 28.5.
Quem está em paz com Deus não tem medo nem se perturba: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim”, Jo 14.1. A Saul faltava-lhe a paz de espírito para planejar: “os ímpios, diz o meu Deus, não têm paz”, Is 52.21. Nessa condição espiritual, Saul quis imitar a Samuel, Saul quis consultar a Deus, mas “O Senhor não lhe respondeu, nem por sonho, nem por Urim, nem por profetas”, l Sm 28.5. O Senhor não podia responder por que “Deus não ouve a pecadores”, Jo 9.31. Saul não era temente a Deus, e nem fazia a vontade divina. Era um rebelde que fazia a sua própria vontade.
Em vez de humilhar-se diante de Deus, permaneceu endurecido. Não tendo obtido resposta divina, deveria humilhar-se, arrepender-se e buscar o perdão do Senhor, para, então, ser ouvido. Mas Saul não fez isso; antes, em novo ato de rebelião, mandou buscar uma pitonisa, uma feiticeira, uma adivinhadora para, contra tudo o que aprendera na mocidade, e contra tudo que ensinava a Palavra de Deus, consultá-la: “Buscai-me uma mulher que tenha o espírito de feiticeira, para que vá a ela e a consulte”, l Sm 28.7.
Ele sabia muito bem que isto estava terminantemente proibido por Deus, e sabia que a razão da proibição era porque estes “espíritos de adivinhação” eram espíritos maus, demônios. Por esta razão, ele mesmo, “tinha desterrado os adivinhos e os encantadores”, l Sm 28.3,9.
Mas Saul havia desobedecido tanto, e rejeitou tantas vezes a Deus, que a isso já estava acostumado. Saul distanciara-se tanto de Deus, que não mais podia retornar a Ele. Saul sabia que, ao consultar uma feiticeira, estava agindo contra a vontade de Deus. Ele sabia que estava consultando demônios. No seu orgulho deve ter falado assim: “Se Deus não me ouve nem me responde, então procuro o Diabo”. De fato, ainda há pessoas assim em nossos dias: Isso está em moda. Existem pessoas que odeiam a Deus e amam o Diabo. Que desobedecem a Deus conscientemente, e obedecem ao Diabo. Existem até “igrejas” que adoram o Diabo.
16 – Saul procura a feiticeira
Saul disfarçou-se e foi de noite à casa da feiticeira. Nunca descera tanto. É horrível notar como o Diabo humilha suas vítimas! Saul disse à mulher: “Peço-te que me adivinhes, pelo espírito de feitiçaria, e me faças subir a quem eu te disser”, l Sm 28.8.
A feiticeira alegou: “Eis aqui, tu sabes o que Saul fez como tem destruído da terra os adivinhos e os encantadores; por que, pois, me armas um laço à minha vida, para me fazer matar?”, l Sm 28.9.”Então Saul lhe jurou pelo Senhor dizendo: Vive o Senhor, que nenhum mal te sobrevirá por isso”, l Sm 28.10. Tal era o estado espiritual de Saul que não teve escrúpulo de jurar pelo Senhor, perante uma feiticeira.
A feiticeira disse: “A quem te farei subir?” As feiticeiras, as pitonisas, as bruxas, os médiuns, procuram satisfazer os fregueses, por quem são pagos. Mas Deus dá ao homem, não o que o homem gosta, mas o que o homem necessita.
“Faze-me subir a Samuel!” Era uma pretensão atrevida, pois Saul havia desobedecido a Samuel, quando este ainda vivia. Ademais, pela rebelião de Saul contra o Senhor, Samuel afastou-se de Saul e não mais quis vê-lo nem encontrar-se com ele, l Sm 15.35.
Enquanto Samuel vivia em Rama, que não ficava muito longe de Gibeá, Saul nunca mostrou interesse de consultá-lo, de pedir-lhe conselhos. E agora queria comunicar-se com Samuel através de um espírito de feiticeira, por meio de uma abominação, através de um demônio!
“Vendo, pois, a mulher a Samuel”, l Sm 28.12. (Devemos entender que a Bíblia faz o relato do que dizia a feiticeira.)
17 – A feiticeira faz o seu jogo
Saul queria era ver Samuel e a feiticeira só poderia dizer que o espírito era de Samuel: ela precisava agradar o consulente, ou antes, ela precisava guardar a sua própria vida, pois já desconfiava que tivesse Saul diante de si. Ela provavelmente o reconhecera quando chegou, pois ele era de elevada estatura, mais que todos do povo: era um semi-gigante. Ela logo lhe diria: “Tu mesmo és Saul”. E antes contara a ele o que Saul havia feito com os adivinhadores e do castigo a que estavam sujeitos. Quando o visitante lhe garantira que nada sofreria, a pitonisa sabia que tinha a garantia do próprio Saul.
Assim Samuel subiu, mas, apenas na fala da pitonisa. Até o fim ela teria de fazer o seu jogo, para evitar que Saul desconfiasse.
Se a bruxa houvesse acreditado que o “aparecido” era realmente Samuel, ela é que teria medo, pois o profeta era intransigente no que concernia às feiticeiras.
“Que é que vês?”, perguntou Saul. Notemos que ele não via nada. A feiticeira é que via ou dizia ver. “Vejo deuses que sobem da terra”. Deuses (espíritos). Note-se que eram muitos. O pedido foi que viesse um, e vieram muitos. Se, por uma exceção Deus tivesse deixado sair o espírito de Samuel, permitiria que saíssem muitos?
Saul perguntou à feiticeira como era a figura do espírito. Ela respondeu “Vem subindo um homem ancião, e está envolto numa capa”. É lógico que sabendo ser Saul o seu consulente, a pitonisa deduziu querer ele falar a Samuel e, assim, descreveu-lhe a popular figura de Samuel. Apesar de sabermos que os demônios assumem a forma de seres humanos que morreram não se pode afirmar se a pitonisa via realmente uma figura que parecia Samuel ou se apenas dizia que via para contentar Saul. “Saul entendeu, então que era Samuel”, mas Saul nada viu. Ele se firmava no que dizia a pitonisa!
Acreditar que foi realmente o espírito de Samuel que apareceu seria crer no absurdo, isto é, seria acreditar que Deus se tenha negado a responder a Saul por meios bíblicos: sonho, Urim, profeta, para responder-lhe por meio de uma feiticeira. Deus não pode violar a sua própria palavra. Se Deus não lhe respondeu por estes meios legítimos e bíblicos, muito menos, podia responder por um meio abominável e condenável pelo próprio Deus tantas vezes nas Escrituras. Deus não pode violar a sua própria palavra. Se não respondeu a Saul, através do Espírito Santo, como poderia responder através do Diabo?
18 – Ninguém pode inquietar o descanso dos santos
Está claro na Bíblia que o desejo de Saul era falar com “um espírito de adivinhação”, ou seja, com um demônio. Se ele queria um demônio, teria Deus lhe enviado um santo?! Isso seria um absurdo.
“E inclinando o rosto em terra, fez grande reverência.” O Saul soberbo, rebelde, endemoninhado e assassino nunca prostrou seu rosto em terra, diante de Deus nem de Samuel quando este vivia; agora se prostra diante de um espírito que ele imaginava ser Samuel! “E Samuel disse: Por que me desinquietaste, fazendo-me subir?” A voz que Saul ouvia, tinha a tonalidade da de Samuel, mas era imitada pelo espírito de adivinhação, através das cordas vocais da médium.
“Fazendo-me subir”. Se quando Samuel vivia, Saul não conseguiu submetê-lo aos seus caprichos, como poderia fazê-lo subir depois de morto? Ademais, permitiria Deus fosse interrompido o repouso do espírito de um de seus mais dignos e ilustres santos, para que viesse falar através dos lábios de uma bruxa instrumento de demônios, e para um ímpio, rebelde, assassino e impenitente como era Saul?!
Não, Deus não poderia permitir isso. Ninguém pode inquietar os santos do Senhor que descansam. Ninguém pode fazer vir a este mundo os espíritos dos que partem para a eternidade, estejam onde estiverem. Jesus citou as palavras de Abraão: “Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos… Se não ouvem a Moisés e os profetas (as Escrituras e aos pregadores), tampouco acreditarão ainda que algum dos mortos ressuscite”, Lc 16.19-31. Ainda que alguém se levantasse dos mortos com um corpo ressuscitado, tangível, visível, como se levantou e ressuscitou o Senhor Jesus Cristo, e como ressuscitarão as duas testemunhas (Ap 11.9-12), não acreditarão; muito menos, haverão de crer ou se arrepender, se o que lhes fala é um espírito invisível.
“E Samuel disse a Saul”. Do modo como está no texto pensam alguns que talvez tivesse sido Samuel mesmo que apareceu. Porém, como já temos dito a Bíblia não dá testemunho, nem afirma que foi Samuel. O papel da Bíblia neste caso é referir o incidente, fazendo o relato conforme a feiticeira descrevia a Saul, que o aceitava totalmente.
O que Saul procurou foi “um espírito de feiticeira ou de adivinhação” e exatamente isso ele teve. Era um espírito que falava através da médium e, através de médiuns falam os demônios ainda hoje, imitando a voz das pessoas falecidas.
Saul disse ao que se dizia Samuel e estava incorporado à bruxa: “Deus se afastou de mim, e não me responde mais, nem por meio de profetas nem por sonhos”.
Se Deus não respondia a Saul por meios lícitos, claro que não estava respondendo por esse meio sacrílego. É lógico, pois, que aquilo não era de Deus, nem era Samuel que falava.
“Chamei a ti”. Saul pretendia colocar Samuel acima de Deus. Queria ter acesso a Samuel para marginalizar a Deus; esperava estabelecer um conflito entre Deus e Samuel como se Samuel se submetesse a isso. A verdade é que ninguém poderia, e Deus não faria, o espírito de Samuel aparecer numa sessão espírita.
19- Samuel não apareceu a Saul
Logicamente, biblicamente e doutrinariamente, não poderia “subir” o espírito de Samuel, por um ridículo chamado de uma feiticeira. Isso seria a negação de tudo que a Bíblia ensina de Gênesis a Apocalipse. Seria tirar o poder de Deus reter junto a si os espíritos dos salvos, e dar um poder divino às pitonisas. Seria, sim, passar um atestado de ratificação às doutrinas espíritas. Crer nesse absurdo de ter sido Samuel deslocado de junto a glória por determinação de uma feiticeira é, na verdade, ofender a Deus.
Mas, como Saul queria Samuel de qualquer maneira, mesmo através de “um espírito de feiticeira”, o Diabo lhe produziu um “Samuel”, o Samuel da feiticeira. As palavras do Samuel incorporado na bruxa destinavam-se a desesperar Saul, a perturbá-lo mais ainda, a conduzi-lo a decisões fatais. O Diabo primeiro age como tentador e, quando consegue dominar sua vítima, então se converte em atormentador. Ademais, tudo o que o espírito de adivinhação falou, com respeito a Saul e ao reino, Deus já havia falado. De novidade o espírito de feiticeira disse que Israel perderia a guerra com os filisteus. Mas isto era óbvio. A desorganização de Israel era total, e ameaçava o reino. Os filisteus sabiam muito bem da condição emocional, desordenada e enlouquecida de Saul, e sabiam também que o grande herói Davi não se encontrava em Israel. Por tudo isso estavam certos da vitória. Nem mesmo a pitonisa ignorava a próxima derrota de Saul, e podia muito bem descrevê-la como fez. Também a frase: “Amanhã tu estarás comigo”, foi uma referência à morte de Saul, que era bem provável, porque no dia seguinte começaria a guerra e o demônio sabia disso.
Ao dizer “estarás comigo” o espírito de feitiçaria estava revelando o destino de Saul. Samuel mesmo não teria dito a Saul: “estarás comigo”, pois Saul era rebelde e ímpio. O espírito de Samuel estava no lugar dos justos, e o espírito de Saul lá não poderia entrar. Jesus disse que há um grande abismo entre esses dois lugares.
20 – Para que acreditem na mentira
Em 2 Tessalonicenses 2.10-12, lemos: “E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam na mentira, para que sejam julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade”.
Estes versículos nos ensinam que aqueles que não querem receber a verdade para se salvarem são acometidos de espíritos maus com todo engano da injustiça para os que perecem; esse Deus permite que sejam enganados. Este era o triste e lamentável estado de Saul! Rejeitou tanto a verdade, desobedeceu tanto, fez tanto a sua própria vontade, que Deus teve de abandoná-lo. Abandonado de Deus, o Diabo passou a dirigir-lhe a vida.
Cento e cinqüenta e cinco anos depois, aconteceu o mesmo ao rei Acabe de Israel l Rs 22.1-39. Ele não queria escutar as profecias de Elias e de Miquéias, servos de Deus, nem deixar-se guiar por elas. Antes tinha quatrocentos profetas de Baal a quem consultava. Acabe rejeitara a verdade e crera na mentira! Por causa da sua rebeldia, Deus permitiu que um espírito de mentira falasse pela boca de todos os seus profetas. Devemos notar, porém, que esses espíritos diabólicos falam em nome de Deus: “Então o rei de Israel reuniu os profetas, cerca de quatrocentos homens, aos quais interrogou: “Irei à guerra contra Ramote de Gileade ou não irei? Eles disseram: Sobe porque o Senhor a entregará na mão do rei… Assim diz o Senhor; com estes ferir ás os sírios, até de todo os consumires. E “todos os profetas assim disseram: Sobe a Ramote de Gileade, e prosperarás, porque o Senhor a entregará na mão do rei.” Esta mensagem agradou muito a Acabe, porque esses profetas profetizavam em nome do Senhor, embora só falassem mentiras. Miquéias só queria falar a verdade e disse: “Vive o Senhor que o que o Senhor me disser isso falarei: Vi a todo Israel disperso pelos montes, como ovelhas que não têm pastor: e disse o Senhor; estes não têm pastor: torne cada um em paz para sua casa. Isso queria dizer que não fossem à guerra.”
Acabe ficou aborrecido com esta mensagem, porque quatrocentos profetas profetizavam o que ele gostava. Miquéias o advertiu de que havia “um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas”, mas Acabe não fez caso disso. Acabe encarcerou Miquéias e partiu para a guerra contra Ramote de Gileade, mas foi logo ferido e morreu. Visto que rejeitara a verdade continuamente, e crera na mentira dos quatrocentos falsos profetas, pereceu como acontecera a Saul. Acabe recebeu a recompensa que ele próprio buscara, e que bem merecia.
21 – A morte de Saul
“O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, será quebrantado de repente, sem que haja cura”, Pv 29.1. Eis aqui o triste fim de um homem que endureceu sua cerviz contra a Palavra de Deus: “Os filisteus, pois, pelejaram contra Israel; e os homens de Israel fugiram de diante dos filisteus, e caíram atravessados na montanha de Gilboa; e os filisteus mataram a Jônatas, e a Abinadabe e a Malquisua, filhos de Saul. E a peleja se agravou contra Saul, e os flecheiros o alcançaram; e muito temeu por causa dos flecheiros. Então disse Saul ao seu pajem de armas: Arranca a tua espada, e atravessa-me com ela, para que porventura não venham estes incircuncisos, e me atravessem e escarneçam de mim. Porém o seu pagem de armas, e também todos os seus homens morreram juntamente naquele dia… E cortaram-lhe a cabeça, e o despojaram das suas armas… e o seu corpo o afixaram no muro, l Sm 31.1-4,6,9,10!
Saul suicidou-se; morreu tal qual viveu: violando a Palavra de Deus. Estava escrito: “Não matarás!”
Eis a explicação da Palavra de Deus: “Assim morreu Saul por causa da sua transgressão com que transgrediu contra o Senhor, por causa da palavra do Senhor, a qual não havia guardado; e também porque buscou a adivinhadora para consultá-la. E não buscou ao Senhor, pelo que o matou, e transferiu o reino a Davi, filho de Jessé”.
Observe-se a expressão: “Deus o matou”! Observe também a causa pela qual o matou: “porque consultou uma adivinhadora”.
Observe-se, finalmente, que não se diz haver Saul consultado Samuel, o que se teria de afirmar se, realmente, tivesse sido Samuel o personagem que apareceu a Saul.
Não se pode crer que Deus tivesse permitido que o desejo de Saul de consultar Samuel fosse satisfeito (Saul queria realmente consultar Samuel, pois disse à pitonisa: “Faze-me subir a Samuel”), para depois afirmar na sua palavra que matou Saul por ter este consultado uma adivinhadora”.
Examinando minuciosamente todo o registro bíblico concernente a Saul, como temos feito, e conforme a abundante evidência bíblica exposta podemos concluir que não foi o espírito de Samuel que falou por intermédio da pitonisa, mas sim, “um espírito de adivinhação”.
concordo com o que foi dito e fico admirado de pessoas que se dizem evangelicas com um total desconhecimento da palavra ou por uma má interpretaçao .( nao quero julgar.a ninguem) tentarem validar a tese de que Samuel falou com Saul.Estes mesmos entao terao que validar o espiritismo como sendo algo de Deus e aceitarem as sessoes espiritas como canal de comunicaçao de Deus com os homens e colocarem a Bíblia como mentirosa e confusa. E é isso que o Diabo quer mesmo a confusao no meio do povo de Deus. Mas a Palavra de Deus nao volta vazia e Deus náo é Deus de confusâo..E conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará, a Verdade do Deus da Bíblia
Parabéns, belo estudo, muito enriquecedor.